10 de Novembro de 2023
Maria Helena
Nosso milagre chegou em março de 2019 devido a uma pré-eclâmpsia grave e com isso a nossa Maria Helena não podia mais esperar e decidiu vir para curar a mamãe, com apenas 31 semanas, pesando 1.290 kg. Chegou enfrentando a prematuridade, ficando 52 dias na UTI neonatal. Foram dias difíceis (sonda, cateter no umbigo, transfusão de sangue, distensão abdominal, esqueceu de respirar). Lembro como se fosse hoje o quanto tudo assustou e doeu para nós (papai e mamãe) nada do que imaginávamos aconteceu, sabe aquela festinha no quarto que todo mundo prepara? Aquele livrinho de visitas nunca preenchido, os amigos no quarto dizendo é a cara do papai? Então, não rolou. No primeiro dia o papai passou a madrugada ali sentado em uma cadeira rezando e olhando a filha tão desejada e amada por ele a lutar pela vida, (Ele sempre foi apaixonado por ela, aos olhos dele ela era perfeita, linda e forte e ele nunca duvidou que tudo ia ficar bem).
Enquanto isso mamãe dormia e se recuperava da cesária, ao acordar o susto do carrinho vazio no quarto e o desespero bateu saber que eu tinha uma filha prematura internada na UTI Neonatal. Fui ver minha Helena e a primeira informação que recebi na porta foi que temos ritual a cumprir: tirar a aliança, lavar muito bem as mãos e o braço até a altura do cotovelo, fechar a torneira com uma toalha de papel para não encostar nela novamente e colocar o avental. Não era permitido pegar a bebê para que não perca peso, todos os dias informavam o desenvolvimento dela. Segui para vê-la através do vidrinho. Lembro bem como ela estava com um ventiladorzinho que a ajudava a lembrar de respirar (o pulmão é um dos últimos órgãos a amadurecer). Na boca uma sonda, no pezinho uma borrachinha que pisca a luz vermelha do oxímetro, o aparelho que mede a oxigenação do sangue - o termômetro das "quedinhas" que são os benditos 88% de saturação. De cara já perguntei se podia tocá-la e eu disse que venceríamos.
Amparada sempre pelo papai da Helena ficamos ali olhando aquele bebê tão fraquinho, passava tanta coisa na minha cabeça e cheguei até pensar que ela não conseguiria, a fé e o coração dizia que SIM! Em resumo: o que vivemos não foi fácil. É tirar peso diário. Num dia ganha 10 gramas e no seguinte perde 15. Isso é um desespero! É se incomodar com as aspirações e manobras, mas saber que é um mal necessário. É ver picadas e mais picadas para exames e não respirar enquanto o resultado não aparece. É chegar ao hospital com medo do que vai ouvir do pediatra. Para ser mãe de UTI tem que virar pedinte e mendigar todo dia uma boa notícia. Mesmo que seja a bendita palavrinha "estável" - significa que não melhorou, mas também não piorou. E não se esquecer de agradecer o cocô e o xixi de cada dia. Sinal de que não tem infecção. Após 52 dias de UTI chegou o dia da alta para o quarto e lá passamos 13 dias e depois a tão sonhada alta para casa, a gente ficava das sete da manhã às 10 da noite no hospital.
Chegava em casa com aquele bip-bip ainda apitando nos ouvidos. Queria muito ir para casa com a minha Helena mas a alta é como um novo parto. Depois de 65 dias somando UTI e quarto, a nossa Helena saiu de um ambiente controlado, onde era pesada todos os dias e tinha a supervisão de um exército de médicas, enfermeiras e técnicos. Seguimos para casa com um bebê que requer cuidados redobrados. Levar nossa Helena para casa nos trouxe uma mistura de alívio com muita insegurança, como lidar sem os aparelhos tocando? Sem saber sua frequência cardíaca, sua saturação? A minha vontade era ter um aparelho daqueles em casa só por segurança! Ainda bem que o papai de Helena sempre foi muito atencioso, ele que fazia tudo. Hoje nossa Helena tem 4 anos de muita saúde e não ficou com nenhuma sequela, é doce, amorosa e muito decidida, é a nossa menina de Luz!