06 de Junho de 2013
A vitória do guerreiro Cauã
“Olá, meu nome é Márcia e essa é a história do meu grande guerreiro: Cauã.
Sempre tive o sonho de ser mãe e, em fevereiro de 2012, resolvi procurar minha médica para começar um tratamento para engravidar. Então em meio a exames me descobri grávida de poucas semanas. Foi uma imensa alegria, tanto pra mim quanto para meu esposo, eu estava grávida de um menino: Cauã.
Minha gravidez foi toda conturbada, enjoos, vômitos, hemorragia ocular, inchaço e muitas dores. No dia 31 de agosto, com apenas 27 semanas, comecei a sentir fortes dores nas costas e na parte debaixo da barriga. Foram inúmeras idas e vindas a clínicas, era medicada e tudo voltava a se acalmar. Estava sendo medicada, fazia drenagem linfática, quiropraxia, mas nada estava adiantando.
Em 14 de setembro retornei à clínica no Pronto Socorro com fortes dores, fui medicada e, para minha sorte, minha médica estava lá. Conversei com ela, que constatou a subida repentina da minha pressão, me orientando a ir para uma maternidade, já com uma carta de recomendação solicitando minha internação. Fui para a maternidade e o baque: meu fígado e meus rins estavam entrando em falência. Ficamos desesperados, mas procurei me acalmar e rezei muito. Tive Síndrome de Hellp e pré-eclâmpsia. Foi um milagre eu ter sobrevivido, pois meus órgãos estavam parando e meus exames estavam muito alterados.
Ali começava a luta pela vida. Fui informada de que precisaria interromper minha gestação de apenas 29 semanas e 6 dias e de que precisaria de UTI, tanto para mim quanto para meu bebê, mas para mim não foi preciso. Devido a problemas com o plano de saúde, precisei ser transferida para uma outra maternidade. No dia 15 de setembro de 2012, às 9h03min, o Cauã nasceu com 1,060Kg e medindo apenas 37 centímetros. Foi muito emocionante ver aquele rostinho lindo e ouvir o seu choro, sem palavras. Nesse dia nasciam também um pai e uma mãe de UTI e vim a conhecer o que era dor, o que era sofrimento.
Meu filho foi imediatamente para a UTI Neo e eu só pude vê-lo novamente no outro dia final da tarde. Quando o vi naquela incubadora, ligado a um monte de aparelhos, aquele monte de apitos, senti uma sensação muito estranha. Era um misto de felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Felicidade por ter meu sonho realizado, por ser mãe, e principalmente por ele estar vivo; e tristeza pela situação. Ver meu filho pela primeira vez tão pequeninho, todo entubado e magrelinho, não foi como imaginei que ele seria. Mas achei meu bebê o mais lindo do mundo. Senti uma alegria imensa ao ver que ele estava vivo, todo ligado em aparelhos mas estava vivo, e não importava as dificuldades que ainda poderiam vir, pois a confiança de que o Cauã já era o nosso maior guerreiro era maior que tudo.
Eu ficava neurótica com cada queda de saturação, aqueles apitos, alarmes, aqueles ruídos me deixavam louca. Eu não sabia o que iria acontecer. No começo foi bem difícil para eu aceitar tudo. Só chorava, me cobrava muito o tempo todo e me questionava: por quê? Por que comigo? Será que ele vai sobreviver? Era um dia de cada vez. Fiquei o tempo todo no hospital com meu filho e meu marido ia todos os dias nos visitar. A família e os amigos foram muito importantes nesse momento de muita superação e sofrimento. Meu bebê chegou a pesar 955 gramas e a cada grama que ela aumentava comemorávamos como se fosse uma vitória – e era sim uma grande vitória.
Depois de 25 dias pude pegar meu filho nos braços, uma sensação inexplicável. Nessa fase do tratamento, ele já estava tomando leite materno, em torno de 3 ml. Nunca demos tanto valor a gramas e ml em nossas vidas. Uma infecção fez com que ele fosse entubado novamente e voltou à dieta zero. Foram longos dias de tratamento. Saía dos tubos, voltava pros tubos, mas nunca perdemos a fé e sua melhora estava sendo vista. A primeira chuquinha, o primeiro banho, a primeira roupinha… tudo era comemorado.
Estava planejando tudo, o chá de bebê, o enfeite da porta, as lembrancinhas, as roupinhas que iria levar para a maternidade... mas descobri, da pior maneira possível, que pouco importa esses caprichos quando a vida do seu filho está por um triz. O vazio de não ter meu filho nos braços era muito doído, derruba qualquer fortaleza. Foi uma luta constante pela vida. Foram 64 longos dias na UTI Neonatal, seguidos por exames, picadas, entubação, procedimentos, muitas transfusões sanguíneas, sofrimento e uma vitória digna de comemoração diária.
No dia 18 de novembro de 2012 fomos agraciados com a notícia mais esperada por todos nós: a alta hospitalar. Ele saiu pesando 2,180kg. Foi um período difícil, mas de muito aprendizado, luta e boas amizades que fizemos com outras mãezinhas e pais de UTI. Agora é a vez do papai e da mamãe cuidarem do seu bebê em casa, dar continuidade ao trabalho que foi feito no hospital para o melhor crescimento do nosso guerreiro. Apesar de tudo que passou, ele sempre nos dava muita, muita, muita força. Muitas vezes estávamos cansados e ele abria um sorriso para nós, querendo dizer: mamãe e papai, não desistam de mim, eu estou aqui! E isso nos dava uma força incondicional para lutar por ele e com ele!
Eu sei que devo esse milagre a Deus, que deixou ele ficar comigo. Também devo a toda a equipe médica e de enfermeiras, que cuidaram dele e foram iluminadas por Deus para agir de forma certa em seu tratamento. Hoje meu pequeno esta com 5 meses e pesando 5,375 kg. Ilumina a casa inteira com seu sorriso espontâneo e lindo. Não desistam de seus filhos, enquanto há vida, há esperança.”
Márcia, mãe do Cauã