13 de Dezembro de 2012

As lições de vida de Matheus e Thiago


Emocionante a história desses pequenos... Muito obrigada, querida Vanessa, por compartilhar conosco o período mais delicado da vida dos teus amados Matheus e Thiago. Tenho certeza que, passadas as provações da prematuridade, a vida reservou muita saúde e felicidade pra tua família. Um beijo, especial nos meninos.

"Acho que vai ser longa, mas vou contar a minha história...

Depois que decidimos que queríamos um bebê, demorei 2 anos para engravidar. Comemorei muito, mas, infelizmente, um mês depois tive um aborto. Sofri muito, me revoltei, chorei. Naquele período, algumas colegas de trabalho, minha melhor amiga e minha cunhada engravidaram. Isso me deixou muito feliz por elas, mas muito triste também. Eu questionava muito "por que comigo?". Mal sabia eu quantas vezes questionaria isso dali pra frente.

Quatro meses depois do aborto, engravidei novamente. Desta vez, tudo certo, apesar de todo o temor de perder o meu bebê novamente. Passei uma gravidez muito bem, me sentia feliz e completa.

Com 35 semanas de gestação fiz uma eco e o percentil do bebê estava 25-10. Me desesperei, liguei para o obstetra e no outro dia fiz uma eco com doppler: o fluxo do cordão estava centralizando. Ou seja, ia muito pouco sangue no cordão umbilical e o bebê poderia entrar em sofrimento fetal. Marcou a cesárea para o outro dia pela manhã.

[caption id="attachment_3661" align="alignright" width="409" caption="Matheus tomando mamadeira na UTI"][/caption]

No dia 31 de julho de 2007 nasceu meu primeiro filho chamado Matheus. Eu estava muito nervosa! Não pude vê-lo, também não ouvi seu choro, apenas um "miado". Ele foi direto para a UTI. Fui para a sala de recuperação e ninguém me falava nada. Chorei muito, sozinha com meus pensamentos. Sempre sonhei naquele momento em que o médico mostra o bebê para a mãe e não tive. Fiquei 3 horas sem informações do meu filho até que chamei a enfermeira e pedi, pelo amor de Deus, que me dessem informações. Estava tudo bem, sob controle. O Matheus nasceu pesando 2250g e medindo 43,5cm. Fui conhecê-lo à noite, a maior emoção da minha vida. Claro que ele era "gordinho", já estava sem oxigênio, mas com vários fios e apitos. Ficou 7 dias na UTI apenas para aprender a mamar. Achei aquele momento de UTI um aprendizado para a vida inteira.

Graças a Deus, o Matheus se desenvolveu super bem, teve bastante problemas repiratórios, mas nada muito grave. Depois de exames descobri que ele tinha refluxo, tratamos e os problemas respiratórios ficaram para trás. Hoje ele é o nosso companheiro, um menino lindo, amável, doce, obediente e muito inteligente.

Então, com o passar do tempo, pensamos em aumentar a família. Achamos que é muito importante ter um irmão ou uma irmã. Quando tive o Matheus o meu obstetra na época disse que não é porque aconteceu uma vez que vai acontecer de novo. Afinal, centralização de fluxo é mais comum em fumantes e hipertensos (que não é meu caso).

Deixei nas mãos de Deus. Demorei um ano para engravidar. Mais uma vez, o dia que busquei o resultado foi emocionante. Chorei muito de alegria! Tudo ia bem na gravidez, mas eu sempre estava um pouco tensa, com medo da prematuridade.

Por volta de 31 semanas fiz uma eco e o bebê estava pequeno (percentil 25). Meu novo obstetra disse que não era pra me preocupar, mas pediu que ficasse em repouso. Na semana seguinte, nova eco e percentil 25 de novo. Pediu uma eco com doppler uma semana depois. Estava eu e meu marido. O médico colocou sua mão na minha e falou: "Mãezinha, vai ter que nascer hoje. Está centralizado. Tu nem sai do hospital". Não preciso dizer que meu mundo caiu! Estava com 33 semanas de gestação. Meu obstetra não estava na cidade e o filho dele veio fazer o meu parto (este que fez o parto do Matheus e que disse que não aconteceria de novo!). Ele me disse que não dava tempo de fazer a injeção de corticóides para fortalecer os pulmões e que havia risco. Nunca tremi tanto na vida!

No dia 14/02/2011 nasceu o Thiago. Também não pude vê-lo. Não ouvi seu choro. Apenas pedi ao pediatra que me falasse, seja o que fosse, logo. Não queria ficar na angústia de notícias. Meia hora depois ele me falou que ele nasceu com parada cardíaca e respiratória, tiveram que reanimá-lo, e que os próximos 3 dias dependeriam dele. Chorei , chorei, rezei, rezei. No outro dia pela manhã fui conhecer o meu bebê: lindo, igual ao mano, só mais magrinho: nasceu com 1780g e 41,5cm. Foram dias difíceis. Retornar a uma UTI, ver meu filho tão cheio de fios, ouvir todos aqueles apitos novamente.

Bom, não vou detalhar os dias de UTI, mas a eco cerebral foi normal (a médica me falou que ele nasceu no último momento que podia. Mais uma hora e ele nasceria morto!), eco cardíaca bem também, ele não teve intercorrências, ficou 12 dias entre tubo e CPAP e um total de 38 dias na UTI. Não foi fácil administrar a rotina desgastante de uma UTI e o Matheus com 3 anos e meio, que também precisava muito da mãe.

Aprendi muito neste período, fiz amizades pra vida inteira com as outras mães da UTI (nos encontramos até hoje com os nossos guerreiros, um grupo de 10 mães), aprendi a ter mais fé e vi a força que tenho e que ele tem. O Thiago quer viver!!!

As consultas seguintes do Thiago fiz com um pediatra renomado que só me tranquilizava: ele não ganha peso porque é prematuro, ele não senta ainda porque é prematuro, ele é magrinho porque tu e teu marido são magrinhos também. Assim foi, o Thiago tinha quase 1 ano e ainda não sentava! Desde os 4 meses teve bronquiolites de repetição que este ano viraram pneumonias de repetição. Por minha conta comecei a ir na fisioterapia. Ele fazia motora e muitas, muitas respiratórias. Um dia a fisioterapeuta me disse: "o que me preocupa nele não é o atraso motor, é a magreza! Ele precisa de uma nutricionista!". Fui e ela ficou apavorada. O Thiago era hipotônico e desnutrido! Me senti o ó! Indicou suplementos, tirei dinheiro de onde não tinha, mas o resultado foi maravilhoso! Em um mês eu já tinha outro bebê. A partir dali fui em pneumologista, neurologista, alergologista, gastroenterologista, cardiologista e claro, troquei de pediatra. Não uma , mas várias vezes!

Muitos especialistas me disseram que eu deveria ter ido antes. Isso me doía e me dói.

Mas os problemas respiratórios persistiram. Fiz exame de refluxo e fibrose cística. Tudo negativo. Aí ele era intolerante a lactose. Aí não era a lactose, era a proteína do leite. Nem os médicos se entendiam. É estranho, mas os médicos daqui não trabalham em equipe. Não se falam. A nutricionista (que é nosso anjo) disse que nossa cidade ficou pequena para o Thiago e nos mandou para Porto Alegre. Consultamos lá e a pediatra achou o Thiago bem neurologicamente, com atraso motor, asmático, pulmão sensível por causa da prematuridade, bla,bla,bla.  Neste meio tempo internou 4 vezes (três por problemas respiratórios!).

Faz um mês, troquei novamente de pediatra. Este me pediu um deglutograma (nunca ouvi falar disso). Fiz o exame e a fonoaudióloga me confirmou que ele tem disfagia (aspira quando se alimenta). Está aí a causa de tanto chiado, tanta secreção, tanta pneumonia.
Faz duas semanas que começamos a terapia com a fono. É lento, é trabalhoso, mas tem solução. Fiquei muito triste por um lado, pois onde está o conhecimento dos nossos médicos? Por que ninguém me pediu este exame? Fizeram do meu filho um rato de laboratório com tantas experiências e 'achômetros' e não pediram justo este!!! Mas claro que fiquei feliz pois sei a causa de tantos problemas.

Hoje o Thiago está com 1ano e 8 meses, senta, engatinha e já dá alguns passinhos sozinho. A sua marca é o seu sorriso. Ele está sempre feliz! Fala algumas palavras, se faz entender e  entende tudo.

Sou uma pessoa melhor por causa dos meus filhos. Tem dias que me sinto desgastada. Trabalho fora o dia inteiro, corro que nem uma louca, tento encaixar os horários em médicos para não prejudicar o trabalho (meus chefes são extremamente compreensivos e humanos), mas ver o amor que os  meus dois meninos sentem um pelo outro, me motiva e me dá forças.

Muitos me perguntam como eu consigo... Não sei. Não tenho opção. Lutarei sempre pelos meus filhos, sem medir esforços.

Li uma frase e é ela que me sustenta:  "Tem dias que Deus caminha ao meu lado... Eu sei.... Tem outros que Ele me carrega no colo... Eu sinto!". A minha fé e o meu amor são a minha força.

Ter um filho prematuro é uma lição de vida. Só quem passou por isso sabe. Não adianta dizer "eu imagino". Não imagina! Mas nós, mães de prematuros, somos especiais. Fomos escolhidas porque somos diferentes, somos super mães!

Esta é a minha história, que ainda vai ter muitos capítulos - mas daqui pra frente só de alegrias.

Meu conselho para as mães prematuras é que procurem todos os especialistas para os seus filhos, e procurem logo. Tenham sempre muita fé em Deus. Rezem muito e tenham força para superar as dificuldades. Os dias bons chegarão, com certeza!

Olha a foto dos meus dois presentes de Deus. Lindos não?


Vanessa, mãe do Matheus e do Thiago.


Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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