17 de Outubro de 2013

Lucas: a prova de que milagres existem

“Tudo começa com a história de um casal normal, casados há pouco tempo e com um sonho único: ter um filho. Vocês devem estar pensando que é uma história comum, como qualquer outra. Começa com o projeto de engravidar, em seguida vem a confirmação tão esperada e depois um parto lindo, emocionante e perfeito. É, eu também achava isso, até que...

No dia 04 de julho de 2012, com 23 ½ semanas de gestação, eu comecei a sentir dores e tive um pequeno sangramento. Chegando ao hospital e sem saber direito o que estava acontecendo, meu marido perguntou ao nosso médico: ‘Qual o risco, doutor’? O médico, já com o rosto muito preocupado, nos disse: ‘O risco é nascer’. Eu tinha entrado em trabalho de parto e já apresentava 3 dedos de dilatação.

Foi então que a nossa vida mudou, tudo virou de cabeça para baixo, todos os nossos planejamentos, sonhos, tudo se esvaecendo, sumindo.

Fiquei internada por quase um mês em repouso absoluto até que, no dia 30/07/2012, a bolsa estourou e aí não tinha mais como evitar, o fato tão temido aconteceu. Com 27 semanas de gestação, passei por uma cesárea e o nosso anjo nasceu, tão pequeno e frágil que eu desfaleci quando vi o corpinho dele naquela incubadora, todo invadido por tubos, cateteres e sondas. Pesando 1,155kg e medindo 32cm, nosso príncipe chegou ao mundo.

Na primeira semana, nosso pequeno enfrentou muitos problemas graves em decorrência da prematuridade, até hemorragia cerebral ele teve. Sofremos muito, eu, particularmente, me sentia castigada por Deus, como se Ele estivesse fazendo aquilo para me atingir, me machucar, me punir por algo de errado que eu pudesse ter feito. Cheguei até a pedir a Deus que, se o pior fosse inevitável, que Ele o levasse logo, porque eu não agüentava ver meu filho tão amado passando por um sofrimento tão grande.

Mas Deus não quis assim. Aos poucos a hemorragia foi diminuindo, o coraçãozinho e o pulmão foram se fortalecendo. Mas, como diziam as médicas da UTI, o prematuro é uma caixinha de surpresas e, quando tudo parecia estar evoluindo, as coisas pioraram. De um dia pra outro, chegamos na UTI e aquele que estava na incubadora não parecia mais o nosso Lucas, ele havia contraído infecção hospitalar e ela se alastrou por todo o corpinho dele, deixando sua pele acinzentada. Pesava então 890g e parecia estar se entregando. Foi o pior dia dele no hospital e o pior dia da minha vida.

Os remédios foram fazendo efeito e, quando a infecção estava quase controlada, recebemos a seguinte notícia da médica plantonista: ‘Olha, pais, em decorrência da hemorragia cerebral, o Lucas desenvolveu hidrocefalia e vai ter que passar por uma cirurgia para colocação de uma válvula na cabecinha’. Foi um momento muito difícil. Vou confessar a vocês, naquele momento eu não tinha mais forças nem esperança, estava revoltada com Deus e nem com Ele eu queria conversa.

Foi aí que entraram tantas pessoas queridas, que me apoiaram incondicionalmente nessa jornada, como meus pais, irmão, sogros, tios, primos, amigos, etc. Quem se destaca nessa história é meu marido, Eduardo Ruiz (o Duda), desde o começo ele agüentou tudo sem reclamar, estava sempre lá, para tudo que eu precisasse. Me ouvia chorar dia e noite e, segurando seu próprio choro, me consolava sempre dizendo que tudo daria certo, confiando em Deus sobre todas as coisas. E naquele momento em que tudo parecia perdido, ele se mostrou uma pessoa equilibrada, serena e dono de uma fé inabalável, era como se Deus falasse comigo através dele. Todos me consolavam, me diziam palavras de carinho, mas quando ele falava comigo era diferente, ele me acalmava e me trazia paz. E assim, com muito apoio e muita fé, eu consegui suportar os 80 dias de internação. Então o nosso pequeno finalmente teve sua primeira alta e foi pra casa.

Pensam que acabou por aí? Não, a jornada estava apenas começando. No dia seguinte da alta, fomos à oftalmologista e, ao examinar o Lucas, ela pediu para que o internássemos novamente urgentemente, pois ele teria que passar por mais uma cirurgia, agora nos olhos. O risco era perder a visão, caso a cirurgia não fosse realizada imediatamente. Desesperados, saímos do consultório, voltamos pro mesmo quartinho do Evangélico e começamos tudo de novo. Graças a Deus, a cirurgia correu bem e, 3 dias depois, tivemos alta novamente.

Fomos pra casa felizes da vida, pensando que NUNCA mais teríamos que voltar prá lá. Ficamos 24h em casa e, adivinhem, tivemos que levar o Lucas no Hospital de novo porque ele apresentava dificuldades para respirar. Chegando lá, ele já estava todo faceiro, como se nada tivesse acontecido. Vendo aquilo, a pediatra achou por bem nos mandar pra casa pela terceira vez. Pensam que fomos pra casa? Não! Dessa vez não deu nem tempo, dentro do carro mesmo o Lucas teve uma parada respiratória, o seu corpinho desfaleceu e ficou roxo por inteiro. Imaginem o Duda dirigindo com a cabeça pra fora do carro, buzinando e gritando que precisava chegar ao hospital e eu atrás chacoalhando o Lucas como se quisesse fazer a vida voltar pra dentro do corpinho dele. O pânico havia tomado conta da gente. Voltamos ao Evangélico e então a médica resolveu interná-lo pela terceira vez. Foram mais 5 dias de hospital quando, finalmente, fomos pra casa em definitivo.

A rotina em casa era mais tranqüila mas, mesmo assim, demoramos alguns meses para nos adaptar. Nos dois primeiros meses, tínhamos um cilindro de oxigênio e enfermeiras que nos ajudavam a cuidar do Lucas durante a noite, tamanha era a nossa insegurança. Além das vovós que ficavam com a gente durante o dia.E tinham também as consultas médicas. Lembro como se fosse hoje da primeira consulta com a neuropediatra, ao olhar a tomografia do Lucas e o estado clínico dele, ela nos disse que existia a possibilidade de que ele viesse a ter seqüelas sérias como não andar e não falar. Pensem como é para um pai e uma mãe ouvir isso. O mundo havia caído de novo sobre as nossas cabeças mas, mais uma vez, o Duda não titubeava, ele dizia que, se existisse uma chance de tudo dar certo, era nisso que tínhamos que confiar.

Uma frase que ele sempre dizia pro Lucas ao deixarmos a UTI toda noite era: ‘Continue surpreendendo, meu filho’. E como uma profecia divina, assim aconteceu e acontece até hoje. A cada consulta, os médicos ficam mais impressionados com a capacidade de recuperação do nosso guerreiro. O que escutamos dos médicos hoje são só coisas positivas e previsões mais que otimistas.

Hoje somos uma família normal, temos um filho lindo e saudável e, quem o vê, nunca imagina a maratona que ele passou para hoje estar entre nós, nos trazendo tanto amor e tanta alegria. É como se tivéssemos acordado de um terrível pesadelo. Nós estamos deixando para trás todo o sofrimento e abraçando com toda força essa chance que Deus nos deu de sermos uma família feliz.

Não podia deixar de dedicar um parágrafo deste texto aos nossos pais. O que eu tenho a dizer a vocês é que, além de agradecimentos infinitos por terem nos apoiado de maneira incondicional, eu queria pedir desculpas, desculpas por ter feito, mesmo que involuntariamente, vocês passarem por tanto sofrimento. Hoje que sou mãe, imagino como deve ter sido quase impossível suportar tanta dor em silêncio, porque afinal, vocês tinham que se manter fortes para nos consolar. Mas, por outro lado, vendo hoje a alegria de vocês na presença do Lucas, acredito que, como eu, vocês tenham a certeza de que tudo isso valeu a pena.

Para encerrar, eu queria dizer a vocês que disso tudo eu levo comigo cinco ensinamentos:


  1. Valorizem seu companheiro(a), eles são mais do que a gente imagina, é como se fossem a extensão do nosso próprio corpo e por isso te conhecem como ninguém;

  2. Valorizem seus pais, eles representam um porto seguro, é como se, mesmo que um dia tudo dê errado, você sabe que tem a quem recorrer, para onde fugir;

  3. Acreditem em milagres, porque eles existem. Se restar dúvidas, é só passar lá em casa que eu apresento a vocês, o nome dele é Lucas e ele acorda todo dia pontualmente às 6h30min da manhã com um sorriso lindo;

  4. Deus é bom com seus filhos, mesmo que às vezes nós não sejamos tão bons com Ele;

  5. E o último ensinamento é de que Deus fala com a gente, às vezes não da maneira que estamos esperando, mas na SUA maneira. Se algum de vocês acha que Deus ainda não falou com você, preste atenção nas pequenas coisas, nas pessoas que ele coloca ao seu redor, Ele pode estar falando com você através delas.


Em nome de toda a família e de todos que estiveram envolvidos nesse processo tão doloroso e ao mesmo tempo tão bonito, eu quero agradecer ao verdadeiro protagonista dessa história toda: muito obrigada meu Deus.”

Francine, mãe do Lucas

Leia mais histórias de bebês prematuros.

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

Compartilhe esta história

Tem uma história de prematuridade para compartilhar?

Envie seu relato para gente e faça a diferença para quem precisa de palavras de força e esperança nesse momento.

envie sua história

Conheça outras histórias

Veja histórias por:

    Últimas Notícias

    Receba as novidades

    Assine nossa newsletter e fique por dentro de tudo que acontece no universo da prematuridade.