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03.02.2017

Os primeiros traços do milagre

Essa é a primeira ‘obra de arte’ da minha guerreirinha e como tudo o que cerca a vida dela e a de qualquer prematuro extremo, é mais um grande feito comemorado com fogos de artifício por nós.

Laís não apenas venceu os 80 dias de internação, como tem se desenvolvido muito bem mesmo diante de todas as dificuldades que são comuns a uma bebê que nasce nas condições em que ela nasceu ou que já nasceu perdendo o jogo e com a missão de pelo menos empatá-lo.

Andar, falar, sorrir, se alimentar, se equilibrar, brincar, prender a atenção, raciocinar, ter noção de espaço, enfim… tudo é mais dificultoso para minha filha e, embora saibamos que essa ‘lentidão’ faz parte do processo e que aos poucos tudo vai se encaixar, é inevitável bater aquela angustiazinha quando se pensa no futuro dela, sabe?

Será que tudo vai dar certo? Será que vai se desenvolver bem? Será que vai sofrer na escolinha? Será que vão ter paciência para ensiná-la a viver como eu tenho? Será que ela será vítima de bullying por causa do estrabismo?
Poxa… não quero que ela sofra mais que o necessário… será, Deus, que já não foi o bastante?

Coisas que são consideradas bobas e comuns para alguns, para nós é sinônimo de vitória. Cada passo é uma nova descoberta, e a cada descoberta eu olho para ela e ela olha para mim com ambos sorrindo e se ajudando a melhorar dia a dia.
Eu a ensinando nas coisas básicas, como bater palminhas, e ela me ensinando coisas básicas, como tentar ser uma pessoa melhor a cada dia.

Minha bebê é canhotinha e para orgulho de seu papai babão e bocoió, já aprendeu segurar o lápis com a titia Vivi, que é sua segunda mãe.

Já há algumas semanas eu vinha tentando que ela rabiscasse algo, mas, tudo em vão, pois ela jogava tudo no chão, virava às costas e ia ver a Peppa.
Minha princesa não conseguia se concentrar e muito menos associar o papel com o lápis. Mesmo segurando em sua mãozinha nada se imprimia na folha, que terminava a tentativa sempre em branco…

O tempo vai passando e vai batendo aquela coisinha estranha aqui dentro, entende?
Poxa, será que vai demorar para ela aprender a pintar como todas as crianças?
Poxa, eu queria tanto que ela viesse com um papelzinho rabiscado com aquele ar de ‘não ficou lindo, papai?”
Poxa, eu só queria viver o que todos os pais vivem…

No último dia 02 cheguei do trabalho muito cansado, mas apesar disso, sempre disposto a colocá-la no colo em formato de canguru para dar uma voltinha no hall do prédio.
Nessa mesma noite, a titia Vivi veio me mostrar este desenho aí do post e depois me enviou o vídeo em que a Laís rabisca sozinha no papel, feliz da vida, sem ninguém segurando suas mãozinhas.

Se eu fiquei orgulhoso? Se eu ri sozinho depois? Se eu agradeci a Deus pela resposta? Se eu aprendi que ela é surpreendente e eu que sou um desesperado?

Sim, tudo isso – e muito mais. Te amo.

*** Ah, ela quem aprendeu, mas quem é o aluno sou eu… sempre!

Artista: Laís Guifer
Obra: Primeiros traços…
Data: 02.02.2016

por Fernando Guifer, jornalista e pai da prematurinha Laís (FernandoGuifer.com.br)

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