28 de Abril de 2013

Surpresas e superação: a vida de Ana Valentina


Agradeço à Alinny pela grandeza e coragem de compartilhar sua história conosco. Desejamos muita saúde para mãe e filha, que sejam cada dia mais felizes juntas. Beijo grande!

"A gente é tão pequeno, gigante no coração" (Teatro Mágico)

A trombofilia nos trouxe a Ana Valentina mais cedo.

Um ano antes de engravidar, 5 meses de uso de anticoncepcional, tive uma tromboflebite na safena direita. Após isso, resolvi investigar sobre trombofilias e descobri ser portadora da mutação Fator V de Leiden.

Quando engravidei comecei a tomar Clexane todos os dias. O Clexane é um remédio injetável, e às vezes meu marido errava e acertava uma veia, o que me deixava com imensas marcas roxas na barriga e nas costas. Ele fez questão de aprender a aplicar para fazer parte desse momento.

Tudo corria bem, até que com 30 semanas nossa neném começou a apresentar retardo de crescimento. Eu tomei os corticóides para amadurecer os pulmões e isso foi o que livrou a Ana Valentina de ser entubada quando nasceu.

Meu acompanhamento, que era a cada duas semanas, passou a ser semanalmente. Com 34 semanas descobri que meu líquido amniótico estava muito baixo e fiquei 5 dias internada para hiperidratação, consegui adiar o parto por mais uma semana.

No dia 31 de dezembro de 2012 saí do hospital para passar o ano novo e meu aniversário, dia 2 de janeiro, em casa. Tinha um ultrassom marcado para o dia 3 de janeiro e neste dia meu líquido amniótico estava tão baixo que serviu de indicação para uma cesariana. Assim,um dia após meu aniversário, nasceu minha filhinha.

Ela nasceu com 35 semanas de gestação, completadas naquele dia, 40 cm e 1.890 kg. Nasceu respirando, mas ficou no oxigênio por 12h e foi direto para a UTI Neo, pois não tinha peso de 35 semanas e estava cheia de hematomas devido ao baixo líquido amniótico. Meu o útero estava comprimindo seu corpinho e, segundo a pediatra, ela nasceu na hora certa, pois dificilmente sobreviveria mais 48h dentro de mim.

Foram os piores dias da minha vida. Eu tive depressão pós-parto, não conseguia dormir durante a noite, meu leite não descia. Quando eu conseguia ordenhar 20 ml ficava feliz da vida, mas a dieta dela só aumentava e meu leite não. Me senti impotente por não conseguir alimentar a minha filha.

Ela ficou três dias no soro, não teve nenhuma infecção graças ao imenso cuidado pré-natal que tive. E enfatizo isso por ter consciência de que foram esses cuidados que contribuíram para o sucesso do prognóstico da minha pequena guerreira. Ela estava ótima, só era PIG (pequena para a idade gestacional) devido ao retardo de crescimento intrauterino. Mas, fora de mim ela crescia normalmente.

Ela teve icterícia e passou 72h com fototerapia, ficou muito sonolenta e não conseguia mamar e só saiu quando atingiu 1.900kg, pois chegou a pesar 1.700kg depois de nascida. A amamentação foi meu grande suplício, já que ela não conseguia pegar meu seio. Me diziam que ela só sairia da UTI quando começasse a mamar, então eu ficava das 9h até as 21h 30 minutos na UTI, com uma hora para almoçar e uma para jantar, tentando estimular a amamentação com a ajuda de fonoaudióloga e enfermeiras. Só tive sucesso após a introdução de um intermediário de silicone que fez um "bico" para ela sugar.

Fomos para a casa após 5 dias de quarto, pois tive depressão pós-parto e a pediatra não quis me liberar enquanto não criasse vínculo com ela. Depressão pós-parto é muito comum em mães de bebês prematuros, mas eu só fiquei sabendo disso depois que sai do hospital.

Tive muito medo no início, quando saímos. Não sentia segurança no aleitamento materno, achava que continuava sem leite, mesmo vendo ela "tomar banho" com meu leite a cada tentativa de fazê-la mamar em mim. Foi uma luta. Ela estava muito sonolenta, não queria saber de mamar, eu morria de medo dela perder peso e voltar para a UTI (mas isso nunca aconteceu) e no auge do meu surto, tive muita insegurança sobre minha capacidade para cuidar dela.

Tive muito medo de perdê-la durante toda a gestação e o parto prematuro. Sua estadia na UTI e as dificuldades de amamentação só aumentavam meu medo de perdê-la e, por isso, não conseguia formar vínculo com a neném. A pediatra percebeu isso e me receitou um remédio homeopático que melhorou e muito meus sentimentos e a depressão foi controlada.

Ainda estou com depressão, às vezes choro achando que não darei conta de cuidar da minha filha, mas estou me tratando, fazendo terapia e vejo mudanças. Tenho conseguido amamentar no seio, ela mama em mim durante o dia e toma duas mamadeiras de 120 ml de fórmula durante a noite, por indicação médica. Ela está engordando 40 g por dia, hoje pesa mais de 2.900 kg e tem 47cm.

A Valentina completou 40 dias e, de acordo com o médico, não tem nenhum sinal de atraso no desenvolvimento e está acompanhando sua idade cronológica. Segundo ele: "mocinha, só não contaram para você que você é prematura, né?"

Estamos bem e gostaríamos de compartilhar nossa história com todos os que passam por esse momento difícil de ver um filho na UTI, nascido antes do tempo. Queremos pedir que nunca percam a fé na vida. A natureza é sábia, a sucção da minha filha fez meu leite descer e chega a empedrar no meu seio. Eles racharam e quase desisti de amamentar, mas por ela insisti e hoje não existe felicidade maior que alimentá-la ao seio. Não desistam disso.

Papais, não ignorem a depressão pós-parto. Meu marido é meu grande companheiro e se não fosse por ele, não sei se aguentaria a barra. Ele ficava o dia todo do lado de fora, na sala de espera da UTI, observando por uma fresta na janela tudo o que eu fazia com nossa filha lá dentro. Hoje ele troca fralda, dá banho, as mamadeiras da noite, faz dormir, arrotar, troca a roupa dela. É um paizão.

Enfim, sejamos fortes pelos nossos pequenos valentes. O nome da minha filha significa isso: Valentina. E foi escolhido antes de saber que enfrentaria toda essa barra, antes de saber que eu tenho trombofilia e antes de saber que ela seria uma pequena guerreira.

Eles são fortes, suportam mais do que imaginamos e nos dão a força que precisamos para seguir adiante.

Fiquem todos na paz!"

Alinny, mãe da Ana Valentina.

Leia também:

"Trombofilia: trombose, prematuridade e anticoncepcional"

 

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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