Notícia original publicada em 06 de maio de 2014.
Tatiane Santos
Do G1 em Mogi das Cruzes e Suzano
O Dia das Mães de Jéssica Marzola terá um significado especial neste ano. Esta vai ser a primeira vez que os dois vão comemorar a data juntos, em casa. Francisco nasceu [prematuro] de sete meses em setembro de 2012, com gastrosquise - uma má-formação congênita caracterizada por defeito na formação da parede abdominal, que faz com que o intestino do bebê fique para fora do corpo. Desde então, a luta do pequeno pela sobrevivência tem sido grande. Ele já foi internado em três hospitais e só voltou para casa em Mogi das Cruzes (SP) em setembro do ano passado, na semana em que completaria um ano de idade.
[caption id="attachment_13871" align="aligncenter" width="620" caption="Com quatro meses, Francisco recebe carinho da mãe em hospital de São Paulo. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
Em entrevista ao G1, a mãe explicou que soube no terceiro mês de gestação que a criança tinha a má-formação. O parto foi feito em um hospital de São José dos Campos, com estrutura para atender recém-nascidos com o intestino exposto.
[caption id="attachment_13872" align="alignright" width="300" caption="Despedida de Francisco em sua 1ª alta, com quase um ano de idade. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
Jéssica, porém, disse que o problema do bebê se agravou porque não houve como aproveitar o órgão, já que a parte exposta necrosou. Diante disso, ele teve a síndrome do intestino curto. Com apenas quatro horas de vida, Francisco precisou fazer a primeira cirurgia.
Por muito tempo ele ficou com o crescimento congelado. Tinha 50 cm e apenas 3 kg. “Até os três meses de vida ele rejeitava o meu leite e só se alimentava de uma fórmula especial. Foi muito desgastante, ele sentia fome, eu tinha leite, mas não podia dar”, conta a mãe, que doou o seu leite durante dois meses.
[caption id="attachment_13873" align="alignleft" width="300" caption="Pais acompanharam as superações de Francisco de perto, no hospital. Nesta foto com 6 meses. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
A situação da criança ficou ainda mais dramática quando Francisco completou três meses. Na época, ele estava internado em um hospital de Mogi das Cruzes. Segundo a mãe, o bebê teve várias complicações, como infecção generalizada, falência hepática e nos rins. “Os médicos me disseram que meu filho ia morrer e me alertaram para que eu chamasse a família para se despedir dele”. Ela diz que depois disso arriscou tudo e o transferiu para um hospital de São Paulo. “Arriscamos e mais uma vez ele superou”, relata a mãe.
Nesta nova jornada, com oito meses, Francisco passou pela segunda cirurgia para alongar um pouco mais o intestino, uma cirurgia considerada delicada e de alto risco. Jéssica conta que depois desta fase ele passou a aceitar mais o leite e a vitamina especial que precisa ingerir todas as noites até os dias de hoje. “De lá para cá ele engordou um pouquinho, mas ainda é bem menor do que as outras crianças, ele tem o tamanho de um bebê de seis meses.”
[caption id="attachment_13874" align="alignleft" width="300" caption="Francisco em festinha organizada para ele no hospital. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
A primeira alta do menino, em setembro do ano passado, durou apenas 15 dias. “Teve que internar novamente, porque como ele tem cateter, a imunidade é sempre baixa. Ele teve infecção e febre”, explica Jéssica. Depois disso, Francisco recebeu uma nova alta em dezembro e conseguiu passar o Natal em casa, mas não o Reveillón. "Passamos a virada do ano no hospital", relembra.
De lá para cá, Francisco teve várias recaídas. Em janeiro sofreu parada cardíaca e convulsão. Novamente superou e voltou para casa. No fim de fevereiro, ele voltou a ser internado com algumas complicações. Porém, sem nenhuma sequela dos problemas enfrentados. Está melhor e em casa novamente há cerca de 15 dias. Agora Francisco continua recebendo todos os tratamentos em casa.
A mãe
O nascimento de Francisco também fez de Jéssica uma nova mulher: uma mãe forte e corajosa. Com apenas 22 anos, deixou para trás os estudos e o trabalho para se dedicar integralmente ao filho. “É difícil voltar pra casa sem o seu bebê. Sentia dores no seios, chorava durante as madrugadas, foi a pior fase da minha vida." Mas quando Jéssica olha para trás, percebe de onde tirou forças para enfrentar todos os desafios. "Por muitas vezes quando eu estava triste, Francisco percebia e me dava carinho mesmo debilitado. Cada sorriso dele, cada carinho, fazem os sentimentos ruins irem embora na hora. É incrível a nossa cumplicidade", revela.
[caption id="attachment_13875" align="alignright" width="300" caption="A mãe conta que, apesar de debilitado, Francisco lhe dava força nos momentos de tristeza. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
Com a ajuda da família, principalmente da mãe e da sogra, ela ficou o tempo todo com ele durante as internações. Jéssica sempre acompanhou de perto a luta de Francisco pela vida. “Eu fiz um treinamento no hospital e hoje eu mesma faço tudo pra ele em casa. Meu filho só recebe tratamento especial de enfermeiros durante as noites e madrugadas, porque é obrigatório”.
Para ela e também para os especialistas que cuidam do bebê, a proximidade é essencial. “O médico e eu sentimos que com esse novo método, recebendo de mim a maioria dos cuidados, ele está progredindo muito melhor”, se orgulha.
[caption id="attachment_13876" align="alignright" width="300" caption="Francisco não teve mais recaídas e está em casa há mais de 15 dias. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
Hoje com 65 cm e 5,4 kg, Francisco começa a dar grandes sinais de evolução. “Meu filho cresceu. Agora ele brinca, interage. Antes era muito chorão, sentia medo das pessoas por causa de trauma dos hospitais. A carinha dele está totalmente diferente”, conta a mãe. Ela diz que isso também é resultado dos primeiros passeios que agora pode fazer. “Quero mostrar o mundo pra ele, mas infelizmente tem que ser aos poucos. Fazemos pequenos passeios até para que as pessoas o conheçam, já que não podemos receber visitas pela sua fragilidade.”
A vida agora não só de Francisco, mas de toda a família, começa aos poucos a ficar mais tranquila. Francisco deve passar por mais uma cirurgia aos 3 anos de idade, para que possa ter uma vida normal. As vitórias diante de tantas lutas garantem a Jéssica um Dia das Mães mais que especial. “Graças a Deus este ano ele está em casa. Foi um milagre ter passado por tudo isso. Neste dia eu espero ficar em casa com o meu maior presente, junto com a minha família e não só nos dias das mães, mas em todas as outras datas. Em casa, ele fica muito mais feliz!”.
[caption id="attachment_13877" align="aligncenter" width="620" caption="Em abril, Francisco comemora a Páscoa com a família em casa. (Foto: Jéssica Marzola/Arquivo Pessoal)"][/caption]
Fonte: G1