A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, todos os anos, cerca de 15 milhões de crianças no mundo nasçam antes de completar 37 semanas de gestação. No Brasil, a prevalência de partos de crianças prematuras chega a 11,7%, segundo estudo de 2013 do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Preocupação e ansiedade são dois sentimentos que acompanham famílias com bebês prematuros, principalmente em relação ao desenvolvimento da criança, ou seja, suas habilidades para realizar tarefas do dia a dia.
“A prematuridade é um fator de risco. Quanto maior o grau de prematuridade, maior o potencial de ocorrer algum atraso ou prejuízo no desenvolvimento funcional. No entanto, há diversos fatores envolvidos no cuidado que a criança recebe para estimular e promover esse desenvolver”, explica a fisioterapeuta Rayla Amaral Lemos.
E foi justamente compreender as concepções de cuidadores de nascidos prematuros sobre o desenvolvimento infantil e fatores associados o objetivo do estudo de doutorado de Rayla na Escola de Enfermagem (EE) da USP, orientado pela professora Maria de La Ó Ramallo Veríssimo.
A partir do resultado de sua pesquisa, a fisioterapeuta percebeu a necessidade de oferecer um material de apoio para os familiares de recém-nascidos prematuros, que orientasse sobre como acompanhar o desenvolvimento das crianças após a saída do hospital.
Assim nascia História de Sofia. Um livro que, segundo as autoras Rayla e Maria, fala de afeto, das relações humanas, dos processos responsáveis pelo desenvolvimento de cada pessoa e, também, de esperança, já que “nascer prematuro não é uma sentença ou destino”.
O nome “Sofia” vem do próprio significado da palavra (sophia, do grego, sabedoria). Isso porque a publicação não traz apenas orientações, ela também compartilha as experiências de vida das famílias que participaram do doutorado de Rayla.
“Na coleta de dados, fiquei pensando o quanto aquelas famílias, dentro da realidade delas, traziam a sabedoria no cuidado da criança. O entendimento era formado pela experiência vivida da prematuridade, elas iam desenvolvendo estratégias de empoderamento que durante a pesquisa compartilhavam e eu sistematizava”, relata.
Lançado no ano passado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o livro é dividido em 12 capítulos. Os três primeiros abordam os sentimentos, como preocupação, ansiedade e depressão, vividos pelas famílias durante o período em que a criança fica internada no hospital após o nascimento, e as dúvidas sobre o futuro dela. As autoras trazem ainda algumas dicas de como lidar com o momento de levar o bebê para casa e se adaptar à nova rotina.
“Essas dicas foram baseadas em comportamentos encontrados na literatura acadêmica sobre as famílias de crianças prematuras. Por exemplo, a superproteção, pensando que ela é uma criança frágil e tendo comportamentos que vão limitar o desenvolvimento, ou ao contrário, estimular a criança além das possibilidades dela naquele momento, por querer que ela se desenvolva”, conta a fisioterapeuta.
O empoderamento das famílias para o uso da rede de saúde e o apoio de amigos e parentes também estão no livro, assim como informações sobre o que é a idade corrigida – maneira como profissionais de saúde utilizam para avaliar a criança considerando o grau de prematuridade que ela teve.
De acordo com Rayla, a publicação tem informações sobre quais são as potencialidades para a criança se desenvolver, dicas de brinquedos, de estimulação da criança durante as atividades de vida diária, na hora do banho e da alimentação, atividades que a família pode desenvolver com a criança, estimulando o uso da caderneta de saúde da criança para o acompanhamento das habilidades, para ajudar a família a perceber como a criança vai aprendendo.
No final, há um encarte descrevendo as habilidades funcionais esperadas no período de zero a três anos e meio de idade. A versão on-line de História de Sofia está disponível gratuitamente no site da Escola da Enfermagem (EE) da USP e no botão abaixo.
Fonte: Héricka Dias para o Jornal da USP