Notícias

Notícias

16.10.2023

As aflições de um parto prematuro

Se uma gravidez completa já provoca insegurança nos pais sobre como será a rotina dali em diante, um parto prematuro – ou seja, antes de completar 37 semanas de gestação – traz dúvidas extras e aflige muitas famílias. Esse sentimento de angústia pode até impactar negativamente na recuperação da criança.

Para esclarecer alguns dos questionamentos mais recorrentes quando o assunto é parto prematuro, o site ABC da Saúde Infanto-Juvenil conversou com a pediatra e neonatologista Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck. O material pode auxiliar a esclarecer profissionais e pais sobre as causas do parto prematuro e os cuidados no desenvolvimento saudável do bebê. Acompanhe a seguir a matéria:

Sentimento de culpa, coração apertado e sensação de impotência diante de um serzinho totalmente vulnerável e dependente. Se uma gravidez completa já gera certa aflição e insegurança sobre como será a rotina dali em diante, muitos questionamentos extras permeiam o psicológico das mamães de prematuros, os que, por definição da Organização Mundial da Saúde, nasceram antes de completar 37 semanas de gestação. Por isso, o ABC da Saúde Infantil conversou com a pediatra e neonatologista Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck para esclarecer as dúvidas que também podem ser suas.

ABC – Há mães que se culpam pelo fato de seu filho ter nascido antes da hora ou começam a se questionar se fizeram muito esforço, trabalharam demais etc. Essas perguntas têm fundamento?

Lilian Sadeck – Vários fatores podem ser responsáveis pelo parto prematuro, mas na maioria das vezes não tem nada a ver com trabalhar ou fazer esforço, a não ser que exceda muito o habitual. As causas mais frequentes são: patologias maternas como hipertensão arterial, diabetes, infecção urinária, ruptura prematura da bolsa amniótica, gestação gemelar, doenças infeciosas sexualmente transmissíveis. Todas essas causas podem ser prevenidas ou minimizadas com um pré-natal adequado e iniciado precocemente.

ABC – Que maus comportamentos podem, de fato, desencadear um parto prematuro?

Lilian Sadeck – Chamaria de “mau comportamento” a não realização ou realização de pré-natal irregular, dificultando a detecção de irregularidades com a gestante e o bebê, dificultando o tratamento adequado para cada caso. A falta de comprometimento com o pré-natal também pode antecipar o trabalho de parto. Algumas vezes, mesmo que a gestante realize um pré-natal corretamente, siga todas as orientações do obstetra e faça os exames laboratoriais solicitados, pode entrar em trabalho de parto prematuro por uma ruptura espontânea da bolsa ou sem causa aparente. Nesses casos é comum a mãe se culpar e querer achar uma explicação para o fato, como trabalhar demais, levantar muito peso, levar um susto. Entretanto, é muito importante que os profissionais de saúde conversem claramente, discutindo cada uma das dúvidas que ela tenha, abordando seu sentimento de culpa para diminuí-lo ou até excluí-lo.

ABC – Esses pensamentos podem comprometer a relação da mãe com o filho?

Lilian Sadeck – Sim, mas há muitos outros fatores presentes no parto prematuro que também irão interferir. São eles: o nascimento de um bebê muito diferente do idealizado, ver o seu filho em uma unidade de Terapia Intensiva Neonatal, dentro de uma incubadora, com uma série de aparelhos ligados no seu corpo tão pequeno e frágil, não poder pegar no colo ou amamentar e o medo de perdê-lo. São vários pontos que devem ser considerados e trabalhados com a mãe pela equipe multiprofissional com o objetivo de facilitar o contato da mãe com seu filho e melhorar a formação do vínculo entre eles.

ABC – Essas situações cotidianas no tratamento do bebê prematuro podem desencadear complicações psicológicas para as mães? Como lidar com isso?

Lilian Sadeck – Mesmo quando não desencadeia uma depressão, a sensação de incapacidade de cuidar de seu filho é muito frequente, especialmente nos primeiros dias, na fase mais aguda e com maior necessidade de cuidados intensivos. Para amenizar essa aflição, cabe à equipe multidisciplinar lembrar a mãe de que ela poderá ajudar muito o seu bebê fornecendo seu leite, tocando e conversando com ele. Isso vai ajudá-la a ver que ela tem sim condições de cuidar do seu filho.

ABC – Nesse sentido, como a família deve proceder?

Lilian Sadeck – É importante que a mãe tenha o apoio da família nesse período crítico, estimulando-a com atitudes positivas e com o objetivo de aumentar a autoestima, facilitar o fornecimento de leite materno e a diminuir a carga de estresse.

ABC – Qual a importância da presença dos pais enquanto o bebê prematuro está internado no hospital?

Lilian Sadeck – A presença dos pais durante a internação do bebê na UTI é de extrema importância para a formação do vínculo família-bebê. Durante a internação do recém-nascido na UTI neonatal, os pais devem se preparar para receber seu filho após a alta hospitalar. Eles devem questionar e entender o que se passa com o seu filho, quais os exames que ele está fazendo, quais as medicações e quais os riscos. Os médicos e demais profissionais de saúde devem compartilhar todas as informações com os pais, de forma que eles possam acompanhar todo o tratamento de seu filho.

ABC: O Método Mãe Canguru ou “Contato Pele a Pele” é indicado como uma alternativa ao cuidado neonatal convencional para bebês de baixo peso ao nascer, correto? Explique melhor do que se trata.

Lilian Sadeck – O método canguru foi desenvolvido para o tratamento de bebês prematuros, baseado no contato pele a pele do bebê e da mãe (ou do pai). Esse método é desenvolvido em três estágios: durante a internação na UTI neonatal, onde os pais serão incentivados a permanecer o maior tempo possível ao lado do bebê. Quando a criança já estiver estável, é indicado colocá-la no colo da mãe ou do pai, em contato pele a pele por períodos curtos, observando as condições do recém-nascido e dos pais. No segundo estágio, quando o bebê já está estável em condições de permanecer continuamente em posição canguru, o método implica em ter que internar a mãe novamente para prosseguir com esse contato. Na terceira fase, após a alta hospitalar, também é possível conduzir o mãe canguru com acompanhamento ambulatorial semanal e avaliações periódicas, oferecendo um suporte para os pais.

ABC – Quais os benefícios do método?

Quando o recém-nascido está estável, o contato mãe-bebê favorece o aleitamento materno, a manutenção da temperatura corpórea, minimiza as crises de apneia, entre outras vantagens.

Fonte: Radar da Primeira Infância e ABC da Saúde Infanto-Juvenil (2014)

Compartilhe esta notícia

Histórias Reais

Veja histórias por:

Receba as novidades

Assine nossa newsletter e fique por dentro de tudo que acontece no universo da prematuridade.