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29 de Outubro de 2013
Enzo Gabriel, príncipe poderoso, enviado por Deus
“Desconfiei da gravidez logo nas primeiras semanas. E o medo da reação da minha mãe? Eu estava no 3º semestre da faculdade, com 20 anos. Minha família mora no interior da Bahia e eu moro em Salvador. Eu não tinha uma relação estável com o pai dele, foi mais uma das tantas recaídas normais em final de relacionamento. Minha mãe descobriu logo no primeiro mês. Estávamos em janeiro, de férias em casa. Ela quase enlouqueceu, pois me teve com 16 anos e seu maior medo era que acontecesse comigo! E aconteceu...
No desespero, ela disse que eu não voltaria pra faculdade e queria que eu tirasse. Sempre acreditei na vida. Assumi a responsabilidade e voltei pra faculdade. No segundo mês, tive descolamento de placenta, perdi bastante sangue, fui à GO e tomei os remédios, mas não tive como fazer repouso absoluto. Moro em um apartamento no quarto andar de um prédio e pego dois ônibus para ir para a faculdade. Fiquei com muito medo de perder o meu bebê, que, mesmo em meio às dificuldades e rejeição, já o amava muito.
Com três meses, refiz a ultrassonografia e, ufa, estava tudo bem. E ainda a surpresa: era um menino! Nas férias de julho, com 6 meses de gravidez, estava na casa de meus pais no interior e percebi que estava perdendo líquido. Fui ao hospital local e o GO disse que era só corrimento. Saí de lá aos prantos e meu pai, ao ver meu desespero, resolveu que eu faria uma ultrassonografia. Mas era sábado e lá não tinha hospital para isso. Além disso, as clínicas estavam fechadas. Conseguimos uma a uns 30 quilômetros de estrada esburacada. Chegando lá, o médico pediu que eu fizesse repouso absoluto e que se, mesmo assim, continuasse perdendo líquido, fosse para a Capital, porque lá na região não teria suporte nem pra mim, nem para o bebê.
Fomos para casa. Fiquei até segunda-feira sem levantar da cama e não adiantou. Fomos em outro médico e ele disse que meu filho poderia nascer a qualquer momento e que não aguentaria 5 minutos, por ser prematuro demais. Ele mandou que eu fosse para Salvador, imediatamente, e que fôssemos de ambulância. Voltando ao hospital inicial, o mesmo GO estava de plantão e logo foi me xingando, porque minha família já tinha ido reclamar a negligência dele comigo. Pedi, por favor, que olhasse meu exame. Quando ele viu que era grave a situação, prescreveu a primeira dose de corticóide. Minha prima, que é enfermeira, foi comigo na ambulância e minha mãe também.
500 quilômetros depois, chegando na maternidade, disseram que não tinha vaga. Nem desci e fomos para o Hospital de referência. Graças a Deus, fui bem atendida. Já era terça-feira. Fiquei internada e os médicos disseram que ele nasceria em agosto. Na sexta-feira, comecei a sentir as dores e desci para o pré-parto às 6 horas. Final de plantão, os médicos deixaram para os plantonistas da noite, que nem olharam meu prontuário pra ver que eu não poderia esperar. Mais ou menos às 23h30min, eu já não aguentava de tanta dor, chorava, achei que fosse morrer... Uma técnica de enfermagem me reconheceu da admissão e disse ao MP que eu não poderia esperar.
Olhando o prontuário rapidamente, me levaram para o centro cirúrgico. A anestesia peridural não foi suficiente para me sedar e, com mais uma dose de remédio, não pude vê-lo ao nascer. Nasceu com 1,520 kg e 45 cm, não chorou e foi às pressas para a UTI. Mas, como eu disse, um grande guerreiro. Não precisou de oxigênio por muito tempo, apenas nas primeiras 24 horas. Entrou com antibiótico pelo risco de infecção pela bolsa rompida, e banho de luz pela forte icterícia. Quando fui vê-lo pela primeira vez, no sábado, não acreditei que ele fosse tão pequeno. Tentava passar meu calor e amor para ele através da minha mão aquecida.
O pior dia da minha vida foi no domingo, quando saí do hospital sem meu filho. Eu queria morrer, desmaiei de medo e nervoso, e fui para casa de apoio da minha cidade. Não consegui voltar todos os dias, precisava de ajuda para ir ao hospital. Com muita dificuldade, quando chegava lá, não conseguia conversar com os médicos com medo do pior, eu já chegava chorando. Quando tirei meus pontos, voltei para casa, que ficava mais perto do hospital. Para minha surpresa, a médica pediu que eu não entrasse na semi, pois ela queria falar comigo. Passou as piores coisas pela minha cabeça, achei que ele tivesse morrido. Ela me chamou e disse que ele estava de alta para mãe canguru e disse para eu pegar as minhas coisas para ficar com ele.
Foram 12 dias de incubadora até ele vir para os meus braços. Com 1,5 kg, ele chegou no quarto e eu não sabia o que fazer com o bebê, pois ele estava com sonda ainda e era muito pequeno. Aos poucos, com a ajuda das enfermeiras e das colegas de quarto, fui aprendendo a cuidar dele, que só chorou depois de alguns dias, por causa do umbigo que estava infeccionado. Para sair da sonda e ir para o peito, só quando completou 34 semanas. Meu peito sem bico dificultou muito e, quando ele consegui pegar, perdeu as tão sonhadas gramas adquiridas a cada dia. Ficar com ele sobre o meu seio era como se ele ainda tivesse dentro de mim.
No dia 30/08, com 1,900 kg, ele teve alta. Fomos para o interior e lá as pessoas o viam e não acreditavam que ele viveria. Mal sabiam a batalha que já tinha vencido. Aí foi neuropediatra,
fisioterapia do desenvolvimento e, cada 100 gramas que ele ganhava, era comemorado como festa. Com o apoio emocional da família, ele foi vencendo todas as batalhas, como a broncopneumonia que teve várias vezes e as crises respiratórias frequentes. Mas sempre esperto e lindo.
Ele andou com 1 ano e 3 meses. Aos 2 anos teve alta de todos os tratamentos e hoje, com 3 anos, ninguém acredita que nasceu prematuro. Um anjo enviado por Deus para iluminar minha vida e de toda a família. Hoje, meus pais são apaixonados pelo Enzo Gabriel e cuidam dele para eu terminar a faculdade.”
Fabiane, mãe do Enzo Gabriel
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