22 de Maio de 2014
Lorenzo e Enrico: uma dupla super fofa e forte
“O quarto 437 se transformou na minha casa, e foi ali que durante 3 meses eu fiquei, deitada, pedindo a Deus que salvasse os meus bebês e que eu pudesse realizar o meu maior sonho: ser mãe!
Era dia 24 de setembro de 2013, eu estava com 21 semanas de uma gestação gemelar. Fiz uma ultra em Natal (RN), onde morávamos há quase 4 anos, e o médico detectou que o colo do meu útero estava abrindo. Imediatamente, ligamos para a médica de SP e ela pediu que viéssemos embora, pois precisava me examinar e ver como proceder.
Fomos na consulta e realmente o meu colo do útero estava abrindo e muito curto. O bom seria 2,3cm, 2,5cm, o meu estava 1,5, o risco de nascer a qualquer momento era grande. Para tentar segurá-los o máximo possível, o repouso deveria ser absoluto, só cama e banheiro.
A obstetra me deu uma carta para fazer uma ultra específica com um especialista no Centro Paulista de Medicina Fetal, e fomos ver a possibilidade de colocar o pessário, uma espécie de anel no colo do útero para ajudar a segurar. Era a única maneira de tentar levar a gravidez adiante, e faríamos tudo que estivesse ao nosso alcance.
Eles estavam com 1/2 quilo cada, e tinham que ter pelo menos 1 kg para nascerem em segurança. Ele examinou, explicou tudo, o colo estava mesmo curto, 1,5cm, e já tinha infecção no local. Foi decidido pelo pessário e o querido Dr. Antonio Moron colocou ali mesmo.
Fizemos uma reunião e fui internada na mesma noite no Santa Joana. Fiquei na semi intensiva para acompanhar tudo: o pessário, a medicação certa, o antibiótico para infecção e repouso. Depois de uma semana, foi realizada uma transvaginal e uma morfológica: o Enrico pesando 593 gramas e o Lorenzo pesando 620 gramas. O médico que me internou, minha obstetra e eu concordamos que eu ficaria ali até nascerem.
As semanas foram passando, eu ali, cuidando de mim e dos meus tesouros, e o meu marido em Natal (RN), preparando a mudança para voltarmos a morar em SP, perto da família e de uma melhor estrutura, pois precisaríamos de muita ajuda! O meu quarto era sempre animado, ganhei dois chás de bebê, fizemos dois amigos secreto, comemoramos aniversários... os balões faziam parte da decoração. Isso me deixava forte, pois eu sabia que fora dali a vida deveria ser sempre uma festa, assim como eu gostava. Agradeço eternamente a cada um que ali passou, amigos, família, médicos, enfermeiras, cada um que fez com que essa história acontecesse dessa forma. Ficar em uma cama de hospital por mais de 3 meses não é nada fácil e toda força que recebi nunca será esquecida.
A minha rotina era quase sempre a mesma e a tv e a internet eram minhas grandes companheiras. Café da manhã, lanche, almoço, lanche, jantar, lanche, exames semanais, medir pressão e temperatura várias vezes ao dia, visitas, dias bons, outros nem tanto, ouvir os coraçõezinhos deles todos os dias e o tempo ia passando.
Toda mulher sonha em engravidar, montar o enxoval, passear, mostrar o barrigão para o mundo, e comigo acabou sendo diferente. Passei a maior parte da gestação na cama e, graças a internet, às amigas, a minha mãe, minha sogra, minha cunhada, é que consegui fazer o enxoval inicial para que os meninos pudessem nascer.
A nossa vida estava dando uma volta imensa, tudo às pressas, sem planejamento, como não costumávamos fazer. Voltar a morar em SP, sair daquela vida que era tão boa, deixar os amigos para trás, voltar a viver nessa loucura que é a cidade grande... tudo tão de repente, o coração estava prestes a explodir. Era muita mudança em tão pouco tempo, vida nova, casa nova, cidade nova, bebês novos, ano novo, tudo novo! Graças a Deus, tudo caminhava da melhor forma e foi dando certo.
Era uma manhã como outra qualquer, levantei, fui ao banheiro e voltei para tomar meu café quando a bolsa estourou! Chamei as enfermeiras, liguei para o marido, que tinha chegado em SP naquela madrugada (por coincidência, a nossa mudança também chegou naquela manhã), avisei a família e me preparei para a grande hora!
Eles nasceram saudáveis, em 12 de dezembro de 2013, de 32 semanas, Enrico às 15h02min, com 1,690 kg, e Lorenzo às 15h04min com 1,845 kg. Ficamos na UTI Neonatal por 17 dias, uma luta diária e muita fé! Eles só precisavam ganhar peso para que tivessem alta, respiravam sem aparelhos, os pulmões estavam perfeitos, e tomaram banho de luz por apenas 48 horas. Eu só tinha a agradecer a Deus por tanta sorte! Meus meninos eram prematuros, porém perfeitos, sem problema sério algum, e ganhar peso foi consequência de todo amor e dedicação. Eles eram FORTES! Se mostraram dois guerreiros, desde o ventre, e ali não seria diferente.
A vida de "mãe de UTI" não é nada fácil, só quem passa sabe o que vai no coração de cada uma ali, tantas histórias de vida, de luta, de milagres. Passamos a noite de Natal com eles na UTI, uma noite mágica e especial, de muita força e muita luz, e no dia 29 de dezembro eles tiveram alta! Nossa virada de ano foi em casa e com muita alegria! Não poderia haver presente maior do que tê-los em meus braços, lindos e saudáveis.
Aos 28 dias de vida, Enrico sofreu uma cirurgia de emergência, hérnia inguinal, mas logo se recuperou e fomos pra casa. Outra luta que vencemos com fé e alegria.
Hoje, com 5 meses de vida, são os meninos mais lindos do mundo, fofos e saudáveis. A nossa maior alegria! E, quando olhamos para trás, percebemos que nada poderia ter sido diferente, o susto, a vinda de emergência pra SP, a minha internação, cada dia ali naquela cama, a prematuridade de 32 semanas, a UTI Neonatal, e hoje a nossa rotina.
Essa é a nossa história, de muita fé, muita luta e muita alegria! Deus sabe certinho como cuidar de cada um de nós e nada, nada mesmo, nos acontece por acaso. Hoje somos mais maduros, o sentido da "vida" se mostra diferente, detalhes antes não vistos, emoções não sentidas, atitudes não pensadas, sentimentos não falados, hoje tudo tem um sentido diferente.
Eu não poderia querer outra história, essa é a minha, que me trás orgulho e força para querer viver com muita alegria todos os dias da minha vida, ensinando aos meninos o verdadeiro sentido do amor!”
Camila, mãe do Enrico e do Lorenzo