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25.08.2016

Meu bebê nasceu prematuro, e agora?

Meu bebê nasceu prematuro, e agora?

Até você ser mãe de um bebê prematuro, você provavelmente nunca prestou muita atenção nos perigos da prematuridade, quais as suas estatísticas e como se toca a vida dentro destas circunstâncias tão dificeis para uma familia. Eu não fui exceção, engravidei e curti muito a minha gravidez até as 25 semanas, quando um belo dia, minha filha nasceu.

Primeiro vem o choque, o seu corpo a protege do trauma do parto prematuro, fisicamente e emocionalmente. Lembro perfeitamente de sentir uma paz absoluta nos primeiros dias em que minha filha nasceu, mas eu não sou uma pessoa serena, então daonde veio esta paz? Se você acredita, pode dizer que é a mão de Deus sobre o seu ombro, a tranquilizando. De qualquer forma, os primeiros momentos são amedrontadores, mas calma, pois você não sabe o que a espera, o que espera o seu bebê mais para frente. E aqui vem a primeira lição:

• Viva o dia, não pense no amanhã

A vida dentro da UTI é medida de minutos em minutos, de hora em hora, dificilmente de hoje para amanhã. Tudo pode e vai mudar constantemente, para o bem e para o mal, e você aprender a viver o momento é essencial para a sua sobrevivência emocional e o suporte que precisará dar ao seu bebê.

Se o seu filho está tendo uma boa tarde, estável, respirando bem (seja no respirador ou normalmente), viva este momento com alegria, com sossego. Sei que parece uma tarefa impossível, mas não é, a sua mente ditará como será o seu dia. Se você conseguir mentalizar que tens suas emoções sob controle, você terá a capacidade de passar esta serenidade para o seu bebê.

O seu filho se alimentará também da sua energia.

• Energia de mãe para filho

Ser mãe de UTI significa abdicar de qualquer direito sobre a criança. Ela é sua, mas as decisões, ao menos em sua maioria, serão de terceiros: de médicos, de enfermeiros, de fisioterapeutas, de quem faz parte do time designado aos cuidados com seu filho. Mas que papel cumpre a mãe dentro da UTI?

A mãe prematura será o anjo da guarda, será a fonte do leite e da energia que o bebezinho recebrá enquanto internado. A minha filha ficou internada longos 138 dias dentro da UTI Neonatal e chegou a ser considerada a bebê mais doente da cidade no ano que nasceu, um titulo que mãe nenhuma deseja para seu filho. Eu não podia pegá-la no colo quando queria, não podia amamentá-la, ãs vezes sequer podia colocar minhas mãos dentro da janela da incubadora para descansá-las nas costinhas da minha filha, mas uma coisa eu podia: sentar ao seu lado e olhá-la com todo o meu amor. Hoje em retrospecto, penso que todo este amor se transformou em energia que era irradiada de dentro de mim para dentro daquela incubadora.

Não mentirei para vocês, chorei muito naqueles 4 meses e meio de UTI, mas assim como chorei, na mesma medida amei e me enchia de esperança, esta esperança foi peça chave na recuperação da minha filha.

• Confiar nos médicos, manter as esperanças...

Um grande aprendizado que gostaria de passar para outras mães prematuras é que o time médico é o seu time. Eles não são o time contra, eles precisam jogar com você e você com eles. Seja parceira dos médicos do seu filho. Pergunte, indague, argumente e discorde se achares que alguma coisa não está certa, mas tenha em mente que as decisões que eles tomam, em sua maioria decisões dificeis e de consequências muito sérias, são em prol do seu bebê. Digo isso, pois naqueles 138 dias de UTI vi muitas mães vendo o time médico como adversários: implicâncias com enfermeiras, bate boca com médicos, nada disso faz sentido e beneficia aquele bebê indefeso.

Crie vínculos afetivos com a equipe hospitalar, converse....mas acima de tudo, confie, confie de verdade, ao menos até ter razões fundadas para não confiar.

Ser mãe prematura é enxergar médicos e enfermeiros como membros da familia, pessoas que estão ali com todo seu conhecimento para salvar a vida do seu filho e a sua.

• Se cuide

Aqui vai um conselho que eu mesma não cumpri, e hoje olhando para trás, me arrependo. Quando a minha prematurinha nasceu éramos apenas meu marido e eu na nossa cidade, tínhamos poucos amigos e nenhum familiar para nos dar suporte e cuidar da gente. Absolutamente ninguém. Foram tempos complicadíssimos, uma logística insana de ter que sobreviver àquele choque, dentro de um hospital o dia inteiro sozinha, enquanto meu marido trabalhava. Eu não cuidava de mim, não tinha vontade nem energia para isso, tudo o que eu tinha eu dava para a minha filha: minhas horas de insônia, meu tempo ao seu lado sem abdicar de sair para almoçar por 1 horinha que fosse para descansar a mente. Foram 4 meses de muito sacrificio, comendo fast food todo dia pois não ténhamos tempo de cozinhar nem ninguem que nos ajudasse a nos alimentar. Portanto aqui vai o melhor conselho que eu posso dar a você, mãe prematura: se cuide!

Lembre da sua energia, é ela que será alimento do seu filho, e sem ela você e ele estarão perdendo.

Apenas uma horinha de almoço, uma soneca de vez em quando, uma noite mais ou menos bem dormida não serão castigo (como nós mães culpadas gostamos de pensar), serão um presente e o único remédio que você vai precisar.

Rita Corrêa, mãe da prematurinha Bella (Botõezinhos)

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