10 de Junho de 2013

Cecília Vitória, nossa flor de laranjinha

"Meu nome é Margareth e não sei muito bem por onde começar. Na verdade já tentei começar várias vezes, mas a emoção toma conta e desisto, mas hoje sai... Acho que posso começar por aqui: “O que é impossível para o homem, é possível para Deus”(Mateus, 19;26); “E tudo é possível ao que crê” ( Marcos, 9, 23); “É na sua fraqueza que está sua força” (Coríntios 12); “Espere com paciência o milagre de Deus e sofra as demoras do Senhor” (Eclesiástico 2).

Nossa história começa com um amor imenso e uma enorme vontade de torná-lo vida, um pedaço de Deus aqui na Terra. Desde antes de casarmos já sonhávamos com nossos filhos, sonhávamos em sermos pais e esse desejo se tornava cada dia mais forte depois de nosso casamento, até que parei com os remédios depois de 1 ano de casados. Começamos com a ESPERA, foram dias de ansiedade, tratamentos de pequenas coisinhas comigo e tudo certo, nada nos impedia de termos nosso tão esperado filho, mas... nada de vir. Orávamos todas as noites e pedíamos a Deus por um, lembro que falava: “Senhor mande-nos um filho, que o amaremos e cuidaremos da forma como nos mandar”. Algo me dizia que quando engravidasse seria diferente, e realmente foi. No dia 15/03/2012 descobri que estava grávida! Tamanha foi a alegria em dividir esse momento com minha irmã que já estava grávida também, com um mês a frente, a alegria era nossa e de toda a nossa família e amigos. Quantos sonhos, quanta ansiedade e preparação. Os dias se passavam e tudo parecia normal, até que no dia 14/08/2012, descobri de uma forma traumática que estava com DHEG grave, que susto!

A partir daquele dia, vi toda a minha vida mudar. Todos os sonhos, toda a preparação, tudo o que imaginava fazer (fotos, enxoval, etc.) irem por água abaixo. Teria que ficar no hospital sob forte acompanhamento até que a neném ganhasse peso para enfim poder nascer. Os dias eram longos, foram muitos choros e medos, a cada visita que recebia era como se me despedisse daquelas pessoas. Fizeram de tudo pra que eu me sentisse confortável no hospital: me levaram livros, notebook, TV, internet e muitas outras coisas, mas nada me distraía, nada tirava a amargura e o medo de perder minha filhinha que já era tão amada e esperada.

Fizeram de tudo, mas minha pressão não regulava e, no dia 24/08/2012, ela nasceu de parto cesárea e com 26 semanas. Foram momentos tensos, mas depois do momento em que sabia que eu ia tê-la, me vieram as orações que fazíamos antes de ficar grávida, lembrei-me que pedia a Deus que me mandasse do jeito que Ele quisesse que eu seria capaz de suportar. E Ele me mandou. Uma princesa linda, pequenina como uma florzinha de laranja, delicada, perfumada, de mãozinhas e cheirinho mais doce que um dia eu provei, com 26 semanas, 523 gramas, 29 cm e cheia de personalidade. Lembro-me de seu choro ao nascer, SIM, ela  chorou, abriu seus pequenos olhinhos e fez xixi e cocô, tudo de uma vez (hehehe), e lembro-me da Dra. Silvete dizendo com sua firme voz: “Criança você já fez isso tudo?!”. Naquele momento não imagina a importância de todos esses feitos que, pra mim, eram tão naturais para um bebê ao nascer, mas... não para um prematuro.

Pude vê-la de verdade no outro dia e confesso que me balancei ao olhá-la. Vê-la tão frágil, tão pequena, mas novamente me lembrei de Deus, me lembrei dos encontros que dávamos na igreja e o quanto repetíamos aos jovens: “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”. Naquele dia soube que não seriam dias fáceis, seriam penosos, de grandes batalhas. Comecei com o processo de ordenha e, graças a Deus, pude oferecer leite materno, que era passado a ela através de sonda. Nossa vida mudou, nossa rotina mudou, íamos todos os dias para o hospital, chegávamos às 7h da manhã e íamos embora por volta das 19h. A cada visita era como vê-la nascer novamente. Aqueles aparelhos apitando eram enormes sustos, até a gente entender direito pra que serviam.

Repetíamos todas as vezes a ela o quanto a amávamos, falávamos de todos que a esperavam, sobre seu quartinho, suas coisinhas, que ela era o fruto do amor do papai e da mamãe e que esse amor era muito forte, sendo assim ela tinha que ser muito, mais muito forte... e assim ela o fez. Logo nos primeiros dias ela reduziu de peso para 490g, mas continuava forte, valente, lutando por sua vida, até que por volta dos  primeiros 10 dias de vida ela fez enterocolite e chocou duas vezes, quase se foi, mas não, venceu. Continuou entubada por 40 dias, ficou no CPAP por 5 dias, no “capacete” por  11 dias e depois o tão sonhado funil (o último aparelho para assim se livrar da ventilação). Durante sua estada na UTI, foram algumas infecções, anemia com necessidade de transfusão e broncodisplasia, mas nada que a impedisse de vencer.

A tão sonhada e esperada alta para a Unidade Intermediária chegou! Que vitória, que alegria meu Deus!!! Nesse período minha sobrinha já havia nascido e tamanha era a festa da nossa família. Duas vitórias na mesma semana. Uma pena que nossa princesa não chegou a ficar por 1 hora na U.I. e já voltou para a UTI, pois fez apnéia e teve parada respiratória. Quanto choro, quanto medo! Me lembro como hoje da Dra. Andiara e de toda a equipe tentando reanimá-la, de meus pais, minhas amigas e a equipe toda me confortando. Quando me deixaram entrar para vê-la, lá estava ela, tão quietinha, esticadinha, nem parecia a mesma e... entubada novamente.

Porém, sua ousadia era tanta que na, mesma noite (graças a Deus), ela mesma extubou e o doutor do plantão não quis voltar e já colocou o “capacete”.  Ela ficou na UTI por mais uns 20 dias. Esse tempo foi muito doloroso, a iminência de um foco hemorrágico na cabecinha devido à parada se fez presente e vimos mais uma vez o amor de Deus sobre a sua vida, e ela foi curada mais uma vez. Que alegria! Dali pra frente foram dias de preparação pra vir embora, entre algumas infecções, alguns sustos, muita insistência pra amamentar (uma pena que não foi possível), grande comemoração a cada grama ganha e muita, mas muita fé em Deus, além de um amor imenso que não cabia no peito.

Ela recebeu alta no dia 10/12/2012 e hoje, olhando pra trás, vejo o quanto fomos agraciados pela vida da Cecília. Aprendemos com ela o tempo inteiro, conhecemos pessoas que levaremos como exemplo pro resto de nossas vidas. Pudemos receber o carinho e orações de muita gente, nossa família se uniu e se fortaleceu ainda mais, fizemos amigos especiais, ENFIM,  pudemos provar os sabores da vida (alguns doces, outros amargos), mas que foram tão importantes na nossa formação como pessoas e como família.

Não sei se somos merecedores, mas Deus nos deu uma filha linda, cheia de vida, cheia de virtudes que já são vistas, embora tão pequenina seja, uma filha que eu acredito que tenha uma linda missão aqui na Terra. Como em todos os dias eu orei, fomos escolhidos para guiá-la e, assim sendo, professando sobre sua vida e suas vitórias onde quer que eu vá. Temos a graça de ter um milagre de Deus em nosso meio.

Você que está passando por essa mesma situação, ACREDITE, tome como incentivo a frase que comecei, eu a recebi enquanto estava internada e a cada dia a lia novamente e sabia que o milagre chegaria e que as demoras do Senhor seriam por uma longa vida de bonança. Nunca deixe de acreditar que seu filho(a) vai vencer e esteja com ele(a) em todo o tempo. Hoje a Cecília está chegando a seus 4 Kg, fazemos acompanhamento com fisioterapia motora, ela já fez o teste da orelhinha (ouve 100%), fez o dos olhinhos e não tem nenhuma seqüela, e sua vida vai ganhando forma, rumos e histórias que com muito amor serão repetidas por nós. Ela é nossa vitória, nossa Cecília Vitoria, nosso orgulho. Bom, e essa história? Um dia... ela, a Cecília mesma, continua.

Abraços a todos!!!"

Margareth, mãe da Cecília Vitória

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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