23 de Agosto de 2023

Mãe de quadrigemeos prematuros

Em 10 de maio de 2013, no dia do meu aniversário, meus quadrigêmeos escolheram nascer nas primeiras horas do meu dia, eles foram meus bebês arco-íris, dois anos antes tive uma perda gestacional justamente no dia do meu aniversário. Apesar de ter a certeza de que meus bebês nasceriam prematuros por conta da gestação múltipla, procurei buscar informações na época através de sites, na tentativa de me familiarizar com aquela realidade que em breve eu vivenciaria. Claro que não fazia a menor ideia da montanha russa de emoções que viveria com aquela experiência. Estava internada fazia 13 dias aguardando o melhor momento para chegada deles. 3 univitelinos e um fraterno, todos meninos. Entre a 1ª alta e a última foram 58 dias como mãe de UTI Neo. Confesso que minha fé, maturidade emocional e o fato de ter de alguma forma me preparado para vivenciar aquela experiência, me preparou de alguma forma para lidar com tudo aquilo de forma mais leve. Ao contrário de muitas mães ali, canalizei todos os pensamentos positivos para cada encontro com meus filhos e sempre estive muito confiante de todos os processos enfrentados ali… inclusive por diversas vezes acolhi outras mães naquela UTI.

O fato de ser psicóloga e estar com 4 bebês prematuros acabava sendo inspiração e fortalecendo muitas mães que enfrentavam seus desafios com seus bebês naquela mesma unidade. Éramos uma rede de apoio umas às outras. Decidi fazer um diário de bordo de cada dia naquela UTI com anotações de ganhos e perdas de peso, quantidade de ml de leite tomados e das conquistas garantidas a cada dia. Isso me fez muito bem, porque da forma que me era possível eu estava registrando aquele capítulo da nossa história. As pontinhas dos meus dedos esterilizados com álcool gel, muitas vezes frios pela temperatura daquele lugar, embalados por aquele clássico som da UTI, eram para mim recarga de amor e calor, e ali eu me entregava por todo o dia me distribuindo em cada incubadora, enquanto conversava com cada um deles, acariciava como era possível já que nem sempre pegar no colo era possível, partilhava tudo que sonhava, planejava e estava lá fora esperando por eles. Com 6 dias de vida um dos quadrigêmeos precisou fazer uma cirurgia de urgência por conta da Enterocolite Necrosante e por certo ele foi o maior desafio de cuidados por muito tempo. Inclusive em outros momentos da sua vida precisou ser internado e passou outros dias na UTI ao longo desses 10 anos de vida. A gente até pensa que ao sair da UTI, receberemos alta da prematuridade, mas por alguns meses ainda precisamos lidar com a idade de nascimento X a idade corrigida. Os marcos de desenvolvimento nem sempre acompanham como os de bebês a termo. Sem falar em todos os cuidados com fisioterapia, idas ao pediatra, neuro, oftalmo… que passam a ser mais frequentes que o habitual, já que bebês prematuros requerem maiores cuidados.

Foram muitos medos, desafios e inseguranças mas no embalo da fé e amor a gente vai conduzindo da forma que damos conta, tendo ou não, uma rede de apoio. Hoje com 10 anos olho para trás e confesso que muitas vezes me pego a pensar: como dei conta… como superei! E para mim a única resposta é a entrega e amor! Nós mães de UTI somos presenteadas pela vida através de uma força inimaginável, aprendemos a dar muito mais valor ao tempo e as conquistas e percebemos que não temos o controle como muitas vezes imaginávamos. Aprendemos a lidar com a frustração, à espera, adiamos planos. O tempo do pegar no colo, dar mamá, vestir uma roupinha, dar banho… precisam ser esperados e muitas vezes parece ser uma eterna espera… E nesses aprendizados nos fortalecemos e sem sombra de dúvidas nos tornamos pessoas muito mais resilientes para enfrentar toda e qualquer adversidade que a vida venha nos apresentar! Sou mãe de 6 filhos e convido você a conhecer a nossa divertida e desafiadora rotina!