![](static/images/stories-page-entry-detail.png)
![](static/images/bulma/1by1.png)
11 de Dezembro de 2013
A luta das guerreirinhas Bia e Manu
“Em outubro de 2012, após meses me achando enorme de gorda, com uma barriga que não me pertencia e louca para entrar em uma academia, por insistência do marido, resolvi fazer o teste de gravidez de farmácia e, para nossa surpresa, deu positivo! Sempre fui totalmente desregulada e, como eu tinha ovário policístico, não imaginaria ter filhos sem fazer um tratamento. Fui correndo ao hospital, fiz o Beta e realmente estava gravidíssima, beta super elevado. Quando fui ao ginecologista, eu já estava com 13 semanas e eram gêmeos! Levamos um super susto, mas amamos. Realizei o meu sonho de infância e adolescente em ter filhos gêmeos! Comecei a fazer o pré-natal certinho, morfológico, acompanhando os ultrassons e tudo certo comigo e com os bebês. Com 16 semanas, descobrimos que eram duas meninas. Quanta alegria, é o sonho de qualquer mãe entrar no mundo cor de rosa! Escolhemos os nomes, Beatriz e Manuela, e começamos a arrumar o quarto, enxoval, etc.
No dia 5 de Janeiro, eu tinha o morfológico marcado de 22 semanas e levei meus pais para assistirem e verem as netinhas lindas na barriga. Foi quando a mulher do ultrassom me disse que o colo do meu útero estava super curto (1,5cm), tive incompetência istmo-cervical, que é quando o colo do útero não aguenta o peso do bebê, e pediu para ligar para o meu médico na hora. Foi quando ele pediu que eu fosse internada com urgência. Meu mundo desabou! Internada eu? Como assim? O que estava acontecendo? Vou perder minhas filhas? Só chorava, chorava e chorava.
No mesmo dia, fomos para o Hospital Santa Joana e me internei. Fiquei em repouso absoluto, com as pernas para cima, pois, a qualquer momento, as meninas poderiam nascer e não tinham ainda idade para sobreviver fora do útero da mãe. Fiquei sem levantar da cama para nada. Fazia as necessidades na comadre, tomava banho na cama e, devido a esta posição, tudo que eu comia não fazia a digestão e eu acabava vomitando.
Bom, aí que vem a lição de vida, modéstia a parte: eu tinha computador e Ipad, trabalhava, comprava livros na internet para ler (na época, estava lendo “50 tons de cinza, 50 tons mais escuros”), arrumava coisas do quarto das meninas que ainda faltava pela internet, recebi todo enxoval delas no quarto do hospital para ver as roupinhas, comprei saquinhos para colocar as roupas das bebês no hospital e a minha mãe fazia a minha unha e me depilava. Aos sábados, os meus pais e o meu marido pediam pizza à noite para comemorarmos mais uma semana que consegui segurar as bebês. As visitas tomavam whisky e cerveja. O meu pai me deu até um suporte de notebook, onde eu apoiava na cama (mesmo de ponta cabeça), já que eu não podia sentar. Simplesmente adaptei a minha rotina.
Eu não sabia o que ia acontecer. Ficava ali deitada, assistindo todos os programas da Globo (todos mesmo, porque impossível dormir no hospital com tantos medicamentos). Durante o dia, revezavam entre a minha mãe e a Deise para me fazer companhia, e todas as noites o meu marido dormia comigo. Ele ficou do meu lado o tempo todo, me ajudando, apoiando, ouvindo os meus ataques de choro.
Eu estava com 24 semanas quando tomei 2 doses de corticóide para amadurecer os pulmões das bebês. Com 25 semanas de gestação, no dia 27 de janeiro, comecei a sangrar demais e me levaram para o centro cirúrgico, onde eu e o André entramos em desespero, pois eu estava perdendo muito sangue e não sabíamos o que poderia acontecer. Foi quando chegou o meu médico e disse que tentaria fazer a cerclagem, e caso não conseguisse, as bebês nasceriam. Devido a isso, o André ficou do lado de fora aguardando notícias. Foi quando os médicos comemoraram a cirurgia e “amarraram o meu útero”. Ah! E ainda me contaram que uma bebê era super cabeluda! (A médica teve que empurrar a cabeça da bebê pra dentro).
Passou mais uma semana e, no dia 5 de fevereiro, o André acorda falando que sonhou que as meninas iam nascer. Respondi: “Tá louco? Para de ficar sendo pessimista, temos que segurar até pelo menos 30 semanas.” Nisso o André foi trabalhar, a minha mãe chegou para passar o dia comigo, ficamos olhando as roupinhas do enxoval das meninas... Quando comecei a ter fortes contrações. Ai começou... Chamei a enfermeira, aumentaram a inibina, deram soro, contaram o intervalo das dores, deram mais medicação e as dores só pioraram. Quando o meu médico chegou, fizeram o exame de toque e a notícia veio: “Centro Cirúrgico imediatamente, suas filhas vão nascer!”. Foi tão rápido que tudo aconteceu, que a minha mãe que avisou o André, não deu tempo de ligar para ele.
Quando entrei na sala de cirurgia, eu estava calma, mas, ao mesmo tempo, apreensiva por estar ali sozinha sem ninguém, sem saber se minhas filhas iriam resistir, ou o que poderia acontecer comigo. Enfim, às 13h30min, a Beatriz nasceu de parto normal. Senti as pernas dela baterem nas minhas, mas, como eu já sabia, não chorou e levaram ela direto para a UTI. Dali alguns minutos, me trouxeram a incubadora com ela para eu ver: era tão pequena que só pude ver seu cabelo preto, o corpinho inteiro enrolado naquele alumínio, super pequena, mas era linda, chorei demais ao vê-la. Ela nasceu com 27cm e com 900 g.
Depois, questionaram a possibilidade de manter a Manuela em minha barriga. Isso mesmo, gêmeas que podem nascer em dias separados, assim ela poderia se desenvolver melhor na minha barriga, já que estava tudo bem com ela. Mas aí que vem a surpresa: ela estourou a bolsa e quis vim ao mundo junto com a irmã conhecer seus pais! Também foi direto para a UTI e me mostraram ela pela incubadora. Linda demais, só me restaram lágrimas por saber que tinha dado tudo certo.
Dia da alta da maternidade: alguma mãe imagina sair do hospital sem levar seus filhos? Pois bem, comigo não foi diferente. Eu chorava bastante em ver outros bebês indo embora com seus pais e eu saindo só com meu marido, sem as minhas filhas. Ali começava uma luta pela vida, e nasciam também um pai e uma mãe de UTI.
No mesmo dia a noite, às 21 horas, fui vê-las pela primeira vez. As incubadoras estavam tão aquecidas que escorriam água. Me emocionei tanto! Quando as vi, senti uma sensação tão estranha! Era um misto de felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Felicidade por elas estarem vivas e por ser mãe, e tristeza por elas estarem cheias de aparelhos. Eu não sabia o que iria acontecer a partir daquele momento. Após isso, os médicos vieram e nos explicaram tudo. Disseram que elas estavam bem e, a partir de agora, tudo dependia delas. A Bia estava entubada, e diversos aparelhos em volta dela, enquanto a Manuela estava apenas no CPAP. Eu não sabia o que era nada daquilo, não entendia nada e estava totalmente perdida. No começo foi bem difícil para eu aceitar tudo. Eu só chorava, me cobrava muito o tempo todo e me perguntava: por quê? Por quê comigo? Após 4 dias de soro e elas lá, firmes e resistentes, chegou a hora da prova do leite. Elas começaram a tomar 1 ml pela manhã, por sonda. E tudo ocorreu bem.
Bia e Manuela faziam inúmeras apneias, o que nos deixavam muito assustados, pois, neste momento, corriam a médica, as enfermeiras e a fisioterapeuta para socorrê-las, e não podíamos fazer nada, a não ser ficar olhando e rezando para que nada acontecesse com nossas filhas. A saturação da Beatriz baixava de 90 para 25. Era um desespero, uma sensação ruim, uma agonia, um sentimento de impotência! E uma nova batalha era travada diariamente, a de elas resistirem a toda luta pela vida: com respiradores, medicamentos, exames, retirada de sangue, alimentação por sonda, apneias, aspirar para tirar secreção,
anemias, onde a Bia teve que fazer transfusões de sangue 2 vezes, entre outras coisas que as minhas princesas passaram e, muitas, mais de uma vez.
A Beatriz teve retinopatia da prematuridade grau 3 e a notícia que tínhamos é que poderia ter que fazer cirurgia. A Manuela teve o canal do coração aberto, e também teria que fechar sozinho, caso contrário, teria que enfrentar uma cirurgia. Mas, graças a Deus, ambas ficaram ótimas sem precisar de qualquer procedimento cirúrgico. Eu me pegava chorando, pois, mais um dia, tiravam sangue delas e seus bracinhos já estavam roxos, elas nem choravam com a picada. Conviver com filhos na UTI é conviver com medo 24 horas por dia. É ter medo da perda, da piora, do futuro incerto, do presente difícil e da capacidade de acreditar.
Elas começaram a ganhar peso, aprenderam a tomar leite na mamadeira e foi com muita luta, com dias bons e dias ruins, de altos e baixos que, no dia 27 de abril de 2013, a Manuela recebeu alta e, quinze dias depois, a minha felicidade ficou completa, pois recebia em casa a Beatriz. Hoje, as minhas princesas estão cada dia mais lindas!
Só tenho que agradecer a Deus por atender todas as nossas orações, a toda a minha família e amigos que me apoiaram o tempo inteiro e estavam sempre ao meu lado. Ao meu marido, obrigada por lutar comigo até o final, chorar e sorrir juntos! Agradeço muito ao meu herói, o meu médico, Dr. Marcelo e a Dra. Helena, que iam me ver todos os dias sempre com verdades, amor e incentivo. Agradeço também toda a equipe do Hospital Santa Joana que foram extremamente competentes, profissionais e amorosas tornando o meu sonho realidade.
Obrigada, principalmente, a vocês, minhas filhas, por terem nos escolhido como mãe e pai e por terem sido guerreiras e lutarem tanto para estarem ao nosso lado hoje. Me orgulho de vocês! Vocês são vencedoras!
Deixo aqui a minha história de vitória, minha história de vida.
Enquanto houver vontade de lutar, sempre haverá esperança de vencer.”
Tatiane, mãe da Beatriz e da Manuela
Leia mais histórias de bebês prematuros.