05 de Julho de 2021

Nossa pequena e grande mulher

Cheguei no hospital em (29/04/2019), grávida de 27 semanas, de um casalzinho muito esperado e querido, após uma fertilização in vitro. Tive infecção urinária e fui diagnosticada com insuficiência cervical (colo curto) quando estava com 20 semanas. Coloquei o pessário, foi um parto às pressas, cesariana, movido ao medo e a dor. Comigo ficou tudo bem. Mas, sai apenas com um dos deles no colo: a minha menininha, a Sabrina. Davi foi para o céu, e não tive tempo de vê-lo vivo. Ela nasceu com 800g, medindo 33.5 cm, às 07:30, chegou a ter 720g, e recebia 3 gotas de leite materno pelo canto da boca.


Foram mais de 100 dias intensos de luta, incerteza, angústia e muita dedicação. Não tinha feriado, fim de semana. Todo dia era único, pois as melhoras que ela apresentava, por menores que fossem, eram comemoradas. A UTIneonatal é lugar de vitória, mas também de perdas. Todos os dias entram e saem bebês, que terão a chance de ficar, outros, não. Eu não sabia que existia aquele submundo. Ninguém me avisou. Cadê o berçário cor-de-rosa? Festa, alegria? É um buraco negro que se abre à sua frente. A cada ida ao banco de leite, reparava em outras mulheres. Olhares distantes, sem brilho, opacos. Era muito difícil entrar e estar ali e, ao mesmo tempo, redentor. O meu mantra era "tudo por amor". Precisava suportar para ela suportar. Não tinha muita força nas primeiras semanas, tudo muito nebuloso, esquisito, distante da realidade. É um choque. Decepção. Frustração. Culpa.
Esses sentimentos não vão embora por algum tempo.

Foram momentos intensos pra ela, pra nós. Muitas transfusões de sangue, tubos de oxigênio, medicações, curativos, injeções. Ela teve uma sepse gravíssima com 24 dias de vida, ficou alguns segundos sem respirar. Voltou a ser reentubada. A esperança? Ali firme, acompanhada de muita oração e entrega. Não fiz promessa, mas prometi que tentaria ser uma boa mãe, guiaria minha filha nos caminhos da fé cristã e a ajudaria a ser uma pessoa boa, misericordiosa. Ajudaria outras mães, igualmente. Meu marido e eu nos mudamos para um flat, de frente para o hospital, para ficar pertinho dela, dia e noite. Foi difícil, desafiador. Estava longe do aconchego da minha casa, da minha cama, da família, de tudo.

Ficamos 100 dias hospitalizados, na UTIneo do Hospital São Luiz, a quem sou eternamente grata. Saímos em (06 de agosto), às 14:00, uma segunda-feira de sol. Tenho muito orgulho de tudo o que vivi, e agora preciso ajudar quem passou ou passará por essa experiência, que beira o céu e o purgatório. Mas, como tudo na vida, passa. Hoje sou mais forte, senti a misericórdia de Deus na minha vida. Gratidão.”


(Relato da mamãe Adriana, enviado em 2020)

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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