13 de Junho de 2013

Yasmin: o presente da mamãe Adriana

"Olá! Meu nome é Adriana, tenho 21 anos e minha filha fez 3 aninhos dia 29/03/13. Só por isso já da pra saber que tenho uma história feliz para contar.

Minha filha foi muito desejada, em um mês parei de tomar anticonceptivos e no outro já estava grávida. No segundo mês de gestação, já tive meu primeiro problema: fiz esforço limpando a casa e tive deslocamento de placenta com sangramento, o que me fez ter que usar medicamentos por um bom tempo para "segurar a gravidez".

Até mais ou menos o quinto mês de gestação eu passava muito mal, desmaiava toda hora, fiquei com a pressão baixa e tudo que eu comia "colocava" pra fora, fazendo com que perdesse peso (até o final da gestação engordei apenas 7 kg). Enfim, como podem ver, eu queria muito engravidar e fiz de tudo para não perder. Ia a todas as consultas do pré-natal mas, numa troca de exames (eu acho que pode ter sido esse o motivo), eu estava com infecção urinária e não fiquei sabendo. Por não tratá-la, acabei passando a infecção para minha bebê, fazendo acelerar o parto.

Com 32 semanas, comecei a sentir muita dor e estava com um pequeno corrimento, então a médica me receitou uma pomada para inflamação e um remédio para cólica. Uma semana após, quando eu pude comprar essa tal pomada, percebi que meu corrimento estava com um pequeno risco de sangue. Observei antes de usar a pomada e voltei ao hospital. Um médico que não foi muito atencioso pediu para que eu voltasse pra casa e usasse o medicamento para melhorar, disse que era normal e que estava tudo bem.

Eu não agüentava de dor! Voltei e usei o medicamento e no dia seguinte eu estava sangrando muito. A dor não passava, fui a outro hospital e já estava com 2 cm de dilatação. Internei numa sexta-feira. Colocaram-me no soro, com medicamentos para dor, vacina para fortificar o pulmão da neném. Tentaram segurar mas não deu certo: na segunda-feira - 29/03/2010 - ela nasceu, com 32 semanas, pesando 1,820 kg, às 20 horas.

Eu estava feliz e ao mesmo tempo com medo, foi então que sua história começou. De primeira eu achava que ficaria no hospital por uns 7 dias, me baseava por alguns dos casos de lá e já estava agoniada. Então ela apresentou infecção urinária, tendo que tomar antibióticos por mais ou menos 11 dias, em dieta zero. Estava internada na UTI Neonatal. Quando apresentou uma melhora, eu pensei que só faltava ela ganhar peso para ter alta. Foi então para UI, mas teve infecção sanguínea, fazendo sua primeira apnéia, e voltou para UTI.

Era assim, um vai e volta pra UTI toda hora, e quando vi já tinha quase dois meses. Teve infecção urinária, infecção sanguínea, 2 paradas respiratórias, já tinha colocado uns 3 acessos profundos na cabecinha, infecção no intestino (fez uma cirurgia para drenar que não adiantou muito, então foi transferida de hospital para mais uma cirurgia para cortar boa parte de seu intestino).

Na primeira cirurgia fiquei desesperada, chorei muito, mas foi muito rápido. Na segunda vez demorou umas 16 horas, mas fiquei muito tranqüila e deu tudo certo. Porém, quando fomos transferidas para o hospital que faria a cirurgia, chegamos numa sexta e ela iria operar na segunda, só que no domingo ela fez sua terceira apnéia. No meu colo! Estar com seu filho nos braços passando mal e não poder fazer nada para salvá-lo é a pior experiência do mundo. Eu tinha dormido pela segunda vez ao lado dela fora da UTI, só com a sondinha, estava muito feliz porque nunca tinha ficado tanto tempo ao lado da minha gatinha. Ela estava fora da incubadora, usando suas roupinhas RN enormes pela primeira vez. Com essa parada respiratória, ela não pôde operar na segunda feira, adiaram a cirurgia para quarta-feira.

Ela operou e graças a Deus deu tudo certo. Só que depois de mais alguns dias, ela fez a quarta parada respiratória. Eu não vi, mas só de lembrar da última vez que ela havia passado por isso, entrei em desespero de novo. Teve horas em que pensei em desistir. Toda hora eu estava orando, de noite (antes de dormir orava sempre), mas teve um dia em que me vi cansada. Orei: "Deus, sei que nunca falhas, cura minha filha, livra-a desses problemas logo, não agüento mais esperar. Tome logo uma decisão, se é para ela ficar do meu lado ou não, mas por favor acabe com esse sofrimento".

Logo me dei por conta do que estava pedindo a Deus e me imaginei sem ela, voltei a orar: "Senhor, me perdoe por estar sendo tão egoísta. Leve o tempo que for, eu vou suportar, sei que vou ser muito recompensada. Dure o tempo que durar, mas vou esperar até que minha filha fique melhor, e me perdoe mais uma vez por ser egoísta e não dizer que daria a minha vida a minha filha. É porque eu já a amo tanto, mas tanto, que gostaria apenas se possível, de dividir parte da saúde que tenho para viver ao lado dela e ver seu crescimento”. Chorei.

Depois de mais um tempo, Yasmin foi se recuperando. Nos exames não estava mais apresentando nenhuma infecção, só teve que fazer algumas transfusões sanguíneas (mais ou menos quatro) porque perdeu muito sangue nas cirurgias. Então saiu da UTI, logo depois saiu da incubadora, depois retirou o acesso da cabeça e depois a sonda. Enfim, foi parte por parte, até o médico liberar para ser amamentada pela primeira vez em meu seio! Que felicidade! Com mais de dois meses de nascida, era a primeira vez que ia mamar!

Começou a ganhar 5 gramas de peso apenas por dia, mamando no seio e com complemento de leite NAN. Começou a tomar 4 ml de leite e tinha que ganhar peso com apenas isso, sem proteínas na veia. Se perdesse peso, era mais tempo no hospital.

Cada dia ela engordava 5 graminhas, quando de repente, numa sexta-feira, o médico deu uma passada bem rápida na enfermaria só para me comunicar: "Ei moças, vocês estão de alta! E como hoje é sexta-feira, se não forem embora até às 17 horas, só terão alta na segunda-feira”. E sorriu.

Nossaaaa! Eu não acreditava! Eu não esperava! Realmente, Deus tarda mas nunca falha! O médico ria de mim, pela minha felicidade, pela cara que fiquei. Agradeci muito, por terem salvo minha filha, pela atenção e carinho que nos davam, e eles disseram: "não precisa agradecer nada, esse é o nosso trabalho, estamos aqui pra isso".

Liguei rápido pra minha família dando a noticia, o que deixou todo mundo maluco. O hospital era muito longe e eles ainda iam ter que comprar uma saída para ela, que fosse bem pequenina. O tempo que esperei para minha mãe chegar no hospital pra nos buscar foi mais longo do que aqueles longos 67 dias que estive ao lado da minha filha trancada num hospital, vivendo o nosso drama e o drama de outras pessoas (com outros lindos bebês que também sobreviveram e outros que viraram anjos).

A única dificuldade que Yasmin tinha em casa era de evacuar, pois tinha prisão de ventre devido ao leite que complementava, mas isso melhorou logo. Quando dei por mim ela já estava engatinhando, falando "mama", daqui a pouco andando e pedindo tudo. Hoje esta com 3 anos e aprontando todas, me deixando de cabelo em pé, ficando de castigo pra não jogar açúcar no nescau, pra não jogar manteiga no chá, pra não rabiscar a parede e pra não pintar a agenda da escolinha.

Enfim, é a razão da minha vida, quem me faz sorrir todos os dias! Eu não sei como explicar tamanho sentimento. Só tenho a agradecer a Deus por me tornar uma mãe especial, pois toda mãe de um bebê prematuro é especial, é a escolhida, é aquela que Ele acha que é capacitada para passar por todas essas coisas.

No final, não importa como, agente sempre é recompensada. Leve o tempo que for, ele nunca falha. Aconteça o que acontecer, não pense que é o fim, nada acontece sem ter um propósito. E se não for agora ou depois, não se preocupe, pois ele não vai esquecer de você.

Resumindo: 4 transfusões sangüíneas, 4 apnéias, infecção sangüínea, infecção no intestino, infecção urinária, 2 cirurgias, 67 dias internada. E uma vida inteira pela frente!"

Adriana, mãe da Yasmin

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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