22 de Agosto de 2013
Júlia Vitória e sua luta pela vida
“Vamos começar... Acho que o sonho de toda mulher é ser mãe e o meu não foi diferente. Resolvi engravidar cedo, aos 16 anos. Quando havia desistido, finalmente engravidei, foi um sonho que virou realidade. Fiz todas as ultras que os médicos pediam, tomava os remédios direito e fazia tudo como deve ser.
Quando cheguei ao 5o mês, comecei com um sangramento. Imediatamente fui ao médico e, chegando lá, ele falou que estava tudo bem e que era um esforço que estava fazendo. Fiz uma ultra e tudo bem, mas o sangramento continuou. Fui em outro médico que, imediatamente, me internou, pois eu estava perdendo líquido. Fiquei internada 7 dias, sendo os últimos 3 com muitas contrações. No dia 21/05/2012, a médica me chamou e falou que teria que fazer uma cesárea, porque meu bebê estava entrando em sofrimento fetal. Eu estava com 28 semanas certas, então perguntei a ela: ‘doutora, qual a chance do meu bebê sobreviver’? Ela, seca, me olhou e respondeu: ‘10%, por ser uma criança muito prematura’.
Em momento nenhum chorei, porque sabia que iria dar tudo certo. Fui transferida para um hospital em Niterói/RJ. Cheguei lá com 4 de dilatação, mas confiante em deus. Minha mãe, desesperada, ficou ao meu lado o parto todo. Enfim, Júlia Vitória nasceu às 23h59min da noite. Olhei para minha mãe e pedi para chamar o pai dela, ainda não sabíamos a notícia que iria mudar nossas vidas completamente.
O pai entrou e foi vê-la. A equipe médica estava colocando os aparelhos para levá-la para a UTI. Ele foi até lá e voltou chorando. Olhei bem para ele e perguntei: ‘por que você está chorando’? Ele olhou para mim e baixou a cabeça. Então perguntei a ele o que estava acontecendo, e ele falou: ‘nossa filha é deficiente’.
Não sabia o que estava acontecendo, só queria ver minha filha. Chamei o médico e perguntei se minha filha estava viva. Ele respondeu que sim e então eu disse: ‘é o que importa’. Saí da sala sem entender nada. Depois de alguns minutos, pedi para minha mãe me levar até minha filha. Quando cheguei lá, vi que minha filha tinha nascido sem o pé direito e com lábio leporino, mas isso não me abalou em nada, só queria que minha filha sobrevivesse.
Independente de como nasceu, ela estava muito debilitada. O médico falou à minha mãe que não sabia se ela iria viver! Fui para o quarto, me ajoelhei e falei com Deus: ‘Senhor, o Senhor me deu uma criança especial porque sabe que eu tenho capacidade de criá-la, se for da sua vontade, deixa minha filha sobreviver. Irei cuidar dela, eu quero cuidar’! No outro dia, o médico voltou de manhã bem cedinho, olhou para mim e falou: ‘mãezinha, sua filha já está respirando sozinha. Não sei como, mas ela é um milagre’. Olhei para ele e sorri.
Depois de 4 dias, tive que deixá-la e ir para casa. Não queria ficar longe do meu bebê, mas tinha que ficar, não tinha lugar na UTI. Foi um dos dias mais tristes, ir embora e deixar meu bebê, mas eu ia quase todos os dias vê-la. Da minha casa até o hospital, eram 2 horas e meia de ônibus, mas mesmo assim eu ia, olhava para aquela coisinha tão pequena querendo viver, pedindo para viver. Eu ficava ali ao lado dela todo o tempo. A cada melhora era uma alegria para todos.
E assim ela foi crescendo, ganhando peso e ficando mais esperta. Todos da UTI cuidavam dela com o maior carinho e amor. Via todas as mães indo embora com seus bebês e pensava quando seria a minha vez. Depois de 2 meses, o grande dia chegou, minha filha finalmente foi embora. Aquele serzinho que lutou para viver e que, com suas necessidades, se fez vencedora.
Hoje, com 1 aninho, já fez 3 cirurgias, colocou a prótese e, a cada dia, surpreende a todos que a cercam. Uma criança normal, sem seqüelas da prematuridade, que vive como uma criança normal, afinal de contas, ela é normal. Apenas Deus a mandou diferente.
Agradeço todos os dias a Deus por ter me dado o maior de todos os presentes desse mundo: o dom de ser mãe. Esse texto é uma parte de tudo que vivemos e, hoje, vejo que tudo valeu a pena e passaria novamente por tudo se fosse necessário.”
Graziele, mãe da Júlia Vitória