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04 de Novembro de 2012
Dinis: 26 semanas e a força de um gigante
Agradeço à Carla, mãe do Dinis, pelo carinho conosco e por compartilhar aqui um pouco da história de seu pequeno. A Carla diz o seguinte:
"Sou Portuguesa, vivo em Lisboa, e no dia 28 de Março de 2012 tive também a experiência de ser mãe prematura. Meu filho nasceu de 26 semanas e 6 dias, esteve 64 dias internado.
Vocês tem um site super completo, com muitas e muitas informações úteis. Cá existe muito pouco sobre este tema (...) Quero deixar-vos o meu obrigada por este espaço: aqui encontro respostas, leio histórias, sinto-me compreendida, pois os amigos e familiares não nos conseguem perceber, parece que nos acham malucas (...) Cumprimentos e muito obrigada, continuem assim!"
Querida Carla: um beijo enorme a vocês aí em Portugal e muita saúde pro Dinis!!!
"Nascer antes do tempo!
Começo com contracções dia 22 de Março e vou para o hospital... as mesmas são confirmadas.
Passo umas horas no hospital, mas começo a ter umas perdas de sangue. Como o hospital não estava equipado para receber um bebé tão prematuro, sou transferida...
Passo essa madrugada a levar medicação para acalmar as contracções e levo as injecções para a maturação dos pulmões, não percebia bem o que se passava. Como tudo acalmou, vou para outra parte do hospital e fico internada, com a possibilidade de ter de me manter por lá até pelo menos as 34 semanas. Fiquei assustada, não percebia nada, estava tudo a correr tão bem, não havia contratempos anteriores.
Mas também ninguém me explicou muita coisa. Às vezes penso que ainda bem... o desconhecimento às vezes pode evitar outras coisas.
Tudo começa quando se soube pela 2ª vez ao bloco de partos (27 de Março 2012, 19:00h), pensei "já não devo sair daqui com o meu bebé na barriga!". E tudo fica muito estranho, muitos médicos, muitos exames, o controlo exaustivo meu e teu.
Uma noite inteira sem dormir, com a cabeça vazia, pois por mais história que se ouça sobre o assunto, vivê-lo é algum inexplicável.
21 horas de trabalho de parto... contracções que teimavam em continuar perdas de sangue que teimavam em não abrandar, mas tu, meu filh,o estavas óptimo, e isso era o meu calmante.
Muitas entradas e saídas do papá, pois tinham de ver se estávamos bem.
Até que é confirmado que ias nascer entre hoje e o amanhã, (4 dedos de dilatação, e estavam a evitar um parto deprimido) mudança de sala, e aí no fundo eu tinha uma réstia de esperança que tudo iria mudar e ias continuar mais tempo comigo.
Entretanto já eram umas 15.30 talvez e eu disse ao papá para ir comer algo, mas antes disso, disse para ele dar um beijinho na barriga e assim foi ( não me perguntem porque, 6º sentido talvez, o papá ao contrário de mim despediu-se da minha barriga :( )
Mas não passado pouco tempo o pior e mais perigoso acontece: começa uma hemorragia que me põem em grave risco de vida, descolamento de placenta, a prioridade era eu só depois tu... Foi um pânico naquele piso tudo corria tudo falava muito muito alto, começava a perceber que não íamos continuar um só, começo a chorar e adormeceram-me, tinha muito medo de te perder e se assim fosse, não queria acordar....
Mas acordei, a ouvir " mãe, mãe o Dinis já nasceu" e um mega parabéns... Olhei para o lado esquerdo e vi uma incubadora aberta com um lençol com um pouco de sangue, olhei para o relógio e era 17h. Perguntei "ele está bem?" Ouvi um "sim!"
Nasces-te 26 semanas e 6 dias, no dia 28 de Março de 2012 às 16:12 com 1,140kg e 36 cm, foste de imediato para a unidade de cuidados intensivos...
O pai, pois o pai só sabia que havia algo a acontecer de muito grave não lhe conseguiam dizer mais nada!
Finalmente o pai vem ter comigo e diz que está tudo bem.... como podia estar tudo bem, está tudo mal, tudo muito mal!
Vi uma foto tua, muito pequeno muito magrinho, só me foi possível ver-te e a muito custo passadas mais de 24 horas.
E foi o choque total, indescritível, uma dor insuportável toma conta de mim, só perguntava porque, porque é que um ser tão pequeno tem de lutar pela vida, não à direito. A partir desse momento nao quero mais saber de parabéns, parabéns do que? Se Deus quiser.... Deus?!
Tinha medo de estar ao pé de ti sozinha, tinha medo que nos deixasses.... a frase que mais me diziam era " mãe, um dia de cada vez, temos de acreditar ( mas esse acreditar era dito de uma forma estranha, como que acreditar sim, mas não fazer planos a longo prazo)".
Passa a existir uma luta interior muito grande, onde todas as pessoas nos falam do futuro que daqui a x tempo vai estar tudo bem.... isso só nos irrita, porque as coisas não são assim, há muitos riscos!
A tua pequenina mão quando agarrou o meu dedo, foi maravilhoso, foi feito com tanta força com tanta certeza que ias vencer!
A alta foi o cair ainda mais na realidade.... a minha barriga?! Já não a tenho, o meu filho vai ficar e eu vou para casa.... A chegada a casa, o não conseguir olhar para nada que fosse teu... o peito doía muito, só queria poder voltar a colocar-te de novo na minha barriga, e mostrar a minha linda barriga, ver o seu crescimento! Tudo foi adiado, todos os planos por água abaixo.
Todo me começa a irritar as grávidas que se passeiam pelo hospital, as grávidas que tem hábitos de vida pouco saudáveis, muitos porquês ate hoje sem resposta!
Foram dias difíceis, horríveis com constantes momentos de aflição, a visualizar coisas horríveis que nós pais não deveríamos ver ou sentir!
Por vezes irritava-me falar com outros pais, pois parecia que concorriam com episódios dos filhos o meu teve isto e aquilo e mais aquilo, bolas quem me dera que o meu não tivesse nada, e depois parece que queriam dar a entender que os deles estavam sempre piores.... grrrr é estranho!
O momento mais feliz da vida de mãe e pai é tornado no mais horrendo, mais escuro!
Não poder pegar no nosso filho, tocar, falar sempre que queríamos, pois põem em risco a sobrevivência dele, e isso não é natural!
Parecia que era filho da ciência e não meu, criei um segredo só nosso, pois as "tias" todas falavam contigo e chamavam, amor, príncipe, bebé, então eu chamava-te "biscoitinho". Ninguém sabia, era assim, já sabias que era a mamã só ela te chamava assim.
Uma cirurgia cardíaca com 1,090kg, como é possível?
2 infecções, 2 transfusões de sangue, muitos passos atrás e à frente entre ventilador, Cpap e Blend, foram 54 dias com ajuda respiratória.
Não te consegui amamentar, não por falta de leite mas devido ao teu cansaço, quando finalmente começas-te a ter peso para comer "sozinho"e acabei por ir perdendo o leitinho....
Só consegui ver o teu corpo livre de tubos sondas passados 63 dias...
Foram 64 dias de luta constante e uma grande vitória tua! Tudo feito com o teu esforço.
Estar contigo em casa é maravilhoso! Mas nunca me vou perdoar de te ter feito sofrer!
Neste momento os diagnósticos têm sido todos positivos, tens 5,180kg e 56cm, quase 5 meses de idade real e 2 de idade corrigida.
O meu filhote nasceu no Hospital de Santa Maria em Lisboa, Portugal.
Após a alta dele eu, mãe, fiquei profundamente triste, angustiada e não tenho muita vontade de estar com ninguém, pois só dizem o que não queremos ouvir, ou insistem que tenho de esquecer..... mas porque tenho de esquecer o nascimento do meu filhote? Só porque não correu bem?! Não percebem a tristeza que tenho de não ter tido uma gravidez de 9 meses....
Enquanto o Dinis esteve internado eu fiz um diário. Ajudava-me bastante a desabafar a chorar e aliviar aquela dor!
Beijinhos a todos os papás e um grande abreijo aos guerreiros aí do outro lado do oceano :)"
Carla, mãe do Dinis.