Notícia original publicada em 01 de julho de 2014.
Por Giovanna Balogh
Ter um bebê e não sair da maternidade com ele nos braços. Nos dias seguintes, o sofrimento também não cessa. São dias e mais dias, às vezes meses em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal em uma verdadeira batalha para aquele serzinho sobreviver.
Após ver os filhos em incubadoras, ligados a vários fios e tubos, as mães de prematuros ainda tem um outro dilema após o filho ter alta: voltar a trabalhar pouco tempo depois dos filhos terem ido para casa. Um projeto tramita no Congresso desde 2011 para ampliar a licença-maternidade dessas mulheres, mas desde março do ano passado está parado após ter sido aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
O projeto propõe que toda mulher possa acrescentar aos dias de licença-maternidade o tempo que faltava para a criança completar 37 semanas de gestação – quando a gravidez é considerada a termo. O benefício existe atualmente apenas para as servidoras de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O engenheiro Pedro Parizotto, 30, passou por isso recentemente. A filha Helena nasceu com 31 semanas em dezembro do ano passado pesando 1,8 quilo. Foram 50 dias de UTI em um hospital de São Paulo até que a menina pudesse enfim ter alta. Nesses dias compartilhando momentos de tensão e alegria com outros pais de UTI, Parizotto conta que notou que havia uma grande preocupação de todos sobre a licença-maternidade. “Será que meu filho vai ter alta a tempo de eu curtí-lo em casa? Mal vamos pra casa e já vou ter que voltar a trabalhar. E se meu filho ainda precisar de cuidados especiais em casa e eu não puder estar perto?”. Essas eram algumas das questões que ouvia”, comenta.
Como a mulher é funcionária pública na Prefeitura de Caieiras (Grande SP), Parizotto foi na Câmara e procurou vereadores que tinham o interesse em criar uma lei que permitisse ampliar a licença maternidade para as servidoras das cidade. A lei, que já foi aprovada, aguarda a sanção do prefeito para sair do papel. A mulher dele, que volta a trabalhar em agosto, dificilmente será beneficiada e a Helena ficará sob os cuidados dos avós.
“Minha mulher, por ser funcionária pública, teve seis meses de licença. E as mães de prematuros que têm apenas quatro meses? Muitas vezes esses quatro meses são com o bebê internado e ela nem tem chance de cuidar dele em casa”, lamenta.
[caption id="attachment_14623" align="aligncenter" width="1024"] Mãe segura a mão de bebê prematuro. (Foto: Marlene Bergamo – 14.mar.2005/Folhapress)[/caption]
CUIDADOS ESPECIAIS
Assim que um prematuro tem alta existe um cuidado todo especial com ele nos primeiros meses fora do hospital. Segundo pediatras, é preciso haver cuidados em relação à higiene da casa, mantê-la arejada e, é claro, a higiene das pessoas que cuidam do bebê, ou seja, é necessário até mesmo restringir totalmente as visitas – fato que muitas vezes não é compreendido e aceito por amigos e familiares.
“Quando um prematuro recebe alta, os pais costumam relatar um sentimento ambíguo: felicidade extrema por ver seu bebê sair vitorioso e poder tê-lo em casa, e também muito medo, pois a partir dali terão que contar somente com os cuidados da família, sem auxílio de equipamentos e profissionais para monitorar a saúde dos pequenos”, comenta Denise Centeno, que criou em 2011 um site só com informações sobre prematuros.
Denise, que é nutricionista e trabalhou anos em uma UTI neonatal, comenta que a licença-maternidade reduzida das mães traz vários prejuízos ao bebê, principalmente, para o recém-nascido que perde o contato direto com a mãe e fica sem os cuidados redobrados que a prematuridade exige inicialmente. Fora que a amamentação, tão importante nos primeiros meses de vida, pode ficar comprometida.
Muitos médicos também não recomendam que o bebê prematuro vá para uma creche antes dos dois anos por conta dos problemas respiratórios.
“O resultado é que muitas mães acabam abrindo mão de sua vida profissional para cuidar do prematuro em casa, já que durante todo o tempo da licença ele esteve internado”, comenta. Para ela, os pais também deveriam ter mais tempo de acompanhar a recuperação de seus filhos e a mãe do bebê na árdua jornada de uma UTI Neonatal. Independente do bebê ser ou não prematuro, a licença paternidade é de cinco dias corridos.
[caption id="attachment_14624" align="aligncenter" width="1024"] Bebê prematuro precisa de cuidados extras. (Foto: Patricia Araujo – 14.out.2009/Folhapress)[/caption]