16 de Abril de 2013

Daniela e sua Bruna: renascimento de mãe e filha


Impossível não se emocionar com a história que a Daniela nos enviou. Ela teve eclâmpsia grave, o que ocasionou também o nascimento prematuro da Bruninha, com 33 semanas. Depois do susto com sua própria saúde, veio a luta diária pela vida da Bruna na UTI Neonatal. Dani, obrigada pelo lindo relato. Beijos pra vocês, muita saúde!

"Era 25 de dezembro de 2011, comemorávamos o Natal em família na casa de minha mãe, quando minhas tias olharam para mim e disseram à minha mãe: "a Daniela está grávida!". Eu não achava que estava, mas acabei confirmando três dias depois. Foi o momento mais mágico de toda a minha vida! Curti cada minuto da minha gravidez. Tirava fotos, comprava roupinhas, lia tudo sobre bebês, gestação. Seguia a dieta feita pelo nutricionista e tomava muito cuidado. Até deixei de fazer muitas coisas, pois era o momento do meu bebê.

As consultas do pré-natal eram sempre emocionantes. Quando tinha que fazer ecografia, nem eu, nem meu esposo, dormíamos e passávamos a noite toda conversando sobre como seria o nosso bebê. Minha barriga cresceu rápido e aos três meses já aparecia. Todos diziam que seria uma menina, enquanto eu achava que seria um menino. Na ecografia que fizemos para saber o sexo do bebê, não conseguimos ver porque ele estava sentado e com as mãozinhas tapando a parte íntima! Rimos muito. Foi ali, quando vi meu bebê naquela tela gigante, que realmente acreditei na minha gravidez.

Minha pressão era baixíssima e aos cinco meses, descobrimos quem estava a caminho: a Bruninha, Bruna Nicole! Até o sexto mês, eu fazia de tudo ainda, mas já estava inchada. Perguntava às minhas amigas se era normal e algumas diziam que inchavam com até quatro meses. Mas eu sentia muita dor nas mãos e à noite gritava de dor. Todos diziam ser normal essa dor, que tem até nome: "Síndrome do Carpo". Com o tempo, eu já não conseguia mais fazer minhas caminhadas noturnas. As pernas pesavam, minha barriga estava enorme. Os médicos diziam que minha Bruna era um bebezão, que eu tinha muito líquido e que isso era ótimo para ter parto normal. Eu só me sentia feliz.

Com 31 semanas, durante uma consulta do pré-natal, o médico pediu uma ecografia de rotina. Marquei para uma semana depois que ele me deu o pedido. Acordamos às cinco da manhã para pegar as primeiras senhas. Eu transbordava de alegria. Tirava fotos e mais fotos na recepção do hospital com meu esposo. Durante essa ecografia, a médica levou um susto. Disse que algo estava errado.Com tom de voz preocupante, exclamou que eu deveria procurar o mais rápido possível o meu obstetra. Eu nem tinha obstetra já que consultava com clínico no posto de saúde.

Marcamos uma consulta em outro hospital, e ele confirmou o que a doutora disse: se meu marido não me levasse às pressas para o hospital, ele perderia eu e minha filha. Chorei muito, e o médico disse para eu não me preocupar, pois se ele tirasse meu bebê nascesse naquela hora, ele sobreviveria. Eu pensava: como assim tirar o meu bebê? Pensei que eu ia enlouquecer! Não podia ser! Eu estava bem, não tinha sangramento, nem dor de cabeça. Estava tendo picos de pressão alta e baixa, mas estava sendo medicada. Depois disso, corremos para o hospital de minha cidade que é referência em partos de risco. Fiz todos os exames que pediram e todos deram normais. Faltava apenas um, o Doppler, mas a máquina estava quebrada. Eu precisava dele com urgência. Paguei o exame, e, no momento em que o médico fazia, vi que ele conferia, pensava, até me falar que eu deveria correr para o hospital e procurar por um obstetra. Foi o terceiro médico que disse que eu "ainda" estava bem.

Voltei para o hospital e fui internada às pressas. Me deram várias injeções, doloridas por sinal, para amadurecer o pulmão da Bruna. Acho que tomei umas quatro. Eles queriam segurar a Bruna por mais duas semanas, para ela nascer de 35 semanas. Colocaram um aparelho em minha barriga para monitorar o coraçãozinho dela. Eu estava assustada, mas tranquila por estar em um lugar bom. No terceiro dia de internação eu implorava por comida. O obstetra liberou à noite um lanche leve, porque minha pressão estava controlada. Depois que lanchei, dei boa noite para minha mãe, que estava como minha acompanhante. Ela disse que nesse momento eu virei para o lado para dormir e depois fiquei roxa, com falta de ar. Ela gritou por socorro e todos os médicos do Centro Obstetrício pararam para me socorrer. Eu tive Eclâmpsia! Foram 3 paradas cardíacas. Queriam me transferir para outro hospital, mas o médico do SAMU não deixou, porque eu não resistiria.

Depois que me reanimaram, fizeram meu parto. Não vi nada, não lembro de nada, claro. Não vi minha filha nascer. Só me lembro de quando acordei na enfermaria, sem meu barrigão, com dois soros, sonda na vagina, eletrodos, curativos. Não entendia nada. Minha mãe me abraçava e chorava. Cada um que ia me visitar, dizia: "você está viva, você está viva!". Eu estava no quarto com mais três mulheres, duas delas com seus bebês, e uma delas sem o bebê, assim como eu.

Eu perguntava pela Bruna e me disseram que ela estava bem. Meu marido insistiu pra eu ir vê-la na UTI Neo, e eu nem imaginava como era esse lugar. Levei um susto enorme! Um monte de bebês pequenininhos, de aparelhos apitando, médicos e enfermeiros correndo de um lado para o outro. Quando eu vi minha filha, não quis acreditar. Quase desmaiei. Ela tinha 39 cm e 1.280 kg.

Nela estavam um respiradorzinho, soro, o acesso no pezinho para monitorar o coração e a temperatura. Ao lado, um monitor que marcava os batimentos cardíacos, a temperatura da incubadora e o ar. "Ela é muito pequenininha, Hamilton", eu dizia aos prantos. E ele dizia: "Ela está bem!”. Então, ele passou álcool nas mãos, abriu a incubadora e tocou nela. Ela abriu a mãozinha e segurou o dedo dele. Ele já tinha intimidade com ela, ia lá a toda hora. Fiquei confusa, chorei. Não lembrava de nada, nem da minha casa, nem de como havia chegado ao hospital. Minha mente bloqueou. Foram 20 dias sem lembrar de nada e pedindo para ninguém me contar nada.

Eu aprendi que tinha que ir de 3 em  3 horas tirar leite para ela. Comecei com 1 ml, depois 3 ml, até 5 ml. Ela estava muito bem! Até que fui dar boa noite a ela, e uma médica disse que ela teve febre e havia entrado no antibiótico, pois havia contraído uma infecção intestinal. Chorei a noite toda, pois me falaram que ela não teve nada, só precisava ganhar peso. Trocaram o pediatra dela e ele me acalmou muito. Disse para eu conversar muito com a Bruna, para tocar nela, cantar para ela. Até me ensinou a acalmar ela quando ela chorasse. Disse que eu podia pegar ela quando eu quisesse, que era só chamar uma das enfermeiras. Não vou esquecer nunca o cheirinho dela, a respiração rápida, ela olhando para mim. Tão pequenininha!

Eu já estava lá há 22 dias. Era horrível ficar no quarto com as mães que chegavam com seus bebês e eu lá sem a minha. Eu passava o dia na UTI, fiz amizade com as enfermeiras do corredor do meu quarto e pedi que me dessem algo para fazer, pra passar o tempo. Elas me orientavam a ajudar as mães que chegavam ao quarto, as que estavam sem acompanhantes. Eu ensinava a dar banho nos bebês, as ensinava a amamentar. Sempre que chegava paciente nova no quarto, eu telefonava para família delas, ajudava em tudo.

Quando a Bruna saiu do antibiótico o médico disse para eu ir em casa, tomar um banho, dormir bem à noite, porque com 1.700 kg ela iria para o quarto. E faltavam menos de 60 g. Fui para casa e dois dias depois voltei ao hospital para visitar a Bruninha. Assim que entramos na UTI, não vimos a incubadora dela, e pensei: "ela deve estar Ala Amarela!".Mas não. Transferiram-na para outro hospital para salvar a vida de outro bebê, assim como a dela. Mas quão grande foi o nosso susto, que saímos correndo para alcançar o SAMU. Eu operada, correndo atrás de um Taxi, chorando, com medo de perder minha bebê. Conseguimos alcançá-los e lá estava ela no bercinho, gordinha, sem aparelhos, só com a sondinha e o acesso no pezinho. Eu podia tocar nela, cheirar ela! Mas não havia vaga para mim nesse hospital e tive que ir embora.

No dia seguinte eu me preparava para passar o dia no hospital com ela, e outro susto: transferiram a Bruninha mais uma vez. Outro bebê precisava de cuidados especiais. Saímos feito loucos para que eu pudesse ir com a SAMU. Nesse hospital era tudo muito diferente dos outros dois, por se tratar de um hospital geral, a alimentação e a higienização eram muito precárias. A Bruninha foi para o quarto três dias depois de chegar nesse hospital. Ela pegou o peito, mas eu tinha muito pouco leite. Ela quase não ganhava peso, e tinha que tomar complemento. Por conta disso, ainda ficamos três semanas por lá.

Não sei dizer qual desses momentos foi o mais difícil. Eu nem sei como dizer aqui, mas, houve até um dia em que eu não aguentava mais, e esbravejei com algumas coisas que eu não concordava, e fui taxada de louca. Queriam me internar na psiquiatria e o psiquiatra olhou para mim, com um olhar misericordioso, e disse: “coitada dessa mulher, olhem o estado dela! Ela está estressada, cansada, sofrida. Ela não precisa ser internada, ela precisa de carinho, precisa dormir, comer”. Ele me receitou apenas um tranquilizante natural.

Hoje minha pequena grande mulher, está com 6 meses. Mama leite de fórmula, mas já come de tudo! Brinca, rola no berço, na cama, assiste TV, grita, puxa meus cabelos, puxa os óculos do papai dela! Ainda sou cheia de medos. Tinha medo de sair com ela na rua, por causa da baixa imunidade. Ainda lavo os braços até os cotovelos e passo álcool. Podia estar o calor que fosse, que eu empacotava ela. Mas sim, ela gripou, como todo bebê, como toda pessoa. Eu me assustei, eu tive medo, mas consegui cuidar dela. É cansativo demais,já que eu e meu esposo fazemos tudo sozinhos. Mas, cada gritinho dela, cada sorriso, vale tudo, tudo. Como eu amo a minha filha!


Graças a Deus, deu tudo certo, e estamos aqui sãs e salvas! Eclâmpsia não é uma doença, mas, por tudo o que aconteceu, eu estava tomando um remédio que eu temia ter que tomá-lo pelo resto da vida. Ia ser muito difícil o acesso a ele, ia ter que pagar consultas caras pra conseguir a receita sempre que acabasse. Eu segui fazendo exames, mas finalmente não preciso mais do remédio.  Estou livre dele e do meu medo! Agora, só penso em viver cada dia, cada minuto da minha vida para minha boneca.

Deus me devolveu a vida num sopro, para eu poder cuidar da Bruninha e dar a ela todo amor que eu sempre prometi para ela, desde quando ela estava no meu ventre. Realizei meu sonho, sou mãe! Não vou poder dar um irmãozinho a ela, mas vou ser a melhor amiga, irmã, mãe e tudo o que ela quiser!"

Daniela, mãe da Bruna

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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