A Anvisa liberou neste domingo (17) duas vacinas para uso emergencial no Brasil: a Coronavac — desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a Sinovac, na China — e a da Oxford — desenvolvida pela Fiocruz e o laboratório AstraZeneca. Mas a liberação foi "condicionada ao monitoramento das incertezas e reavaliação periódica", ponderou. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária justificou a aprovação por conta do "cenário da pandemia, aumento do número de casos e ausência de alternativas terapêuticas".
O pedido do Instituto Butantan é referente a 6 milhões de doses. Já o pedido da Fiocruz é referente a 2 milhões de doses importadas do laboratório Serum, da Índia, que produz a vacina de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca. A Fiocruz também desenvolve a vacina no Brasil.
A expectativa é de que pelo menos a Coronavac já comece a ser aplicada nesta semana, iniciando por idosos com mais de 75 anos e profissionais da saúde, já que a autorização emergencial de uso permite a imunização apenas em grupos pré-definidos nos estudos entregues à Anvisa. Já para populações de crianças, adolescentes, gestantes e indivíduos imunossuprimidos, a Agência informou que "não foram demonstradas a eficácia ou segurança, visto que não foram incluídos na avaliação clínica".
Em entrevista à CRESCER, o pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirmou: "Como não há dados, as vacinas não são recomendadas para crianças e adolescentes". No entanto, segundo ele, o mesmo não vale para gestantes e lactantes, isto é, mulheres que estão amamentando. "Elas entram em uma categoria chamada B, que não é de contra-indicação, mas de precaução", explicou.
"Em relação à Coronavac, por exemplo, como se trata de uma vacina inativada, sem riscos teóricos, apesar de não ter estudos, não contra-indicamos para gestantes. Essa questão deve ser colocada na bula. Vamos poder vacinar grávidas, desde que haja orientação médica", explicou Kfouri. Segundo o infectologista, o mesmo vale para a vacina da Oxford. "São composições diferentes, mas, para gestantes, lactentes, crianças e adolescentes são as mesmas recomendações", afirmou.
Segundo ele, é improvável que as crianças sejam vacinadas em 2021. “Os primeiros grupos a serem vacinados são os que têm mais risco de complicações e estudos comprovam que os mais novos estão na faixa etária que lida melhor com a doença”, diz Kfouri. “Por isso, aguardar por uma vacina da covid-19 para a volta às aulas, por exemplo, é um enorme equívoco”, completou. Por enquanto, nenhuma vacina contra a covid-19 teve a eficácia comprovada em crianças.
Com a decisão da Anvisa, as vacinas de Oxford e a Coronavac poderão ser aplicadas em grupos específicos a partir do momento que os laboratórios produtores forem comunicados da decisão.
PRÓXIMOS TESTES
O Instituto Butantan realizou testes apenas em maiores de 18 anos, mas, na China, crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos começarão a participar dos testes em breve, de acordo com nota divulgada pela Sinovac. Em coletiva de imprensa realizada na terça-feira (12/1), o diretor do Instituto, Dimas Covas, anunciou que as grávidas, que estão no terceiro trimestre, crianças e jovens serão incluídos nos estudos para avaliar a eficácia da vacina contra a Covid-19.
No entanto, não foi revelado quando o estudo começará, apenas que serão em torno de 500 voluntárias gestantes no estudo Matercov. O número de crianças não foi divulgado. A AstraZeneca informou que também incluirá em breve nos testes crianças entre cinco e 12 anos.
Fonte: Revista Crescer (notícia original publicada em 17/01/21).