![](static/images/stories-page-entry-detail.png)
![](static/images/bulma/1by1.png)
26 de Março de 2012
Histórias Reais | A caminhada da pequena-grande Taíza
Bom dia a todos! E que dia! Hoje é definitivamente um dia especial.
É com muita honra que trago pra vocês a história da Taíza, com certeza uma das histórias mais especiais que já recebi. Há cerca de 18 anos, essa grande guerreira nasceu prematura de 32 semanas e foi diagnosticada com Hérnia Diafragmática Complicada. E não foi só a hérnia que foi complicada... digamos que as coisas nunca foram muito "fáceis" na trajetória da Taíza. Mas isso fez dela uma pessoa pra lá de especial, forte, guerreira... uma vencedora com muita história pra contar no alto de seus 19 aninhos.
Taíza, mais uma vez: MUITO OBRIGADA! Tenha a mais absoluta certeza que estás fazendo um bem enorme ao compartilhar tua história, pois a tua lição de vida é tão linda, tão grandiosa que é impossível "sair" a mesma pessoa depois de ler esse relato. Um beijo no coração!
"Meu nome é Taíza tenho 19 anos. Há quase 19 anos fiz uma cirurgia de hérnia diafragmática. Nasci de 32 semanas de parto normal no dia 16 de fevereiro de 1993. Foi uma gestação normal até o 6º mês.
Do 6º até o 8º mês minha mãe teve dilatação do útero e teve o risco de aborto. Ficou de repouso tomando remédio pra segurar a gestação.
Após o parto fui para casa normalmente. Com 25 dias de nascida comecei a vomitar e então fui levada ao pediatra. O pediatra tinha suspeita de Hérnia Diafragmática, mas não foi confirmado, pois a cidade onde eu morava era muito pequena e não havia aparelhagem suficiente para diagnóstico.
Fui mandada para uma cidade vizinha um pouco maior. Minha mãe conta que o médico que me atendeu fez ultrassom, raio-X e exames de sangue. Então foi confirmada a Hérnia
Diafragmática Complicada. Os médicos nem sabiam o que fazer, pois nunca haviam tido casos relatados nesta cidade.
Depois de três dias minha mãe desesperada assinou um termo e me retirou desse hospital. Pois meu estado de saúde agrava a cada dia. Eu já estava com desidratação, pneumonia, travei os membros inferiores, superiores e não movimentava a mandíbula, não mamava, não respirava direito e tinha convulsões.
Fomos à cidade mais próxima com um centro médico melhor. No caminho tive três convulsões.
Chegando a cidade fomos direto ao Hospital das Clinicas. Fui atendida pela neonatologista. Ela pediu os papéis de encaminhamento do Hospital em que estava e quando ela abriu o envelope estavam todos em branco. Então tive que fazer todos os exames novamente. Enquanto providenciava rapidamente os exames foi colocada uma sonda no meu estômago e constatou fezes.
Depois dos exames prontos, meus pais ficaram desesperados em ouvir da médica que eu tinha apenas 1% de chance de sobreviver, pois apresentava um quadro muito grave de Hérnia Diafragmática Complicada, devido todos os meus órgãos com exceção dos rins estarem fora do lugar, ter pneumonia, Wolff Parkinson White (arritmia cardíaca que atinge em média 5 entre 100.000 pessoas), desidratação e estava muito fraca, pois estava vomitando a três dias.
Fizeram então uma junta médica e decidiram tentar a cirurgia. Estavam com medo, pois na época não se conhecia casos de bebês que apresentassem a patologia após 25 dias de nascido. Quando constatado o caso de Hérnia Diafragmática é mais comum que esses bebês já nasçam com essa Hérnia. No meu caso foi desenvolvida após o nascimento sem nenhum trauma e explicação. No Hospital Universitário em que estava já haviam tentado fazer a cirurgia de Hérnia em bebês com problemas parecidos com o meu, mas esses bebês não sobreviveram.
Meus pais se agarraram ao 1% de chance e fui levada ao centro cirúrgico. Minha mãe não aceitava em ter que me perder e me pedia a Deus de qualquer jeito!
A cirurgia demorou 6 horas. Durante a cirurgia tive três paradas cardíacas! Depois fui para UTI neonatal. Respirava com ajuda de aparelhos, os médicos tentavam retirar o tubo, mais
eu não aguentava e logo tinha que voltar para o Oxigênio. Após 24 horas da cirurgia tive um saco herniário. O médico que me deu a anestesia na primeira cirurgia havia alertado de que eu não aguentaria outra anestesia. Então fizeram outra junta médica para decidir o que iriam fazer. Decidiram então fazer uma nova cirurgia para retirada do saco herniário. Fiz transfusão sanguínea, mas tive uma alergia muito forte, entraram com medicação e fui para o centro cirúrgico só que não conseguiram dar outra anestesia, meu estado de saúde havia se agravado.
Voltei pra UTI com o saco herniário com risco de uma infecção hospitalar. Fiquei 17 dias na UTI e os médicos foram tirando o Oxigênio. Depois desses 17 dias já respirava sozinha.
Fiquei mais 6 dias internada e fui para casa com saco herniário. Fiz acompanhamento até os 3 anos de idade com pediatra e uma junta médica. O saco herniário foi regredindo mês após mês. Mesmo com alguns cuidados médicos tive uma vida normal. Andei e falei muito
cedo. Com 8 meses já falava quase de tudo e com 10 meses comecei a andar. Fui pra escola com 1 ano e 6 meses. Desde cedo sempre fui muito esperta!
Aos 5 anos comecei a ter algumas cólicas intestinais.Tinha refluxo.Fiz tratamento com uma gastroenterologista pediátrica por mais ou menos 1 ano. Mas depois o problema foi resolvido.
Aos 11 anos fiz uma cirurgia no intestino chamada Laparotomia Exploradora para Lise de Bridas. Devido a Hérnia Diafragmática com o meu crescimento as alças do intestino se romperam. Nessa cirurgia fui diagnosticada como apendicite.
Quando começaram viram a obstrução intestinal. Fiquei 7 dias com infecção hospitalar.
Passado o pós-cirúrgico fui para a cidade em que fiz minha primeira cirurgia e lá descobri que tinha Prolapso da Válvula Mitral (problema congênito da válvula do coração) e que não posso pegar qualquer tipo de infecção. Passado todo esse susto fiquei por 6 anos com um trauma psicológico. Tratei e hoje estou bem.
Agradeço a Deus por hoje estar bem e com uma família maravilhosa ao meu lado. Para meus pais o plano de vida deles era ter somente meu irmão (três anos mais velho) e como eles falam “Por um presente de Deus” eu vim ao mundo e sempre recebi todo amor do mundo!
Quando estava na UTI neonatal, por estar cercada de fios e tubos era difícil sentir o contato humano. Meus pais sempre colocavam a mão na minha testa. Curiosamente até hoje, sempre que estou ansiosa, com alguma dor e principalmente com medo a única coisa que consegue me acalmar é colocar as mãos na minha testa.
Lembro-me sempre disso como uma prova de amor.
Sempre fui muito independente e forte. Acredito que essa personalidade deve-se a forma como aprendi a ver a vida.
Como dizia Charles Chaplin “A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.”... E quando vejo as cicatrizes que ficaram no meu corpo interpreto-as como a presença de Deus ao meu lado lutando pela vida. Pois elas significam: Eu Sobrevivi!"