Notícia original publicada em 08 de maio de 2014.
Nathalie Guimarães
Do G1 Zona da Mata
A tristeza de não poder tocar o filho durante os primeiros dias de vida. Os desafios enfrentados pela mãe adolescente e a de primeira viagem ao descobrir problemas de saúde no bebê prematuro. A alegria de vê-los melhorar e de tê-los em família. Essas são algumas das recordações da estudante de 19 anos Paola Rolim da Silva, mãe de Henrique, de dois anos, e da dona de casa de 38 anos, Aguida Carvalho, mãe de Vinícius, de cinco. Eles nasceram prematuros e, apesar das dificuldades, lutaram junto com os pais para se desenvolverem.
[caption id="attachment_13788" align="alignleft" width="300" caption="Henrique, sempre risonho, está hoje com dois anos. (Foto: Nathalie Guimarães/G1)"][/caption]
Henrique nasceu com seis meses e com 1,190 quilos em 19 de março de 2012. Após nove meses com passagens por três hospitais, ganhou alta, renovando a alegria e a esperança dos familiares ao lutar para se recuperar de paradas respiratórias, cardíacas, cirurgias, medicamentos, cirrose e de um transplante de fígado.
“Ele nasceu de novo. Mas ele nasceu de novo várias vezes. Uma vez ele teve uma parada cardíaca e ficou morto por seis minutos. Chegaram a se preparar para me dar a notícia, mas ele acordou. Sorrindo, como se nada tivesse acontecido. Ele tem uma missão nessa vida”, destacou a mãe Paola Rolim da Silva.
Paola, na época com 16 anos, teve uma infecção urinária e Henrique nasceu. “No dia o médico disse para eu não me apegar porque ele não iria sobreviver. Ele não nasceu prematuro extremo por duas semanas. Era uma semana de alegria e dois dias depois não era mais. Ele demorou para tirar o tubo e pegou muita infecção”, afirmou. Ele passou quase três meses na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal.
Quando chegou em casa, ele começou a ficar amarelado e teve três hérnias. “Fomos encaminhados para um médico que disse para nós corrermos senão nosso filho não iria sobreviver. Ninguém sabia o que estava acontecendo, depois descobrimos que ele tinha atresia biliar, que é a obstrução das vias”, recordou.
[caption id="attachment_13789" align="alignright" width="300" caption="Henrique passou por um transplante de fígado. (Foto: Paola Rolim/Arquivo pessoal)"][/caption]
Após isso, ele desenvolveu uma cirrose e precisou passar por um transplante em São Paulo. “Ele tinha quatro quilos, que não era suficiente para fazer o transplante, mas autorizamos. Colocaram o nome dele na fila e em dois dias o fígado compatível apareceu. A gente não pensava. Às vezes se pegava chorando e não sabia o motivo. Não choramos mais porque não temos mais o que chorar”, comentou.
Para a avó Patrícia Garcia, foi aí que a luta dele começou. “A pior fase da vida dele. Ele começou a ter várias infecções generalizadas, o diafragma paralisou, teve parada cardíaca. Era a coisa mais apavorante não saber se ele conseguiria sobreviver. Você não conseguia nem enxergá-lo de tantos aparelhos que ficavam nele. Ele ficou como uma pêra de tão inchado”, lembrou.
Para conseguir ir a São Paulo, a família contou com o apoio dos amigos e parentes e fizeram show e bingos para arcar com as despesas, principalmente porque, na época, tanto o sogro como o marido de Paola foram demitidos.
“Foi uma mobilização total. Crianças vinham na minha porta trazer presentes para o bingo do Henrique. Tirei tudo o que eu tinha, até o meu anel de casamento para fazer sorteio”, contou a avó.
Segundo ela, as orações foram importantes para a recuperação da criança. “Ele uniu religiões. Nós não negamos a solidariedade e as orações de ninguém. Independentemente da religião, evangélicos, católicos, todos foram importantes”, comentou.
Ainda hoje, Henrique faz controle e mensalmente vai a São Paulo. Ele tem o lado direito paralisado e não anda. Para a avó, o futuro dele será de felicidade. “Ele nunca vai estar completamente curado, vai precisar de cuidados, mas será muito feliz”, previu. “O Henrique entubado ria. Com o olho sempre arregalado. Ele estava sempre sorrindo”, recordou Paola.
Milagre na palma da mão
Vinícius, filho da dona de casa Aguida Carvalho, nasceu prematuro e é resultado de uma luta que começou na gravidez. “Foi complicado, minha pressão estava sempre alta. Eu passava um tempo em casa e um tempo no hospital”, contou.
O menino nasceu com sete meses no dia 2 de maio de 2009 e ficou na incubadora até 10 de julho. “Foi um período muito difícil. Quando eu ia ao hospital não sabia se poderia visitá-lo. Quando havia uma criança doente, não sabia se era ele. Não podíamos tocá-lo, apenas olhar pelo vidro. Foi muito doído”, recordou.
[caption id="attachment_13790" align="alignleft" width="300" caption="Vinícius nasceu prematuro com um quilo. (Foto: Paulo das Graças/Arquivo pessoal)"][/caption]
Um milagre. É assim que Aguida define a presença de Vinícius na vida dela e do marido Paulo das Graças. Antes dele, Aguida já havia tido um aborto. “O Vinícius teve cinco paradas respiratórias, precisou de transfusão de sangue. Ele nasceu com um quilo e depois perdeu peso. Era muito magrinho. O braço era muito fino e não era fácil aplicar medicamentos na veia. Ele ainda tem marcas no braço. Ele cabia na palma da minha mão. É um milagre em nossas vidas”, destacou.
Apesar do sofrimento, fé e orações de parentes e amigos ajudaram a mãe a atravessar esse período. “Nós sofremos, mas ele também. A gente sentia que ele lutava, que ele tinha vontade. É uma vitória!”, enfatizou. Hoje, com cinco anos, Vinícius tem a companhia da irmã Bruna, de três anos. “Ser mãe é emocionante, gratificante. Acompanhar o crescimento dos filhos, ver eles conhecendo o mundo. Não há palavras quando ouvimos ‘mãe, você é a minha melhor amiga!’”, concluiu.
[caption id="attachment_13791" align="aligncenter" width="620" caption="Vinícius, aos cinco anos, ao lado da mãe Aguida. (Foto: Paulo das Graças/Arquivo pessoal)"][/caption]
Fonte: G1