29 de Agosto de 2012
Histórias Reais | O pequeno Gui: a luta pela vida
Gui com 7 dias de vida, pouco depois de ser extubado. |
"Resolvi compartilhar com vocês um pouco da minha experiência como mãe de UTI. Tudo começou aqui:
O POSITIVO
O NASCIMENTO
Foi tudo muito de repente.
De repente eu descobri que estava grávida
De repente eu já estava com 16 semanas...
Guilherme, já com 1800 gramas. |
A LUTA
Eis que é chegado o dia da alta, da SUA alta, completamente diferente do que você imaginou, não chegou o dia de levar seu filho(a) pra casa, mas você não pode mais ficar ali e precisa ir, sem um pedaço seu.
Chegar em casa é ainda mais difícil, entrar naquele quadrado sagrado é muito sofrido, o primeiro dia é uma martelada, mas acredite, somos capazes. Os dias vêm e vão e você vive em função dos progressos do pequeno que luta incansavelmente.
Dias inteiros de UTI, pouco falamos, pouco comemos, oramos muito, observamos muito, choramos muito, vibramos muito, tudo muito intenso. As noites são rápidas, chegamos exautos e corremos pro telefone, precisamos de notícias para conseguir tomar um banho, comer e dormir (esses itens são necessários para nos manter em pé e só por isso, acredito EU, que nos obrigamos a fazê-los).
Escovar os dentes e lavar o rosto também ficam pra depois, porque da mesma forma que chegamos e ligamos para saber informações do pequeno, acordamos e repetimos o mesmo ritual para saber como ele passou a noite (noites boas, outras nem tanto). Café da manhã vira artigo de luxo, afinal, agora o café, é você. Sim, você precisa alimentar seu pequeno, que na maioria dos casos não pode mamar diretamente na mãe e então entra o lactário (lugar onde fazemos a ordenha de leite e armazenamos para o consumo do bebê). A primeira ordenha do dia acontece 9h da manhã (no hospital onde ficamos) e isso se repetia a cada 2h.
Chegamos, corremos para fazer aquela super lavada de mãos, antebraços pra colocar o jalequinho e ver o tesouro que a UTI guarda, oração, amor, toque e a corrida pro lactário precisa acontecer... filho, o café chegou! 1, 2, 3... 50ml de leite, ufa, café da manhã do bebê garantido, missão cumprida.
E lá se vai mais um dia na UTI, aqui foram 71. Dias olhando, orando, amando, cantando, sonhando e algumas vezes me desesperand
o. Intercorrências, infinitas intercorrências.
Abaixo um pouco da nossa luta:
-Membrana hialina
-7 dias entubado e na fototerapia
-9 dias de antibiótico intravenoso no bracinho esquerdo e mais 2 no esquerdo
-21 dias no CPAP
-3 dias no oxyhood
-Muita cafeína intravenosa
-Alimentação parental nos primeiros dias
-Alimentação por sonda (quase 2 meses)
-Exames e mais exames (sangue, transfontanela, pHmetria e etc...)
-Anemia severa (quase quadro de transfusão, fui informada que poderia ocorrer, mas tentariam outro método antes)
-Injeção de eritropoietina (para fazer a medula voltar a funcionar como devia) e voltou, não precisou ser transfundido.
-Retinopatia grau 3 elevando pra 4
-Retinopexia bilateral para corrigir a retinopatia(cirurgia)
-Hiperecogenicidade periventricular bilateral
-Apnéias com queda de saturação e cardíaca
-Uso de ambú 2x.
Isso é o que lembro...
Arrumando o Gui para a alta. |
A VITÓRIA
Dia 24/09/2005 recebemos alta, não dá pra explicar o que eu senti, mas ainda me emociono quando lembro.
Guilherme, que nasceu com 1.135g e 36cm, recebeu alta com 2.960g e 47cm, não fazia mais apnéias e saído do hospital nunca me deu trabalho, sempre foi um bebê anjo como a Tracy Hogg nomeia em seu livro "Os Segredos de uma Encantadora de Bebês".
Queridas amigas que hoje passam por isso: creiam, conversem com seus filhos, amem incondicionalmente, sejam firmes, eles precisam da nossa força, tenham coragem e encarem a UTI, não como sua inimiga, mas como a sua maior aliada, ali está o útero fora de você, que continua preparando seu filho pro mundo, pra vida. Se eles nos motivam com sua vontade de viver, porque não retribuir com a nossa alegria de estarem vivos.
Quando nasce um bebê, nasce com ele uma mãe, mas e quando nasce um bebê prematuro? Bom, também nasce com ele uma mãe prematura e a escola da vida nos ensina muitas e valiosas lições.
Embora, nenhuma mulher se sinta feliz de ter um filho prematuro (filho na UTI). Eu, me sinto uma mulher privilegiada e muito abençoada. A luta foi árdua, mas Deus jamais nos abandonou, me deu serenidade quando foi preciso e força, muita força para seguir adiante, no fim, saímos VITORIOSOS.
Eu fui de repente mãe, mãe de um lindo milagre da vida! Encontrei naquela UTI e trago comigo amigas e "filhos" que foram colocados por Deus no meu caminho.
Enorme beijo pra aqueles que leram um pouquinho da minha história e um forte abraço para aqueles que estão neste momento com seus filhos na UTI, força e fé!
Thais Rebello, mãe do Gui.
(Texto gentilmente concedido pela Thais do seu blog http://maedaduplex.blogspot.com)