23 de Julho de 2019

Mais que um relato de parto, testemunho de um milagre

"O dia 13 de outubro de 2016 foi o mais intenso, angustiante, sofrido, preocupante e feliz da minha vida. Assim mesmo, tudo junto e misturado, quando senti todas essas emoções de uma vez.

Vou dividir por partes:

Gravidez

O Paulo Davi nasceu em outubro de 2014 e, apesar de ter nascido prematuro, com 34 semanas, tudo foi muito tranquilo. Recebemos alta com pouco mais de 24h. Não tivemos grandes problemas com a amamentação e ele quase nunca chorava. Sempre foi um bebê calmo e eu tive uma rede de apoio presente e incrível. Meu puerpério foi muito tranquilo. Eu e o Paulo Henrique ficamos mais próximos, ele foi muito parceiro e tudo isso contribuiu para que decidissimos ter logo outro bebê, queríamos que os irmãos tivessem idades próximas. Sendo assim, não utilizamos nenhum método contraceptivo depois do nascimento do nosso primogênito. Resolvemos deixar a natureza agir.

Como o Paulo Davi mamava muito, demorou um tempo pro meu ciclo voltar. Quando ele estava com 1 ano e quatro meses, meu ciclo voltou e no mês seguinte veio o positivo #vembebê2.

E com o positivo em mãos, tomamos 2 decisões:

Primeiro, vamos ter o nosso sonhado parto domiciliar. Já tínhamos a equipe, a única obstetra que atende parto domiciliar em Fortaleza, Bárbara Schwermann e a doula mais experiente da nossa cidade, fundadora da ONG PNF e amiga muito querida, Priscilla Rabello.

Segundo, só vamos saber o sexo do bebê quando ele nascer.

Desde a gravidez do Paulo Davi, mergulhei de cabeça no incrível mundo do parto normal e através do grupo do Facebook PNF (parto normal Fortaleza), tive acesso à informações de qualidade, além de conhecer profissionais humanizados, atualizados e que atuam baseados em evidências científicas.

Foi lá que soube que o parto domiciliar é seguro e viável pra mulheres com gestação de risco habitual, que é possível parir com o bebê pélvico, com circular de cordão, bebê grande, bebê pequeno, bebê prematuro e não só é possível, como é muito mais saudável para mãe e bebê.

Aprendi que cada contração e cada hormônio presentes no trabalho de parto é importante para a saúde do bebê e que, ao contrário do que eu pensava, a mulher que opta pelo parto normal, tem que lutar contra o sistema para consegui-lo. Então, munidos de informação e empoderamento, demos início ao pré-natal. A gravidez começou tranquila, fizemos a primeira ultrassonografia e tudo estava bem com nosso filho.

Acidente de carro

No final de julho, eu estava com três meses de gestação e fizemos uma viagem pra Natal (RN) de carro. No retorno da viagem, quando estávamos próximo à Mossoró, um motorista imprudente cruzou o nosso caminho. Nós colidimos com ele a cerca de 80km/h e, para honra e Glória de Deus, todos estávamos com o cinto de segurança e o Paulo Davi devidamente preso na cadeirinha.

A batida foi forte, o carro deu perda total, minha sogra quebrou o punho, minha irmã ficou com algumas escoriações, eu estava no banco de trás, entre minha irmã e a cadeirinha, meu cinto não era de três pontas e o impacto foi todo na barriga. O cinto pressionou a pele, queimou a gordura e necrosou o tecido, fiquei com uma lesão permanente nessa área.

Além disso, fraturei a clavícula. A dor que eu senti naquele dia e continuei sentindo nas semanas seguintes, era horrível, parecia que minha barriga estava sendo esmagada e encostava nas costas, era muito intensa e meu limiar pra dor é mínimo. Eu não consegui sair do carro, o Paulo Henrique teve que me tirar no colo, escutava o choro do meu filho ao meu lado e não conseguia me mexer, a dor me paralisava, o medo de ter acontecido algo de grave e ele ter se machucado, junto com a impotência de fazer algo por ele, foi devastador. Eu chorava desesperadamente. Graças à Deus, o Paulo Henrique e o Paulo Davi não sofreram nada.

O acidente foi próximo à um vilarejo, logo chegaram muitas pessoas pra ajudar, acionaram o Socorro, o Paulo Henrique ficou com o Paulo Davi, prestando esclarecimentos à PRF. Eu, Maisa e minha sogra fomos levadas de ambulância pra Mossoró e um desconhecido, que até hoje desconfio que era um anjo enviado por Deus, chamado Jorge, resolveu acompanhar a ambulância até o hospital, o pai dele estava internado lá e por isso, ele conhecia vários profissionais que estavam de plantão, agilizou atendimento para nós três, ficou correndo atrás de exames, conseguiu rapidamente que fizessem a cirurgia no punho da minha sogra.

Minha irmã tem diabetes e ele providenciou um lanche para evitar que ela tivesse hipoglicemia. No hospital que fomos atendidos não faziam ultrassom, foi ele quem nos levou de carro para maternidade, para que eu fizesse a ultra e soubéssemos como estava o bebê. Fiz o exame e foi diagnosticado que eu estava sem líquido amniótico, mas o coração do bebê batia normalmente, isso me tranquilizou um pouco. Passei a noite na maternidade em observação e foi a pior noite da minha vida até então. O Paulo Davi nunca tinha dormido longe de mim. Juntou isso à dor insuportável que eu estava sentindo e a preocupação com o filho que estava em meu ventre. Passei a noite chorando.

O Jorge levou meu esposo, nosso filho e minha irmã para dormirem na casa dele. No dia seguinte, fiz outra ultra que confirmou a ausência de líquido, a obstetra que estava de plantão fez um exame de toque e disse que o colo do útero estava fechado, sendo assim, não havia motivos para me manter internada, recomendou repouso e me deu alta. Voltamos pra Fortaleza (CE).

Pré-natal pós acidente

Ainda na noite do acidente, ligamos para Priscilla e contamos o que havia acontecido. Ela falou com a Dra. Bárbara e marcou nossa consulta. Quando chegamos em Fortaleza, ela fez questão de nos acompanhar durante a consulta, sabia que precisaríamos de apoio. Durante a ultrassom que fizemos no consultório foi constatado que realmente não tinha líquido. O prognóstico não era nada animador. O líquido amniótico é muito importante pro desenvolvimento do bebê, proporciona os movimentos que ele faz no útero, para desenvolver ossos e músculos e estimula o desenvolvimento dos sistemas pulmonar e digestivo. O maior risco do baixo volume de líquido, no primeiro trimestre, é o aborto. Eu ja estava muito fragilizada com tudo que tava acontecendo e saber do risco de perder meu filho, me deixou sem chão.

Sou grata à Deus, por ter colocado essas duas profissionais tão competentes e humanas em nosso caminho. Apesar de ter recebido a notícia da gestação de risco, me senti acolhida e amparada, as duas sempre foram muito solicitas e nos deram muito suporte emocional. Sou grata por cada abraço e palavra de apoio.
Passamos a ter consultas semanais, para que fôssemos acompanhando a quantidade de líquido e o desenvolvimento do bebê. Como ainda estava no primeiro trimestre da gestação, ainda não conseguia sentir os movimentos do bebê, então sempre ficava ansiosa pelas consultas, para que pudéssemos ouvir os batimentos. A Priscilla esteve presente em todas as consultas e como não sabíamos o que a Dra veria no ultrassom, ela queria estar junto para qualquer eventualidade. Eu tinha muita fé que meu filho nasceria bem e saudável, no tempo certo. Durante uns 40 dias, fiquei de repouso e bebendo bastante água. O líquido ia aumentando muito discretamente, quase impercetível, mas o bebê continuava crescendo, se desenvolvendo bem, para honra e Glória de Deus.

Até que chegamos na vigésima semana e fomos fazer a morfológica. Havia o risco de alguma má formação. Mas Deus é tremendo e mais uma vez mostrou o seu cuidado. Apesar do nível de líquido estar muito abaixo do mínimo aceitável, nosso bebê estava perfeito, crescendo saudável. Ficamos muito felizes. No final de Setembro comecei a perder líquido com sangue. Entrei imediatamente em contato com a Dra. Bárbara, que pediu para que fossemos no consultório para avaliação. Colo do útero fechado sem dilatação. Nessa consulta a Priscilla estava presente, como sempre, e tivemos uma conversa sobre o risco do parto prematuro.

À essa altura o parto domiciliar estava fora de cogitação. Ele só é possivel em gravidez de risco habitual, o que não era o meu caso. Eu havia trocado o plano de saúde, ainda estava na carência e não cobria o parto, portanto não poderia parir com a Dra. Bárbara. Se houvesse uma emergência teria que estar ciente de como proceder e a médica me explicou que quando sentisse o menor sinal de trabalho de parto, fosse o mais rápido possível ao hospital. Como era muito prematuro, o bebê nasceria rápido e seria necessário uma UTI Neo bem equipada. Decidimos que iríamos pra MEAC (maternidade escola). Estávamos conscientes do risco iminente do parto prematuro e eu orava para que desse tempo da Priscilla estar no Brasil, pois ela tinha uma viagem agendada para Portugal e só estaria em Fortaleza dia 20 de outubro.

Internação

No dia 9 de outubro acordei e senti a calcinha molhada. Quando fui ao banheiro, vi que era um líquido sanguinolento. Achei que fosse aumento da secreção e não dei importância, mas à tarde fui percebendo que a barriga estava ficando dura. Dependendo da posição que deitava, sentia dores. No decorrer do dia percebi os movimentos do bebê diminuindo. Entrei em contato com a Dra. Bárbara que me orientou a ir para emergência para ser avaliada. De noite, o Paulo Henrique foi buscar minha mãe, que estava na igreja e eu fiquei em casa esperando com o Paulo Davi. Comecei a perceber que quando a barriga endurecia, sentia cólicas.

Resolvi escrever todos os sintomas que estava sentindo no Google, resultado da pesquisa: trabalho de parto prematuro. Só então me dei conta do que estava acontecendo e comecei a chorar, estava muito preocupada, ainda era muito cedo para o meu bebê nascer. Eles chegaram e quando entrei no carro, as dores se intensificaram. Fiquei com medo dele nascer ali mesmo. As cólicas vinham cada vez mais fortes e demoradas. Estar dentro do carro, sem posição que aliviasse as dores, era extremamente desconfortável.

Chegamos na meac e o Paulo Henrique ficou com o Paulo Davi. Minha mãe entrou comigo e enquanto ela preenchia a ficha, fui me sentar. Começou a sair líquido, eu chorava muito, mais pela preocupação do que pela dor. Chegou a minha vez de ser atendida, fizeram o exame de toque e eu tinha descolamento de membrana. Teria que ficar internada. Foi prescrito sulfactante e corticóide para tentar acelerar o desenvolvimento dos pulmões e coração do bebê e antibióticos para evitar infecções. Nessa hora meu desespero dobrou, além da preocupação com o meu filho que estava em meu ventre, meu coração ficou apertado pensando no Paulo Davi, que ficaria longe de mim. A única noite que tínhamos dormido separados foi quando aconteceu o acidente, ambos passamos aquela noite em claro e chorando. Sabia que seria muito difícil para ele ficar longe de mim.

Fui transferida para a sala de parto, colocaram o soro com o sulfactante e passei a noite sentindo contrações, com intervalos de cinco minutos, que duravam em média, dois minutos. Não consegui dormir e minha mãe passou a noite acordada comigo, a cada contração eu gritava de dor, tinha certeza que meu bebê nasceria naquele dia, mas quando o plantonista foi avaliar o colo do útero, não tinha dilatação. O sol nasceu, as contrações cessaram e eu dormi. Apaguei, pois estava muito cansada. Ao meio dia fui transferida para enfermaria e administraram uma medicação para inibir o trabalho de parto. Não senti mais contrações e nem perdi mais líquido.

Coletaram sangue para realizar alguns exames, fizeram ultrassom para avaliar o bebê, que graças à Deus estava bem, mas ainda era muito cedo para nascer, estava com 24 semanas e 4 dias, pesando aproximadamente 650g e permanecia sentada, como já estava há semanas. Minha pressão arterial e temperatura corporal estavam normais. Aguardei a avaliação do próximo plantonista, que me informou que o procedimento padrão, em casos como o meu, era internação até trigésima sexta semana de gravidez. Eu questionei, era inviável permanecer mais de dez semanas longe do meu filho e perguntei qual a real necessidade de ficar tanto tempo, caso tudo estivesse bem comigo e o bebê. Segundo ele, seria mais fácil identificar alguma possível infecção e tratar em tempo hábil.

Na enfermaria que eu fiquei, tinham mais seis mulheres, todas internadas há mais de um mês e esperando chegar a trigésima sexta semana. Eu chorava o tempo todo, só pensava em ir para casa. Resolvi esperar os resultados dos exames, caso tudo estivesse bem, assinaria o termo de responsabilidade e iria embora. Eu estava emocionalmente debilitada, queria meu marido e meu filho perto e mim. Ao amanhecer minha mãe havia ido trabalhar e quem ficou me acompanhando foi minha prima/comadre/amiga Amanda, foi bom tê-la ao meu lado, passamos a manhã e parte da tarde conversando amenidades, assim consegui me distrair e relaxar um pouco. No final da tarde meus Paulos foram me visitar. Falaram com a assistente social, que liberou a entrada do meu pequeno até o hall de entrada. Eu desci e fiquei com eles lá embaixo. Assim foi durante os dias que fiquei internada, eles iam de manhã e à tarde ficar comigo, estar com eles era um bálsamo para minha alma, o Paulo Davi não parava quieto um minuto, corria, queria mexer em tudo, subia e descia a escada e na hora de ir embora me dava tchau e nem olhava para trás, vê-lo assim tão bem, acalmava meu coração.

Queria muito que o Paulo Henrique fosse meu acompanhante, mas o melhor para o Paulo Davi, que já estava longe da mãe, era ficar junto do pai, por isso, quem me acompanhou durante a internação foi minha mãe. Quando estava comigo ela era uma verdadeira fortaleza, me apoiava e tentava me tranquilizar o tempo todo, mas longe de mim, ela desabava, chorava minhas lágrimas e sentia minha dor. Falava com o meu esposo que já não tinha forças para suportar meu choro e mesmo assim, permanecia ao meu lado. Na quarta feira, dia 12 de Outubro, estava determinada à ir pra casa, no dia seguinte sairia o resultado dos exames ,e caso tudo continuasse bem, assinaria o que fosse necessário, continuaria fazendo em casa, o que estava sendo realizado no hospital, aferição de pressão, medição de temperatura corporal, administração do antibiótico e qualquer intercorrência iria para a emergência.

Parto

Por volta das 22h da quarta-feira, comecei a sentir leves cólicas. Não encontrava posição para dormir, então acordei minha mãe e pedi à ela para chamar alguém da equipe do plantão, queria tomar um remédio para aliviar a dor. A enfermeira trouxe um analgésico e perguntou se estava sentindo mais algum sintoma, eu disse que não. Ela me avisou que o intervalo mínimo da medicação, seria quatro horas, sendo assim, so poderia tomar outro às 2h. Me levantei, fui ao banheiro e percebi que estava perdendo líquido. As cólicas não passaram, fui até o posto de enfermagem e informei o que estava sentindo. Me orientaram à deitar e aguardar as cólicas passarem, mas elas foram ficando mais intensas, até que ficaram insuportáveis.

Acordei a minha mãe, que correu para chamar alguém. A obstetra de plantão veio e quando fez o toque disse que estava com 8cm de dilatação. Entrei em pânico e comecei a chorar compulsivamente, muito preocupada com meu bebê, ainda tão imaturo e pequeno. Tinha consciência que as chances de sobrevivência com aquela idade gestacional eram mínimas. A obstetra solicitou o maqueiro com urgência e enquanto ele chegava tentava auscultar o bebê. Após muitas tentativas frustradas, ela enfim conseguiu ouvir os batimentos. O maqueiro chegou, me colocou numa cadeira de rodas e subimos para a sala de parto. Minha mãe sempre disse que não queria me acompanhar durante o parto e começou a ligar para o Paulo Henrique, mas ele estava na rotina louca com o Paulo Davi e só quem passa 24h cuidando de uma criança de dois anos, sabe o quanto é desgastante e cansativo.

Então à noite ele não dormia, simplesmente desmaiva de exaustão, por mais que minha mãe ligasse, ele não acordava. Quando chegamos na sala de parto, fomos recebidas por outro obstetra, nova avaliação, 5cm, cheguei a pensar que a dilatação estava regredindo e criei a ilusão de que, poderia regredir a zero e meu bebê pudesse nascer à termo. Doce ilusão.

Fui colocada na cama, colocaram o soro com sulfactante. Na sala de parto tinha bola e barra para fazer agachamento, itens que eu sabia que estimulariam e acelerariam o tp, mas eu fiquei sentindo as contrações deitada, quase imóvel, querendo retardar o parto, eu realmente acreditava que era possível reduzir a zero a dilatação.
Enquanto isso, minha mãe continuava ligando pro Paulo Henrique, no intervalo das contrações, eu enviava mensagens pro whatsapp dele informando o que Estava acontecendo. Ás 5h20 nova avaliação, dilatação total, 10cm, o obstetra apalpou minha barriga para localizar a cabeça, eu disse que o bebê estava sentado e ele confirmou, olhou para mim e disse, seu bebê vai nascer agora.

A cama PP que eu estava deitada, parecia uma maca, mas a enfermeira articulou até ela ficar parecida à uma cadeira. Não senti os puxos, a vontade involuntária de fazer força. Meus puxos foram dirigidos, o obstetra se posicionou na minha frente e me orientou à fazer força durante a contração. Eu fiquei sentada na cama PP, segurando em duas barras laterais, com as pernas flexionadas. Naquele momento eu sabia que de qualquer forma ela nasceria. Foi como se somente naquele instante, a ficha caísse. E foi a hora que mais chorei. Em nenhum momento eu duvidei que meu bebê nasceria vivo e que eu o levaria para casa bem e saudável, mas tinha consciência que na melhor das hipóteses, ficaria bastante tempo internado e eu sofria muito pensando no tempo que ficaríamos longe.

Quando veio a contração, eu fiz força urrando, jogando a cabeça para trás e puxando as barras de ferro. O obstetra disse que eu estava fazendo força da maneira errada, que eu deveria encostar o queixo no peito e fazer força de cocô. Na contração seguinte, fiz como ele me orientou e assim que comecei a fazer força, ele colocou os dois indicadores no meu canal vaginal. Isso foi extremamente doloroso, imediatamente perdi a força e pedi para que ele não fizesse mais, mas ele disse que era necessário para ajudar meu bebê a descer, já que era muito pequeno. Nova contração, faço força urrando, ele coloca os dedos, perco a força e ficamos nessa por mais umas três contrações. Quando veio mais uma, eu não gritei, fiquei fazendo força em silêncio para evitar que ele novamente colocasse os dedos, quando ele percebeu que eu estava tendo uma contração, fingi que tinha passado e falei com uma voz de alívio: passou.

Usei essa tática por mais algumas contrações até que senti o corpo quentinho descendo, ele falou, saiu o bumbum. Eu perguntei, é menino ou menina. Quando ele disse que era uma menina eu fui inundada por uma emoção indescritível, a minha menina estava nascendo, Minha Clarisse, meu milagre. Comecei a chorar e orar aos gritos, clamava à Deus à plenos pulmões: Senhor Jeová, toma minha filha em teus braços, livra ela de todo mal, não permita que nada de ruim aconteça à ela. Derrama a unção da cura sobre ela e dá saúde em abundância à minha pequena, em nome do teu filho amado Jesus. Eu te imploro Senhor. Para honra e Glória do teu nome.

Naquele momento, eu não sentia mais dor, era toda amor e Gratidão à Deus, apesar de preocupada pela prematuridade, estava muito feliz por ter sido capaz de proporcionar um nascimento saudável para minha filha. O parto normal é muito importante para qualquer bebê, mas para um prematuro é muito mais. O trabalho de parto, as contrações e a compressão do bebê ao passar pelo canal vaginal, ajudam a limpar os pulmões do bebê, permitindo um melhor status respiratório ao nascer. Mais uma contração e ela nasceu. Eram 5h45 e os primeiros raios de sol invadiam a sala, através das venezianas da janela. Ele colocou ela sobre a minha barriga para clampear o cordão, eu senti o corpo quentinho sobre o meu, tão pequena, tão frágil e imatura. A pediatra neo levou e minha mãe foi junto para acompanhar os procedimentos. De lá, minha bebê foi levada para a uti.

A placenta nasceu, sem dores. Minha mãe voltou e pedi o celular para ligar pro Paulo Henrique. Ele despertou com o toque do celular, não viu as ligações perdidas e nem as mensagens que enviei anteriormente. Quando ouvi a voz dele falei com a voz embargada, nossa filha nasceu. Foi tudo que consegui dizer e desabei em lágrimas, passei o celular para minha mãe que contou tudo que aconteceu. Ele foi com o Paulo Davi para a maternidade, minha mãe foi para casa com o nosso pequeno e nós fomos finalmente conhecer a nossa bebê. Quando chegamos na UTI, fomos acompanhados pela psicóloga. Ela nos levou até a incubadora que a Clarisse estava, tinha um papel escrito as informações de nascimento. 25 semanas, 730g.

A visibilidade era mínima, a incubadora estava toda embaçada, por causa da umidade. Ela estava com o corpinho envolto num saquinho, a pele tão fininha, dava para ver cada vasinho. Muito pequena, 32cm. Entubada, tomando banho de luz, com um óculos cobrindo os olhinhos. Foi muito difícil ver minha bebê daquele jeito, chorei copiosamente, soluçando bastante. A pediatra que nos recebeu disse que o estado dela era gravíssimo.

UTI Neo

Vou escrever um breve resumo, em outra oportunidade escreverei com detalhes a nossa saga. 

A Clarisse nasceu com os pulmões muito imaturos, ela foi entubada e assim ficou por mais de 40 dias. Passou por duas cirurgias, uma delas no coração. Foram 99 dias de internação e para honra e Glória de Deus, hoje é um bebê saudável. Serei eternamente grata à toda equipe da meac. São instrumentos de Deus na vida daqueles pequenos, verdadeiros anjos a ajudam à salvar vidas diariamente.

Foram vocês que estavam ao meu lado quando senti pela primeira vez a mão da minha filha, quando a peguei no colo, quando dei o primeiro banho, quando ela mamou pela primeira vez, quando conseguiu respirar sozinha, enfim... momentos únicos, eternos e extremamente especiais. Obrigada por todo o amor que vocês destinam à profissão que escolheram e aos filhos do coração que acolhem diariamente. Podem ter certeza de que Deus guiou cada uma de vocês diante dessa escolha profissional. Uma escolha que atinge o coração e a alma, não somente o lado técnico e/ou financeiro."

(relato da mamãe Marília Monte Sales, enviado em 2018)

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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