25 de Janeiro de 2013
A luta de José Eduardo e Maria Cecília (in memoriam)
Luta, fé, vontade de viver... essa é a história dos gêmeos José Eduardo e Maria Cecília. Obrigada, Sandra Mara, mais uma vez pelo carinho e pelo relato. Que o pequeno continue trazendo muitas alegrias às vidas de vocês, para ao menos amenizar a saudade deixada pela mana. Um beijo!
"Quando engravidei, ficamos muito felizes, pois já estávamos planejando. Surpresa maior foi quando descobrimos que eram gêmeos, um casal, sonho de toda mulher, José Eduardo e Maria Cecília.
Minha gestação estava tranquila, exames ótimos, os bebês super bem. Mas quando estava com 25 semanas e cinco dias, a bolsa na qual estava o José Eduardo rompeu. Fui para a maternidade e fiquei internada. O médico disse que só sairia de lá depois do parto, e que tentaríamos segurar os bebês pelo menos até 34 semanas.
Passei a noite seguinte da internação em trabalho de parto. Tomei injeções de corticosteroide para estimular os pulmões a produzirem surfactante e medicamentos para inibir o parto. A tentativa solucionou a situação em parte, pois não senti mais dores. Porém, o trabalho de parto continuou.
Não senti dores no dia seguinte, mas tive muito sono. Não consegui urinar do início da noite da internação até às 23 horas da noite seguinte. Então chamamos a médica, que me examinou, e só identificou os batimentos cardíacos da Maria Cecília. Nada do José Eduardo. Comecei a me preocupar. Então a médica fez o exame de toque e disse: “Estás com dilatação total. O bebê está saindo, vamos para sala de parto urgente.”
Começou o nervosismo maior. Os bebês nasceram de cesariana com 26 semanas e um dia. Nossa, era tudo novo: o parto foi prematuro e não tínhamos conhecimento de nada. Foi muito estranho. Não vi meus bebês, só perguntei se estavam bem e me responderam que sim. E agora, como fica?
[caption id="attachment_4669" align="aligncenter" width="644" caption="Maria Cecília e José Eduardo, respectivamente, ao nascimento."][/caption]
Somente pude vê-los na tarde seguinte. Cheguei à UTI e levei aquele susto ao ver bebês muito pequenos, cheios de tubos. Lembro que olhei para um bebê e pensei: “Nossa, que pequeno! Será que os meus são assim?” Sim, era a Maria Cecília. Fiquei emocionada. E, ao lado, estava o José Eduardo. Eram pequenos, porém lindos.
Aí começaram as perguntas e os esclarecimentos. O José Eduardo nasceu com 695 gr. e 31 centímetros. Maria Cecília, com 735 gr. e 32centímetros.
Infelizmente, aos seis dias Maria Cecília faleceu em razão de várias complicações: hemorragias pulmonares, prematuridade extrema e baixo peso. Os médicos já haviam alertado que o bebê que nasce à força, como no caso dela em que tiveram de romper a bolsa para retirá-la, sempre sofre mais. Foram várias as complicações e, por fim, o faleceu. E, caso não tivesse falecido, ela ficaria com sequelas.
O pequeno José Eduardo continuou internado e lutou durante 119 dias – aproximadamente quatro meses. Ficou 41 dias entubado, 13 dias no CPAP, 17 dias no Halo (Tenda O2), 21 dias no cateter nasal, até que pode respirar sozinho.
Durantes a internação, ele teve várias intercorrências, como icterícia neonatal, hemorragia pulmonar, doença da membrana hialina, hiperglicemias, persistência do canal arterial, infecção por Staphylococcus coagulase negativo, infecção por Enterobacter cloacae, infecção por citomegalovírus, retinopatia da prematuridade, hérnia inguinal bilateral e fez reposição de cálcio e fósforo.
Sofreu 16 transfusões de sangue, passou por seis cirurgias – uma no coração aos 28 dias (para o fechamento do canal arterial), quatro nos olhos, devido à retinopatia da prematuridade (das quais duas a laser e as outras duas para colocada e retirada de uma faixa de silicone no olho direito para impedir o descolamento de retina).
A cirurgia era necessária, mas a retina continuou descolando e não houve solução. Ele ficou sem visão naquele olho. Passou também por uma cirurgia de hérnia inguinal (esta realizada após a alta, decorridas 50 semanas de idade corrigida).
Passei os 119 dias de internação indo e vindo, ordenhando o leite materno para ele ser alimentado através de sonda. Todos os dias era uma expectativa e uma vitória com ganho de peso, aumento na quantidade consumida de leite – sinal de que estava aceitando bem.
Foi uma sensação maravilhosa quando pude dar o primeiro colinho aos 40 dias de vida de meu filho. E a primeira mamada em meu seio aos 78 dias.
Foi maravilhoso quando ele foi para o cateter nasal (presente do meu aniversário), pois desse dia em diante poderíamos pegá-lo todos os dias. E quando saiu da incubadora, após 81 dias, e pudemos colocar a primeira roupinha, que era de prematuro e, ainda assim, ficava enorme.
Era uma felicidade quando chegávamos à UTI e havia mudado o tipo de aparelho que auxiliava na respiração. Até que um dia ele estava respirando sozinho. Meu guerreiro. Então foi só esperar pelo ganho do peso ideal, aproximadamente 2.720 gr. e podemos, finalmente, receber alta.
Hoje ele está com um ano e cinco meses de vida e, apesar de toda a luta, é uma criança perfeita, linda e carinhosa. Não ficou com sequelas graves, a não ser a perda da visão. Mas ele tem VIDA que Deus lhe deu.
Obrigada pela oportunidade de contar a nossa história. Quero também parabenizar pelo site, ele é ótimo. Se tivesse conhecido antes, o sofrimento teria sido amenizado.
Quero aproveitar para agradecer e elogiar mais uma vez a equipe médica da Clínica Santa Helena, em Florianópolis, SC, pelo trabalho de amor dedicado ao José Eduardo, a Maria Cecília e a todas as crianças que lá estavam no período de 19 de maio a 14 de setembro de 2011.
Beijos,
Sandra Mara, mãe do José Eduardo e Maria Cecília (in memoriam).