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06.02.2024

O que é o VSR, vírus que fez internação de bebês disparar

Casos estão se expandido de forma atípica e podem pressionar UTIs pediátricas no país, segundo Fiocruz. Ainda não há tratamento específico com antiviral nem vacinas contra infecção.

Pelo menos 15 estados brasileiros apresentam aumento expressivo no número de novas internações de crianças pelo VSR – vírus sincicial respiratório. Bebês com menos de 1 ano são os atingidos com maior gravidade. Por causa da demanda, os estados podem ter problemas no atendimento às crianças, com falta de UTIs pediátricas.

O alerta é da Fiocruz, que monitora os números do Ministério da Saúde sobre doenças respiratórias no Boletim Infogripe . De acordo com o estudo, o vírus já é o segundo principal causador de Síndrome Respiratória Aguda Grave – perde apenas para o sars-cov-2, que causa a covid-19.

Neste texto, o Nexo explica o que é o VSR, por que ele está prevalecendo na maior parte do país antes do previsto e de que forma afeta a saúde dos bebês.

O que é o VSR e o que causa

O VSR, ou vírus sincicial respiratório, já circula há décadas no mundo. Segundo o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, que monitora casos de doenças respiratórias no Brasil, historicamente, o VSR sempre esteve ligado a um número expressivo de internações de bebês com até 1 ano.

O vírus é o causador, em crianças, de doenças como a pneumonia e a bronquiolite, uma infecção nos bronquíolos do bebê. “É extremamente problemático em crianças, bebês e recém-nascidos, principalmente se são prematuros. É a principal causa de óbito de crianças no mundo”, disse ao Nexo o pediatra e infectologista Marcelo Otsuka, responsável pelo serviço de infectologia do Hospital Infantil Darcy Vargas, de São Paulo, e coordenador do comitê de infectologia pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia.

36,2% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave entre março e abril ocorreram por causa do VSR, segundo a Fiocruz

A bronquiolite evolui de um simples resfriado para a dificuldade respiratória – no exame clínico feito pelo pediatra, a sibilância é o que costuma determinar o quadro. O pico da doença costuma ocorrer entre 5 e 7 dias após o início dos sintomas.

O teste para detectar o VSR é realizado com um kit chamado quadriplex. A testagem é necessária apenas quando há internação da criança, para abastecimento de dados da vigilância sanitária – saber se o vírus é o causador ou não da bronquiolite ou pneumonia não impacta o tratamento.

Em adultos, a infecção pelo VSR costuma ser assintomática ou semelhante a um resfriado. Em bebês, a complicação se dá pelo fato de o aparelho respiratório ainda não estar totalmente formado. “Quanto menor o calibre da via aérea, maior a resistência da passagem do ar”, exemplifica Otsuka. Por isso, em muitos casos é necessária a internação do bebê em UTI pediátrica, para uso de ventilação mecânica, por exemplo.

De acordo com Otsuka, a transmissão ocorre em geral no período de uma semana, pelo contato com secreções – por isso os bebês são mais suscetíveis, pois precisam ser manipulados para alimentação, higiene e cuidados. O infectologista explica que a transmissibilidade do VSR também ocorre por via aérea, mas é menos importante do que nos casos de influenza e sars-cov-2.

A sazonalidade do vírus e a hospitalização

Segundo Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, a sazonalidade do VSR no Brasil está bagunçada – assim como os demais vírus respiratórios – por causa da covid-19. Com o avanço da vacinação contra a doença, o afrouxamento de medidas como isolamento social e uso de máscaras, os vírus respiratórios que ficaram menos incidentes entre 2020 e 2022 voltaram a circular.

3.300 infecções por VSR ocorreram no Brasil entre janeiro e março de 2023. Dessas, 95% atingiram bebês e crianças entre 0 e 4 anos

O pico do VSR costumava ocorrer próximo do inverno. Em abril, os casos começam a subir. Em 2023, os números aumentaram a partir do final de fevereiro, e há possibilidade de picos em outras estações com menor prevalência de doenças respiratórias, como o verão, de acordo com Gomes.

“Esperamos que os vírus respiratórios típicos voltem a ter o mesmo padrão de antes da pandemia. Por enquanto, a sazonalidade está desregulada”, disse Gomes ao Nexo . Em geral, as ondas duram cerca de três meses, com auge no segundo mês. Mas os ciclos podem variar.

Isso impacta, explica Gomes, na organização da rede hospitalar, que costuma se organizar previamente com insumos para lidar com as manifestações clínicas. “Se há um aumento do sincicial, é automática a maior necessidade de internação pediátrica. Por isso, é preciso ter leito de UTI. Quando os hospitais sabem desses aumentos de casos previamente, conseguem reativar e remanejar leitos com menor custo”, falou Gomes ao Nexo .

Por isso, o Infogripe alerta para o risco de UTIs lotadas – em Mato Grosso, um bebê indígena e uma criança de 9 anos morreram no dia 27 de março à espera de um leito pediátrico; ambas estavam com dengue e sinais de desnutrição. Na data, outras 32 crianças aguardavam uma vaga na UTI. Em março, a secretaria de Saúde do estado anunciou a abertura de pelo menos mais 30 leitos , pela demanda em decorrência da alta de doenças respiratórias.

No final de 2022, os Estados Unidos tiveram uma “ triepidemia ” com casos concomitantes de VSR, covid e influenza – por lá, também faltou UTI para bebês, e os hospitais pediátricos definiram novembro de 2022 como uma espécie de março de 2020, quando hospitais do país, sobretudo de Nova York, ficaram abarrotados por causa da covid-19. Para otimizar leitos, bebês acabaram sendo admitidos no hospital quando os sintomas costumam estar mais avançados do que o que é aconselhado. O mesmo ocorreu na Alemanha, e as emergências pediátricas quase colapsaram por causa da explosão de casos.

Os tratamentos e prevenção ao VSR

O vírus sincicial respiratório não tem tratamento específico com antiviral – só os sintomas são manejados. O acompanhamento de um médico é fundamental para que ele defina quando há necessidade de hospitalização. Segundo Marcelo Otsuka, o tratamento consiste na fluidificação das vias aéreas, como inalação e higiene nasal, além de oxigenação mecânica em casos mais extremos.

Em crianças com cardiopatias congênitas, que nasceram prematuras ou têm problemas pulmonares, existe a opção de prevenção do VSR com o palivizumabe, anticorpo monoclonal que impede que o vírus se hospede. O remédio está disponível no SUS.

A administração do fármaco, explica Otsuka, é feita mensalmente durante cinco meses, no período crítico da transmissão, e é realizada após avaliação com pediatra e restrito para bebês prematuros, cardiopatas e com problemas respiratórios severos.

Outro medicamento com a mesma ação de imunidade passiva, para que o bebê não desenvolva a doença, é o niservimab , com a vantagem da aplicação ser em dose única. O remédio ainda aguarda aprovação de agências reguladoras.

114 dos 261 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave registrados na terceira semana de março foram ocasionados pelo VSR, segundo o Infogripe

“Existem estudos no Reino Unidos que usaram o remédio [niservimab] em bebês com menos de seis meses, e os casos graves de doenças associadas ao VSR reduziram drasticamente. Seria uma ótima opção para o futuro”, disse Otsuka ao Nexo . De acordo com o infectologista, infecções frequentes pelo VSR na primeira infância (do nascimento até os 5 anos) estão relacionadas com o desenvolvimento de asma no futuro.

Também não existem vacinas prontas contra o VSR – há intranasais em desenvolvimento e outra em fase adiantada de aprovação nos Estados Unidos, desenvolvida pela Pfizer, para aplicação em gestantes. Funciona da mesma forma que a DTPA (imunizante triplo bacteriano que consta obrigatoriamente no calendário vacinal de gestantes no Brasil).

“Quando administrada nas gestantes, a vacina protege o bebê exatamente nesse período de maior risco, que são os primeiros seis meses de vida”, disse ao Nexo o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Para evitar a infecção pelo VSR, Marcelo Gomes, do Infogripe, orienta intensificar cuidados básicos aos períodos críticos de covid-19:

  • higienizar as mãos com frequência;
  • evitar aglomerações;
  • caso tenha sintomas ou conviva com bebês suscetíveis à infecção, usar uma boa máscara (KN95, N95 e PFF2), principalmente em locais como transporte público;
  • deixar ambientes arejados.

O ideal é que a criança não vá à escola ou creche por pelo menos uma semana para ajudar a diminuir a circulação do vírus e frear os casos. “Infelizmente, pelas condições socioeconômicas e do mercado de trabalho no Brasil, sabemos que isso raramente é possível. Há uma dificuldade de se entender a necessidade do cuidado com a criança. Isso deveria ser repensado”, disse Marcelo Otsuka ao Nexo .

Fonte: Nexo

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