13 de Agosto de 2013

Arthur: o valente de 27 semanas

“Sou Tayane Rios e me tornei mãe prematura aos 24 anos de idade. Minha gravidez foi planejada, em setembro de 2011, interrompi o uso do anticoncepcional para realizar o sonho de uma vida: ser mãe! Foram meses de espera, até que enfim, no dia 01/08/2012, descobri que nosso sonhado baby estava a caminho, estava grávida de apenas 3 semanas. Foi descoberto tão rápido, por causa de cólicas fortes que não evoluíram. Durante os 3 primeiros meses, fiz repouso e uso de progesterona. Começamos os planos de nomes, o quarto, o chá de bebê, começávamos a nos preparar para a chegada do nosso primeiro filho.

As consultas eram regulares, os ultrassons sempre tudo bem, os conselhos de minha obstetra eram seguidos à risca. Demoramos em descobrir o sexo, ele era tímido (rsrs)... Então, dia 12/12/2012, descobri que era nosso lindo Arthur que estava a caminho, estávamos radiantes. Não sentia nada de diferente, nenhum sintoma... nada! Os planos seguiam, tinha planejado minha licença para a segunda quinzena de março, já que o Arthur nasceria até dia 10 de abril. O chá de bebê nos aguardava para fevereiro, o book para o final de Janeiro. Ainda não tínhamos começado o enxoval, apenas pintado o quarto, estava tudo planejado para começarmos na segunda quinzena de janeiro, quando as festas de final de ano já tivessem acabado.

Tudo encaminhava perfeitamente até que, no dia 06/01/2013, depois do culto, fomos para a casa de um casal de amigos. Estávamos sentados na frente da casa tomando tererê, quando senti uma vontade imensa de fazer xixi. Até senti algo saindo e me levantei, antes que eu chegasse à porta da sala, minha bolsa rompeu, era muita água e eu comecei a gritar ‘minha bolsa estourou’, começava ali nosso dilema. Uma correria, minha obstetra estava de férias e em viagem, fomos para a maternidade principal da cidade, eu estava perdendo muito líquido, mais ainda não tinha contrações. Minha cabeça pensava mil coisas, só pedia para o meu marido não deixar acontecer nada com nosso bebê.

A maternidade não quis me atender, já que eu estava de 27 semanas de gestação e eles não tinham vaga na UTI Neonatal. Encaminharam-me, então, para a Santa Casa, lá me internaram, mas também não havia vaga na UTI Neonatal. Fui medicada com corticóide, estava com 7cm de dilatação, mas ainda não tinha contrações. Por não haver vaga na UTI, eles começaram a preparação para minha transferência para outro hospital onde havia vaga, vaga essa preparada por Deus, já que a médica que me atendeu na Santa Casa chegou a dizer para minha acompanhante que o Arthur era ‘um caso perdido’. Porém, dessa vez, teria que ir de SAMU, já que o risco do Arthur nascer era grande. Por volta da 00h30min, o SAMU chegou e então fui transferida para o Hospital Regional. Um médico super atencioso me recepcionou, passei a madrugada inteira numa angústia sem fim, só pedia a Deus para guardar a vida do meu filho. Cheguei a dizer que trocaria minha vida pela dele.

As contrações começavam a ficar cada vez mais fortes, minha mãe me fazia companhia na sala de parto quando, por volta das 6h da manhã do dia 07/01/2013, as contrações já quase não tinham mais intervalos. O médico chegou e pediu que minha mãe saísse porque ele estava nascendo, eu só pedia força para Deus. Depois de muita força, as 06h37min o médico disse ‘nasceu...’. Eu meio tonta, ouvi o choro dele bem baixinho e logo se calou, não me deixaram ver meu filho. Arthur nasceu de 27 semanas, com 38cm e 1,150Kg. Eu estava bem, meu parto foi normal e não tive complicações. Fui para o pós-operatório, me sentia sozinha e aflita por não ter meu bebê comigo.

Às 14h eu subi para o quarto. É um sentimento de solidão, saber que o seu bebê não está mais protegido na sua barriga e não poder estar com ele nos braços, amamentar, cuidar. No fim da tarde, quando meu marido chegou, fui ver meu pequeno pela primeira vez. Lembro que, quando levantei o pano que cobria a incubadora, a primeira coisa que eu disse foi: ‘ele é muito pequeno’. Chorei e chorei...

Subi novamente para o quarto, minha mãe passou a noite comigo, eu acordava chorando no meio da noite por não estar perto do meu filho. Depois de 48h recebi alta, meu sonho de sair com ele nos braços da maternidade se desfazia em meio às lagrimas. Fui vê-lo antes de ir embora, saí do hospital e fui em silêncio, apenas chorava o caminho todo, meu coração estava em pedaços. Nunca imaginei que teria um filho prematuro e que me ‘separaria’ dele tão cedo.

Na primeira semana eu ia visitá-lo de manhã e de tarde. Quando me recuperei do parto, eu ia de manhã por volta das 7h30min e só saia do hospital à noite. Passava o dia todo sentada próximo da incubadora, ia para casa só para dormir. O hospital que ficamos faz o método mãe canguru, então, logo pude pegar meu pequeno príncipe no colo. Acreditem, esse método ajuda muito na recuperação deles. Era tão pequeno que, com apenas uma mão, cobria todo seu corpinho. Muitas coisas aconteceram, ele fazia muitas apnéias, teve que fazer fototerapia, teve infecção neonatal, mas ele, forte como é, venceu tudo isso. Graças a Deus, ele não precisou de ventilação mecânica, mas foi dependente de oxigênio por muito tempo.

As orações de todos me ajudavam a ter força e dar força para o Arthur, por diversas vezes chegava à incubadora e pedia desculpa para ele, até que entendi que nem nós e nem ninguém tem culpa de partos prematuros. As coisas acontecem conforme a permissão de Deus. Depois de 35 dias na UTI Neonatal, ele recebeu alta para ir para o berçário, foi alegria total. Cheguei em casa correndo para pegar minhas coisas, pois podia ficar no hospital com ele dia e noite. Antes de tudo, me ajoelhei no quartinho dele com meu marido, que já estava prontinho esperando ele, ali oramos a Deus agradecendo e chorei muito, dessa vez de alegria. No berçário ele já estava bem, respirava completamente sozinho e só nos restava aprender a mamar para ir embora, meu leite estava secando. Então fomos surpreendidos por uns abscessos, que saíram nos dois punhos, devido às punções. Era um processo infeccioso na pele.

Ele teve que voltar para os antibióticos e teve edema generalizado, levando a voltar à dependência de oxigênio. Foram 20 dias naquela angústia, o vendo sofrer de dor nos punhos e com um acesso central no pescoço, aquilo me cortava o coração. Quando já estava tudo bem, os médicos solicitaram que ele fizesse uma ressonância magnética para descartar uma possível ostiomelite. Teve que pegar outro acesso central, dessa vez na subclávia, pois ele precisaria ficar em jejum e teria que tomar soro, e não poderia ser acesso periférico. Ele estava muito nervoso porque estava em jejum e foi preciso dar calmante para ele para pegar a subclávia. Logo depois foi sedado para fazer a RM. Resultado: teve uma recaída e teve que ser entubado. Estávamos em uma clínica sem recurso nenhum e precisávamos voltar para o hospital com urgência, mas, na ambulância também não tinha recursos. 

Foi o pior dia de todos, ele estava sobre a mesa, sem cor nos lábios, molinho, e o médico bombeando oxigênio. Eu coloquei a mão nele e comecei a pedir para Deus ajudar meu filho a respirar sozinho de novo. Pedi para ele respirar e devagar ele foi voltando. Quando ele deu uma estabilizada, então tiraram o tubo e chegamos ao hospital. Era 17h e ele teve que voltar para a UTI, pois ainda estava dependendo de O2. Por volta das 20h, ele enfim acordou e chorou, voltamos para o berçário, porém ele passou a noite no O2. No outro dia de manhã, já respirava sozinho, nem parecia que tinha passado tudo aquilo no dia anterior. Depois de uma semana, saiu o laudo da RM e, graças a Deus, não foi constatado nada. Tirou o acesso e então, no dia 20/03/2013, depois de 73 dias internado, recebemos alta.

Era o dia mais feliz da minha vida, saí do hospital radiante. Ele saiu do hospital com 41cm e pesando 2,695Kg. Hoje, dia 28/05/2013, Arthur está ótimo, é um bebê muito esperto, meu milagre está com 5,550Kg, crescendo e nos enchendo de alegria a cada dia. Graças ao meu bom Deus, que capacitou aquela equipe de profissionais (médicos, enfermeiros, técnicos e fisioterapeutas) que cuidou dele e soprou seu fôlego de vida em seus pulmões, hoje tenho ele nos meus braços e me derreto a cada sorriso que ele me abre. Arthur é um milagre de Deus!”


Tayane, mãe do Arthur

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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