Nos dias 11, 12 e 13 de abril, a Associação Brasileira da Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade.com) teve a oportunidade de estar presente no VI Encontro Internacional de Neonatologia e no IV Simpósio Interdisciplinar de Atenção ao Prematuro, que aconteceu na cidade de Gramado (RS). O evento já tem tradição no país ao trazer pessoas de todas as regiões, não sendo diferente em 2019.
Enfermeiros, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e outros profissionais da área da saúde estiverem reunidos ao longo de três dias para discutir questões relacionadas aos cuidados dos prematuros e da importância de trazer as famílias mais próximas aos cuidados do bebê, mesmo antes da alta, sendo possível o empoderamento das famílias muitas vezes até mesmo no processo decisório do cuidado.
No primeiro dia, foi realizado o IV Simpósio Interdisciplinar de Atenção ao Prematuro, quando questões relacionadas com o segmento/follow up foram trazidas de forma consistente e significativa, pensando na maior qualidade de vida dos bebês prematuros. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), do Rio Grande do Sul, apresentou seu case de sucesso em relação a segmento: a equipe interdisciplinar trabalhou e avaliou os bebês e suas famílias estabelecendo condições de melhor qualidade de vida para todos.
Nos outros dois dias, ocorreram várias palestras, com destaque para a importância das questões relacionadas a respostas neurológicas e de comportamento, como, por exemplo, a prematuridade relacionada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outros distúrbios relacionados ao comportamento escolar. Palestrantes da Europa e dos Estados Unidos apresentaram números muito significativos quando há avaliação e intervenções precoces. O conteúdo relacionado às questões respiratórias também foi abordado com novos avanços no atendimento, diminuindo o consumo de oxigênio, sabendo que com isso os danos a curto e longo prazo podem ser diminuídos.
Aline Hennemann, enfermeira, professora e vice-diretora executiva da ONG, comenta que "durante os três dias vários trabalhos foram apresentados de diferentes áreas, com relatos de experiência de sucesso que estão transformando a vida dos prematuros e suas família de todo território nacional. Agradecemos a Dra. Rita C. Silveira, membro do nosso Conselho Científico e que esteve a frente da organização, por sua pareceria e acolhida. Parabéns mais uma vez por este lindo evento e por todo seu trabalho em prol dos bebês prematuros!".
Abaixo, segue uma síntese das temáticas abordadas, segundo a Dra. Rita:
1. O uso de antibióticos em recém-nascidos com idade gestacional ≥ 34 semanas com suspeita de sepse neonatal precoce deve ser guiado pela presença de sinais clínicos e não por exames laboratoriais.
2. O maior determinante de alterações neurocognitivas e de distúrbios psiquiátricos em um recém-nascido pré-termo extremo é a reação inflamatória perinatal.
3. A prevalência de TDAH-Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade é elevada. O diagnóstico precoce é uma tendência, especialmente do tipo desatento, uma vez que a intenção é mais frequente entre prematuros. Aos 24 meses, o questionário Child Behavior checklist é ferramenta precoce para o diagnóstico.
4. No tratamento de TDAH focar e definir metas específicas, estabelecendo metas claras, como manter o foco no dever de casa por um determinado período ou compartilhar brinquedos com amigos, além do tratamento farmacológico.
5. No recém-nascido com hérnia diafragmática, a disfunção do ventrículo esquerdo secundária e a hipoplasia do ventrículo esquerdo é frequente. Caso a pressão arterial esteja na faixa de normalidade, indica-se o uso de milrinona em doses mais baixas e sem dose de ataque. A dose deve ser escalonada lentamente.
6. Ferritina deve ser utilizada como marcador da necessidade de reposição de ferro nos recém-nascidos pré-termos submetidos a múltiplas transfusões sanguíneas.
7. O fechamento do canal arterial no recém-nascido pré-termo de muito baixo peso deve ser uma exceção. Em geral, não há necessidade do fechamento do canal arterial, pois o tratamento de suporte costuma ser suficiente até o fechamento espontâneo do canal arterial.
8. O uso de oxigênio no recém-nascido deve ser controlado. A mortalidade é maior nos recém-nascidos submetidos a hiperoxemia e hipocapnia; assim como, há aumento da pressão da artéria pulmonar nos pacientes com hipertensão pulmonar quando submetidos a hiperoxemia e hipocapnia.
9. Foi muito salientado por todos palestrantes os benefícios do atraso no clampeamento do cordão umbilical para os prematuros e para os neonatos com hérnia diafragmática congênita.
10. Na nutrição do prematuro foram abordados as Diretrizes do ESPGHAN Committee de 2018, acerca da Nutrição Parenteral com mais lipídios, além do já estabelecido acerca da oferta de aminoácidos.
11. Os lipídios são componentes fundamentais na neurogênese e sinaptogênese cerebral dos prematuros extremos.
12. Na nutrição enteral, a importância de valorizar a clínica e não o resíduo gástrico para prover uma oferta adequada de nutrientes.