29 de Agosto de 2012

Histórias Reais | O pequeno Gui: a luta pela vida









Gui com 7 dias de vida, pouco depois de ser extubado.

"Resolvi compartilhar com vocês um pouco da minha experiência como mãe de UTI. Tudo começou aqui:

O POSITIVO

     Aconteceu quando eu estava com 21 anos, cursando biologia, trabalhando e estagiando.

     Eu não fui de repente mãe porque recebi meu positivo aos 21 anos, mas porque recebi meu presente 20 semanas depois.

     Conforme o passar do tempo, a idéia foi sendo digerida e gerada, quando se aceita a condição de estar gerando uma vida, é gerado não só o bebê que cresce dentro de você, mas todas as expectativas que o cerca. O positivo é apenas o começo desta longa jornada que se chama 'maternidade'.

O NASCIMENTO
     Foi tudo muito de repente.
De repente eu descobri que estava grávida

     De repente eu já estava com 16 semanas...
     De repente eu descobri que aguardava um menino...

     De repente ele nasceu...

     De repente EU já era Mãe!

     Ser mãe não é tarefa fácil e nem pra toda mulher, mas ser mãe de UTI transpõe todos os nossos limites. Quando a notícia do parto prematuro chega, muitos porquês e serás a acompanham. Porquê comigo? Será que vai dar tudo certo?

     Ver seu filho com aquela parafernália que nem imagina pra que serve e que são tão invasivas pra você quanto pra ele, seu bebê ali... tão quieto, magrinho, indefeso nos dá uma vontade: estar lá no lugar deles!

     Primeiro você tenta processar todas as informações passadas pelos médicos que carinhosamente te ensinam pra que cada aparelho serve, qual é a função dele estar ali e quando provavelmente vão sair. Explicam que ali tudo é questão de tempo, paciência e MUITO AMOR, e que ficar quieto é a resposta mais inteligente do pequeno corpinho que precisa agora trabalhar sozinho, o que requer muita energia, energia que um prematuro não pode gastar e se aquieta para sabiamente guardá-la para aquilo que realmente necessita: respirar e se alimentar. Tá, mas vai colocar isso na cabeça da mãe-prematura que acaba de ser arremessada num mundo completamente diferente e nunca antes sonhado? Lembra das expectativas que geramos? Ter seu filho aos 9 meses de gestação é uma delas.

     Uma mãe de UTI não sabe o que é a dor do parto, seja lá qual tenha sido ele (normal, cesário), mas sabe bem o que é dor no coração, quase insuportável. O bicho mãe é forte, corajoso e quando percebe que não há outra saída, luta, dá suporte, ama incondicionalmente, encontra força onde jamais imaginou encontrar, na fragilidade!

     Ver aquele minúsculo ser lutando para sobreviver é a motivação de todos os dias para o coração quase doente das mães-prematuras.










Guilherme, já com 1800 gramas.

A LUTA
     Eis que é chegado o dia da alta, da SUA alta, completamente diferente do que você imaginou, não chegou o dia de levar seu filho(a) pra casa, mas você não pode mais ficar ali e precisa ir, sem um pedaço seu.
     Chegar em casa é ainda mais difícil, entrar naquele quadrado sagrado é muito sofrido, o primeiro dia é uma martelada, mas acredite, somos capazes. Os dias vêm e vão e você vive em função dos progressos do pequeno que luta incansavelmente.
     Dias inteiros de UTI, pouco falamos, pouco comemos, oramos muito, observamos muito, choramos muito, vibramos muito, tudo muito intenso. As noites são rápidas, chegamos exautos e corremos pro telefone, precisamos de notícias para conseguir tomar um banho, comer e dormir (esses itens são necessários para nos manter em pé e só por isso, acredito EU, que nos obrigamos a fazê-los).
     Escovar os dentes e lavar o rosto também ficam pra depois, porque da mesma forma que chegamos e ligamos para saber informações do pequeno, acordamos e repetimos o mesmo ritual para saber como ele passou a noite (noites boas, outras nem tanto). Café da manhã vira artigo de luxo, afinal, agora o café, é você. Sim, você precisa alimentar seu pequeno, que na maioria dos casos não pode mamar diretamente na mãe e então entra o lactário (lugar onde fazemos a ordenha de leite e armazenamos para o consumo do bebê). A primeira ordenha do dia acontece 9h da manhã (no hospital onde ficamos) e isso se repetia a cada 2h.
     Chegamos, corremos para fazer aquela super lavada de mãos, antebraços pra colocar o jalequinho e ver o tesouro que a UTI guarda, oração, amor, toque e a corrida pro lactário precisa acontecer... filho, o café chegou! 1, 2, 3... 50ml de leite, ufa, café da manhã do bebê garantido, missão cumprida.
     E lá se vai mais um dia na UTI, aqui foram 71. Dias olhando, orando, amando, cantando, sonhando e algumas vezes me desesperand
o. Intercorrências, infinitas intercorrências.

     Abaixo um pouco da nossa luta:
     -Membrana hialina
     -7 dias entubado e na fototerapia
     -9 dias de antibiótico intravenoso no bracinho esquerdo e mais 2 no esquerdo
     -21 dias no CPAP
     -3 dias no oxyhood
     -Muita cafeína intravenosa
     -Alimentação parental nos primeiros dias
     -Alimentação por sonda (quase 2 meses)
     -Exames e mais exames (sangue, transfontanela, pHmetria e etc...)
     -Anemia severa (quase quadro de transfusão, fui informada que poderia ocorrer, mas tentariam outro método antes)
     -Injeção de eritropoietina (para fazer a medula voltar a funcionar como devia) e voltou, não precisou ser transfundido.
     -Retinopatia grau 3 elevando pra 4
     -Retinopexia bilateral para corrigir a retinopatia(cirurgia)
     -Hiperecogenicidade periventricular bilateral
     -Apnéias com queda de saturação e cardíaca
     -Uso de ambú 2x.
     Isso é o que lembro...







Arrumando o Gui para a alta.

A VITÓRIA
     Dia 24/09/2005 recebemos alta, não dá pra explicar o que eu senti, mas ainda me emociono quando lembro.
     Guilherme, que nasceu com 1.135g e 36cm, recebeu alta com 2.960g e 47cm, não fazia mais apnéias e saído do hospital nunca me deu trabalho, sempre foi um bebê anjo como a Tracy Hogg nomeia em seu livro "Os Segredos de uma Encantadora de Bebês".
Queridas amigas que hoje passam por isso: creiam, conversem com seus filhos, amem incondicionalmente, sejam firmes, eles precisam da nossa força, tenham coragem e encarem a UTI, não como sua inimiga, mas como a sua maior aliada, ali está o útero fora de você, que continua preparando seu filho pro mundo, pra vida. Se eles nos motivam com sua vontade de viver, porque não retribuir com a nossa alegria de estarem vivos.
     Quando nasce um bebê, nasce com ele uma mãe, mas e quando nasce um bebê prematuro? Bom, também nasce com ele uma mãe prematura e a escola da vida nos ensina muitas e valiosas lições.
     Embora, nenhuma mulher se sinta feliz de ter um filho prematuro (filho na UTI). Eu, me sinto uma mulher privilegiada e muito abençoada. A luta foi árdua, mas Deus jamais nos abandonou, me deu serenidade quando foi preciso e força, muita força para seguir adiante, no fim, saímos VITORIOSOS.
     Eu fui de repente mãe, mãe de um lindo milagre da vida! Encontrei naquela UTI e trago comigo amigas e "filhos" que foram colocados por Deus no meu caminho.

     Enorme beijo pra aqueles que leram um pouquinho da minha história e um forte abraço para aqueles que estão neste momento com seus filhos na UTI, força e fé!

     Thais Rebello, mãe do Gui.
     (Texto gentilmente concedido pela Thais do seu blog http://maedaduplex.blogspot.com)   


Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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