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23.08.2017

A fisioterapia na Estimulação Essencial ao Desenvolvimento do prematuro

A prematuridade tem sido um grande desafio da saúde. O bebê que nasce antes de 37 semanas de gestação e com o peso ao nascer menor ou igual a 1.500g tem maior risco de evoluir com desvios no desenvolvimento devido à imaturidade ou mesmo lesões no sistema nervoso central. Comumente, esse bebê apresenta um percentual de gordura pequeno em seu corpo, sua cabeça é relativamente grande em relação ao tórax, sua estrutura óssea e muscular ainda não estão prontas para enfrentar a força da gravidade e seu sistema nervoso ainda é imaturo. Essas e outras características dificultam a contração muscular e o controle do movimento voluntário e, por isso, podem aparecer dificuldades motoras e atrasos no controle da cabeça, para segurar objetos, rolar, sentar, engatinhar e andar.

Frequentemente, esses bebês também sofrem intercorrências e intervenções terapêuticas logo que nascem e esses estímulos nocivos para o cérebro imaturo podem causar lesões e deixar sequelas. Mas o desenvolvimento motor atípico não acontece somente na presença de alterações neurológicas. Mesmo crianças que não apresentam sequelas graves podem ter comprometimento em alguma área de seu desenvolvimento. Diante desse contexto, vale ressaltar que o acompanhamento sistemático do prematuro após a alta da UTI é fundamental, pois o profissional reconhecerá essas dificuldades durante as consultas e poderá fazer os encaminhamentos para um especialista, quando necessário.

Os primeiros 1000 dias de vida da criança (período de gestação até aos 2 anos), são caracterizados pela fase mais importante para a maturação neurológica e conquista da independência motora. Por isso, o ideal é que o seguimento seja iniciado logo nos primeiros meses, pois nessa fase, seu sistema nervoso ainda não está completamente desenvolvido e permite um melhor processo de aprendizagem e adaptação aos estímulos. Esse processo é conhecido como neuroplasticidade, ou seja, a capacidade que o cérebro tem de modificar sua estrutura ou sua função de acordo com as informações que recebe do ambiente. Nos casos de bebês com lesões cerebrais, a neuroplasticidade é capaz de permitir que a parte saudável do cérebro assuma funções adicionais para compensar uma parte que não está bem.

Esse acompanhamento, conhecido como Estimulação Precoce ou Estimulação Essencial ao Desenvolvimento, é o atendimento direcionado aos bebês e crianças com risco ou atraso no desenvolvimento (prematuros de risco, baixo peso, síndromes genéticas, deficiências, paralisia cerebral e outras), ou seja, aqueles que durante o período gestacional, parto ou após o nascimento, sofreram alguma intercorrência que possa levar a lesões de estruturas do sistema nervoso ou desencadear alterações no seu desenvolvimento neuropsicomotor. O principal objetivo é promover um ambiente e estímulos adequados para que criança desenvolva seu melhor potencial em aspectos motores, cognitivos, psíquicos e sociais. Pensando nesse cenário, é preciso entender que as condutas devem fazer parte da rotina, por isso, o sucesso do programa de estimulação depende diretamente da participação da família. Pais e cuidadores precisam se sentir acolhidos, integrados e atuantes no processo. É indispensável para o bom andamento do trabalho, que eles estejam orientados e seguros em relação aos cuidados, manuseios, ao brincar e ao posicionamento adequados, já que é com eles que o bebê passa a maior parte do tempo.

Dentro da fisioterapia, a Estimulação Essencial ao Desenvovimento é baseada no comportamento neuromuscular. O profissional precisa ter noções e conhecimentos claros sobre o desenvolvimento, para poder analisar o comportamento do bebê, sendo capaz de avaliar o desempenho das atividades e o que pode ser esperado em cada fase, sempre levando em conta a idade gestacional corrigida. Após essa avaliação, é traçado um plano de acompanhamento que visa diagnosticar alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, ajudar na organização global, humanizar o ambiente, proporcionar melhor qualidade de postura evitando os padrões atípicos e oferecer tratamento especializado em bebês com anormalidade neurológica. Durante os encontros são realizadas atividades que promovem o desenvolvimento das percepções sensoriais, a manipulação de objetos, o rolar, o sentar, o engatinhar, a marcha, a comunicação e a socialização, sempre respeitando a etapa do desenvolvimento em que a criança se encontra.

Seja qual for a causa da prematuridade, é indispensável que esses bebês sejam acompanhados por um fisioterapeuta pelo menos até 2 anos, idade na qual a maioria das sequelas motoras já poderá ter sido identificada.

REFERÊNCIAS

Neurociências da Mente e do Comportamento/ Roberto Lent, coordenador - Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2015.;

De 0 a 1000: os dias decisivos do bebê/ Roseli Sarni e Fabíola Suano - São Paulo, SP: Abril, 2017.;

Reabilitação/ Antônio Carlos Fernandes [et al.] - Barueri, SP: Manole, 2015.;

Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco/ Sociedade Brasileira de Pediatria - São Paulo, SP: 2012.

Escrito por Mariana Santos Andrade, fisioterapeuta da área de neuropediatria e membro do conselho científico de maneira voluntária da Associação Brasileira da Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – Prematuridade.com

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