![](static/images/stories-page-entry-detail.png)
![](static/images/bulma/1by1.png)
31 de Outubro de 2013
A história da cativante Julia
“Sempre sonhei em ser mãe, mas queria que isso acontecesse de uma forma planejada, quando eu acreditasse já estar pronta para me tornar mãe. Quando esse esperado momento chegou, eu logo engravidei. Foi uma alegria imensurável. Porém, com 8 semanas de gestação, descobri que meu bebê não havia evoluído, e, por isso, não havia batimentos cardíacos. Tive que me submeter ao procedimento chamado Aspiração Manual Intra Uterina (AMIU), que é semelhante a uma curetagem. Foi a perda de um sonho, uma tristeza sem tamanho.
Mas, como Deus sempre reserva surpresas para a gente, dois meses depois eu descobri que estava grávida novamente! Toda aquela tristeza havia ido embora e só tinha lugar para alegria e sonhos no meu coração. Com 6 semanas, ocorreu um descolamento ovular muito grande e quase perdemos novamente nosso bebê. Foram mais um mês e meio de repouso absoluto e ultrassons em série, até que esse problema se resolveu. Descobrimos, então, que essa guerreirinha era uma menina e que se chamaria Julia.
A vida foi voltando ao normal aos poucos. A barriga foi crescendo e comecei a pensar no enxoval e no quartinho. Com 22 semanas de gestação, num USG de rotina, foi detectado que eu tinha uma insuficiência placentária, ou seja, a minha placenta não enviava oxigênio de forma adequada para a Julia crescer. Novamente fiquei de repouso e passei a tomar diariamente injeções de heparina na barriga para melhorar o quadro. Nesse momento, soube que havia uma chance da Julia nascer prematura. A minha fé era muito maior e eu tinha certeza que com as injeções tudo voltaria ao normal, no entanto, isso não aconteceu.
Com 27 semanas, a insuficiência não só se mantinha, como havia se agravado e fui informada que a Julia poderia nascer de 31-32 semanas de gestação. Essa informação me deixou muito abalada, pois sou médica, especializada em pediatria. Sabia dos riscos que a minha filha corria e do tempo de UTI que eu teria pela frente. Essa angustia me consumia, mas uma "voz" me dizia que tudo daria certo, e, por isso, achava que ela nasceria de 34 ou 36 semanas.
Sai de SC, minha cidade, para ir a São Paulo em busca de um serviço com mais recursos. Quando completei 29 semanas, tive um descolamento de placenta importante. Com isso, fui informada que o parto teria que ser realizado naquele momento, pois nós duas corríamos risco de vida. Assim, no dia 07 de maio de 2013, às 19 horas, nasceu a Julia, com 29 semanas de gestação, pesando apenas 860 gramas. Ouvir seu chorinho foi o momento mais importante da minha vida. Uma emoção que eu não consigo transmitir. Nesse momento eu soube que ela estava viva, mas, logo em seguida quando fui informada do peso, eu senti o maior medo da minha vida: o medo de perder a Julia! As próximas horas foram de completo desespero. Eu me perguntava o tempo todo ‘porque isso estava acontecendo comigo, o que Deus reservava pra mim? O que eu tinha que fazer com meu coração? Eu deveria acreditar que tudo daria certo ou ir me conformando pro pior?’. Ninguém conseguia me dar essas respostas e eu só conseguia chorar.
Tive muito medo do que podia acontecer com minha filha. As médicas da UTI sempre me colocaram a par de tudo e sempre foram bastante realistas. A Julia tinha bastante chance de sobrevivência, mas eu tinha que estar preparada, pois esse percurso seria longo e conturbado. Vê-la na UTI, tão pequena, tão frágil, me deixava com uma sensação de impotência tão grande. Não podia fazer nada mais por ela a não ser rezar. Me dei o direito de viver esse momento sozinha com meu marido e com a minha mãe. Não conseguia e nem queria falar com ninguém. Só queria ficar com a minha filha, rezar por ela e tirar meu leite para que ela pudesse receber. E foi isso que eu fiz. Foram 61 dias de UTI e eu passei todos ao lado dela. Chegava de manhã ao hospital e só ia para casa da minha tia (onde fiquei hospedada) a noite. Dormia cedo pro dia acabar logo e poder voltar ao hospital pra ficar com ela novamente.
Graças a Deus, a Julia foi uma prematura com evolução super favorável e foi extubada cedo. Teve sepse precoce e enterocolite, mas respondeu aos antibióticos e logo passou a ser alimentada. Foi ganhando peso a cada dia. Todos os exames que realizava vinham normais. Não precisou de nenhuma cirurgia, cardíaca ou ocular, por exemplo, que são comuns em prematuros desse tempo e tamanho. No dia 07 de julho de 2013, a Julia recebeu alta, pesando 2,120 kg. Foi o dia mais feliz da minha vida! Finalmente eu poderia levar minha filha pra casa e poder apresentá-la aos meus pais e irmãos.
Seguimos todas as orientações da pediatra da UTI sobre a restrição de contato, além de não sair muito de casa e os cuidados com a alimentação. Dediquei 9 meses meus todinhos para ela. Eu a estimulava muito com cores e sons e fazia exercício para sustentar o pescoço. Hoje, com 1 ano e 3 meses, a minha filha é 100% saudável. Já tem desenvolvimento normal pra idade. Não teve retinopatia da prematuridade, nem problema auditivo. Ela só tem problema para ganhar peso, mas isso não me preocupa mais. Ela é uma guerreira que ultrapassou barreiras enormes para um serzinho tão pequeno. Tem muita vontade de viver e é extremamente alegre! Ela é apaixonante e é a alegria e o amor da minha vida!”
Fernanda, mãe da Julia
Leia mais histórias de bebês prematuros.