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07.04.2014

Carta aberta aos pais de prematuros

Gabriela Adriana Pose, Dra. em Psicologia Clínica e staff profissional da APAPREM Argentina, autora de "Ser padres prematuros, el parto el nacimiento y la relación emocional con el bebé",  "Mi bebé y yo: La relación con mi bebé durante el primer año de vida" e "Implicancias afectivas de la prematurez .En proceso editorial", gentilmente nos enviou essa carta para os pais de prematuros para publicarmos aqui no nosso site especialmente para vocês.

"Quero compartilhar a carta aberta aos pais de prematuros, que escrevi a convite da AUPAPREM para o Dia Mundial da Prematuridade.

Carta aos pais de crianças prematuras

Um brinde depois da festa! Acabou de passar a celebração do Dia Mundial da Prematuridade. Frequentemente, sou convidada para fazer textos e realizar atividades na APAPREM. Na oportunidade, fui convidada para refletir e contribuir nas discussões e ações acerca deste tema tão importante. Agradeço o convite, pois me permitiu repensar e debater com vocês. Tenho que me desculpar pela demora em escrever, mas achava necessário deixar passar alguns dias, não só pelo trabalho, mas também para que vocês pudessem ler com calma, fora dos preparativos da celebração, como aqueles momentos após uma festa familiar onde as coisas vão voltando ao normal.

O meu encontro com a prematuridade foi a partir de um caso onde o bebê tinha nascido grande e forte, mas a mãe tinha nascido prematura. Esse encontro foi a quase 20 anos atrás, quando aquela mãe tinha 22 anos. Quando conheci ela e seu bebê, ficamos falando do nascimento de seu filho em uma atmosfera de grande intimidade. Ela me mostrou um chaveiro que tinha uma foto dela ainda muito pequena. Me disse que nasceu prematura, falou que, para sua mãe, tinha sido muito difícil, porque naquele tempo os bebês não conseguiam sobreviver em tais condições. Me disse que sua mãe apareceu nas revistas e que outros bebês, nas mesmas condições, não sobreviveram. Ela estava comovida e um pouco aflita. Me contou a história em voz baixa com seu bebê nos braços.

Eu visitava essa família cada quinze dias, e em destes encontros, conheci a sua mãe. Ela me falou da sua experiência de ser mãe de uma criança prematura e o que ouvi foi as mesmas palavras que sua filha tinha me dito. Me falou dos acontecimentos com tanta comoção e intensidade, que até fiquei me imaginando no hospital junto dela. Mas, como se o tempo não tivesse passado, essa mulher estava muito preocupada com sua filha. Eu me perguntava o que ela poderia fazer para ajudar sua filha, uma vez que tinha se tornado uma mulher forte e inteligente. A mãe falava dela como se ainda estivesse dentro da incubadora, como se o perigo estivesse perto. Eu entendi que, para essa mãe, sua filha era uma sobrevivente entre a ciência e a coincidência. Como se tivesse passado por uma guerra e a foto no chaveiro fosse sua medalha.

Em seguida, por diferentes circunstâncias profissionais, trabalhando sobre mães adolescentes, entrei na área de Neonatologia e depois na equipe de acompanhamento. Um tempo depois fizemos na APAPREM encontros de crianças e então percebi a intensidade desse projeto e o potencial das marcas que a prematuridade deixa. Falo não só da possibilidade de sequelas, mas também das marcas emocionais em cada um dos pais, as relações, as dinâmicas familiares, etc. Como quando um irmão diz "eu quero que o bebê volte para a sua caixa", ou na noite, quando acorda com terror ("night terror").

A prematuridade é uma celebração de várias perspectivas: o que a neonatologia tem conseguido em seu desenvolvimento científico, os avanços tecnológicos e na grande força dos pais em suportar este momento tão difícil e avassalador da neonatologia, assim como as incertezas do crescimento sadio da criança. Também há a grande possibilidade de traumas, deixando emoções intensas, permanentes e, em algumas ocasiões, pós-traumáticas, estados ansiosos, depressivos. Muitas vezes não é um bebê fácil de lidar e, unindo tudo isso, é um grande peso aos pais! É como se o tempo parasse para muitos pais, congelado nos primeiros momentos, a vida teria que fluir como um rio, mas fica estagnada. Muitas vezes isso compromete o bem-estar emocional dos pais e o desenvolvimento da criança para uma pessoa saudável e emocionalmente preparada. São duas coisas muito ligadas.

Então hoje, na celebração, onde tantas emoções ressurgem a partir de reuniões com a família da NEO, as enfermeiras, os profissionais incondicionais, outros pais que foram verdadeiros tios nesses momentos, eu faço um brinde para que essas lembranças nos acompanhem para irmos além, para ser abertos na finalidade de reconhecer quais são as dificuldades da criança e quais os efeitos da prematuridade, quais efeitos a prematuridade tem deixado em cada pessoa como pai e que muitas vezes ficam receosos na hora de criar os filhos. “Como você pode dizer não? Veja tudo o que aconteceu!”, diz a avó. Ou quando se pergunta ao pediatra de novo e de novo, “porque não caminha?”, tentando fingir que não há idade correta e isso pode ser frustrante, porque o bebê não consegue e volta a se sentir prematuro no seu desenvolvimento. Quando se protege demais, ou se exige sob a sombra do medo que a prematuridade pode deixar dentro de cada pessoa, naquele bonito mas complexo lugar de ser pai de um filho. É dia de celebração e eu faço um brinde para cuidar do direito de um filho a que a prematuridade não seja sua identidade. Eles são Manuel, Sandra, Cristina, eles tem data de aniversário e esperamos que ao passar do tempo o impacto da prematuridade fique para atrás, para conseguir ver o filho que ele é, em todo momento de sua vida e seu futuro. Eu faço um brinde porque a celebração é a presença de questões relevantes, e instala debates e reflexões, ajuda a moldar as leis de reivindicações legitimas para os próximos pais de filhos prematuros. São debates ou questões propostas pelos protagonistas dessa experiência. São vocês as melhores vozes para dizer sobre as reais necessidades aos profissionais. Eu faço um brinde pelos que dedicam seu tempo, atenção e carinho, aos enfermeiros e enfermeiras. Faço um brinde porque também é um dia para que os profissionais continuem refletindo, pensando e aprendendo e contribuindo. É um dia para ficar perto daqueles pais que passaram por situações difíceis e que lutam todos os dias pelo melhor para seu filho. Para eles e por eles, brindemos transmitindo energia positiva e o desejo de que as dificuldades não impeçam de ver as possibilidades a fim de que, acima de tudo, promova-se o encontro com o filho, encontro que garanta seu ser, como pessoa. Para finalizar, imaginem a casa, e caminhem por ela, como se fosse o caminho que fizeram até hoje. Vão achar um ninho, uma máscara, uma sonda, uma chupeta, e também bolas e bonecas, livros e namorados, aniversários de 15 e viagens de férias escolares, trabalhos realizados e também netos que chegam, e tudo o que a vida traz... aproveite! Um grande abraço para todos vocês!"

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