Notícia original publicada em 28 de agosto de 2014.
[caption id="attachment_14830" align="alignright" width="300"] Teste teve 70% de acerto na previsão em 150 casos analisados. (Foto: Thinkstock)[/caption]
No Brasil, o índice de partos prematuros em relação ao total de nascimentos, segundo dados do Ministério da Saúde, é de 11,7% -- nada menos que 60% acima da taxa na Inglaterra, por exemplo. Mas não se trata de uma simples estatística: revela um grave problema de saúde, pois a prematuridade é a maior causa de morte de bebês de até um mês de idade, além de trazer riscos de sequelas neurológicas, respiratórias e de visão nos sobreviventes. Entre as principais causas conhecidas estão síndromes hipertensivas e hemorrágicas da gestação, infecções genitais determinadas por diversos patógenos, doenças crônicas pré-existentes, malformações uterinas, gestações múltiplas e fatores sociais, além de cesarianas marcadas antes do tempo. Como enfrentar o problema?
Mais uma vez, a ciência e o conhecimento apontam caminhos. Pesquisadores do Mount Sinai Hospital, de Toronto (Canadá), desenvolveram um exame de sangue capaz de alertar para a possibilidade de um parto prematuro em mulheres que sofram contrações antes do tempo. Os primeiros resultados foram animadores: 70% de acerto na previsão em 150 casos analisados em um hospital da Austrália. O exame se baseia na busca de marcadores genéticos relacionados ao parto em mulheres que apresentem contrações antes do prazo normal.
Atualmente, gestantes com esse tipo de contração não têm como saber se entrarão em trabalho de parto ou se as contrações são passageiras. Os marcadores genéticos encontrados no sangue são capazes de indicar se ela terá um parto prematuro ou não, prevenindo riscos e internações de urgência. Os pesquisadores de Toronto preveem que o teste estará disponível dentro de cinco anos, após cumprir todas as etapas necessárias de pesquisa.
Ações no Brasil
Mesmo antes que esses exames estejam disponíveis, muitas ações podem ser tomadas para combater o problema. Estudos científicos internacionais indicam que 60% das mortes de prematuros poderiam ser evitadas com meras intervenções no sistema de saúde. Em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, o Ministério da Saúde desenvolverá durante dois anos um conjunto de 12 projetos em cinco estados, com o objetivo de produzir novas ferramentas que possam ajudar na redução do nascimento prematuro, além de aplicar lições aprendidas em outros países.
Um dos tratamentos, por exemplo, vem da Unicamp: uma associação do hormônio progesterona com o pessário, um dispositivo de silicone inserido na vagina que consegue prolongar a gravidez de risco. Outros dos 12 projetos incluem a elaboração de um kit de exames para prevenção da prematuridade e testes com comprimidos de magnésio para prevenir a pré-eclâmpsia (doença desenvolvida após 20 semanas de gestação que causa hipertensão). A fundação dos Gates contribuirá com R$ 8,4 milhões.
A taxa geral de mortalidade infantil, que inclui a perinatal e menores de um ano, está diretamente relacionada ao grau de desenvolvimento de um país. Em Angola, por exemplo, há 182,3 mortes para cada 1 mil nascidos vivos, enquanto na Suécia essa taxa é de 2,75/1 mil nascidos vivos. O Brasil se encontra em posição intermediária: 26,67/1 mil, segundo o Ministério da Saúde. Os partos prematuros também seguem a mesma tendência: dados da Organização Mundial da Saúde revelam que nos países mais ricos 9% das crianças nascem antes do tempo, enquanto nos mais pobres esse índice sobe para 12%. E 60% dos casos de prematuros ocorrem na África ou na Ásia.
Fonte: Época