23 de Janeiro de 2014

A chegada do Rei Davi

“Com 30 anos, parei de tomar anticoncepcional, pois decidi que seria mãe. Passei quatro anos tentando e, finalmente, em abril de 2012, engravidei. Fiquei muito feliz, já fazia mil planos, mas, infelizmente, perdi o bebê. Fiquei arrasada, quase entrei em depre. A minha ginecologista da época pediu que eu aguardasse no mínimo três meses para recomeçar as tentativas.

Pois bem, em 11 novembro de 2012, uma voz soprou em meu ouvido a mais esperada frase: “Você está grávida!!!”. Desta vez, fiquei na minha, não contei nem pro meu marido. Os enjoos foram aparecendo, tonturas, todos os sintomas, até que tomei coragem e fiz o Beta em 28 de novembro e meu positivo estava lá.

Após três meses, passei muito mal e fui parar no PS. Por sorte, era a minha GO que estava de plantão. Fiz mil exames e constatei a hipertensão gestacional. Fiquei desesperada, chorei muito, pois não podia perder o meu bebê tão sonhado e planejado. Ela tentou me tranquilizar, em vão, e pediu para eu comparecer no seu consultório no dia seguinte para poder me explicar tudo como seria dali para frente. Comecei a tomar remédio, santo Aldomet e ela me explicou tudo, falou dos riscos e de como seria a minha vida dali para frente. Nesse mesmo período, descobri o sexo do bebê: o meu Rei Davi estava a caminho.

Quando cheguei ao sexto mês de gestação, tudo correndo dentro do esperado, soube que uma moça havia perdido o seu bebê, que, por acaso, teria o mesmo nome que o meu, por conta da eclâmpsia. Entrei em desespero e pedi para ser afastada do trabalho. A partir daí, eu fiquei em repouso absoluto e cortei sal e açúcar das refeições. Se fiz algo direito na minha vida, foi cuidar da minha saúde durante a gestação.

Ao entrar no sétimo mês, percebemos que o meu Rei não estava ganhando peso, nem altura como deveria. Isso já seria um sintoma de pré-eclâmpsia. Passei a fazer ultrassons semanais para controlar mais de perto. Completei 35 semanas, ou seja, oito meses, no dia 23 de junho. No dia 26, fiz uma ultra e percebemos que de uma semana para outra o meu Rei não havia ganho nada nem de peso e nem de altura. Liguei para a GO que disse para eu ir ao consultório para conversar com ela. A essa altura, eu já estava desesperada, não dormia mais. No dia 27, fui lá e ela me disse: “Calma, vamos repetir a ultra com um especialista amanhã e veremos o que acontecerá. Observe os movimentos do Davi, ele precisa mexer pelo menos a cada seis horas”. Ele mexia até mais que isso, sempre foi ativo , mas eu estava em pânico.

Sem dormir desde quarta, acordei na sexta-feira, dia 28 de junho, e fui refazer a ultra. Chegando lá, às 9h, o médico disse: “Realmente, o seu bebê estacionou, não vejo chances dele desenvolver mais dentro de você, o ideal é adiantar o parto. Converse com sua GO agora mesmo”. Saí de lá e fui direto para o consultório dela, que, ao ver o exame, disse: “Carol, vamos adiantar o seu parto”. E eu, já em prantos, perguntei: “Para quando, doutora?”, e ela respondeu: “Para agora! Vou preparar o centro cirúrgico e, já lhe adianto, ele vai direto para a UTI”. Comecei a chorar, entrei em pânico e pensei: “Fui para fazer uma ultra e o meu bebê vai nascer?”. A sensação foi de medo, perda, desespero, culpa... Tudo passou pela minha cabeça e eu só soube rezar e pedir a Deus para cuidar do meu anjo, do meu Rei tão amado e esperado.

Então, às 11h33min, o meu Rei nasceu, com 1,845 kg e 39 cm. Ouvir o seu choro foi maravilhoso. A equipe da UTI já estava lá ao meu lado para levá-lo, mas a GO disse: “Ele nasceu bem, deixa a mãe vê-lo antes de levá- lo”. Quando o Davi veio para mim e vi aquele rostinho lindo, desabei a chorar. Foi o momento mais lindo da minha vida. Segundos depois, o pegaram de mim, colocaram em um bercinho, não era incubadora, e o levaram. O meu mundo caiu, parecia um filme de terror.

O meu marido foi acompanhá-lo e eu fiquei no pós-parto, em pânico. Às 14h30min, desci para o quarto e o meu marido não estava lá. Liguei para ele e ele estava na UTI com o nosso bebê. Pedi para ir até lá, mas não me deixaram. O meu marido deixou o Davi e foi ao meu encontro. Ele havia tirado fotos e, quando eu vi, quase morri do coração com o meu bebê todo cheio de fios e intubado. Mas, como Deus é maior e o Davi muito esperto, ele já não usava mais o CPAP. Ele ficou apenas uma hora com ele, pois o arrancou duas vezes, e quando foram colocar pela terceira, ele se virava e mexia tanto que os médicos disseram para deixar sem e ver a sua evolução. Graças a Deus, ele não precisou colocar de volta.

O Davi nasceu perfeito, sem doença nenhuma, apenas pequeno e ficaria lá até atingir pelo menos 2 quilos. Perguntei aos médicos o quanto isso demoraria e me responderam: “Só ele sabe, tudo depende dele, do seu desenvolvimento”. Só pude ver o meu Rei quase meia noite, que era o prazo para passar o tempo de repouso. Quando entrei na UTI, quase desmaiei. Chorei por quase duas horas seguidas, até que uma enfermeira veio até mim, conversou bastante comigo e, daquele momento em diante, eu não sai mais de lá. Para o meu desespero, no dia seguinte, o pesaram e ele estava com 1,690 kg. Foi horrivel, pois, ao invés dele ganhar, estava perdendo, mas me explicaram que era normal. Ele teve icterícia e ficou 5 dias no banho de luz. Ele estava em um berço normal, cheio de fios, com os olhos tampados. Eu o olhava, tão lindo e indefeso. Só chorava, me culpava muito, afinal, ele não cresceu porque eu fui uma gestante hipertensa.


O pior dia foi o da minha alta. Como ir embora e deixar o meu bebê lá? Foi horrível, saí de lá arrastada pelo meu marido, aos gritos, pois não queria vir para casa. Cheguei aqui, fiquei meia hora e voltei para lá, não conseguia ficar longe do meu bebê. Foi assim até o sexto dia de seu nascimento, quando passei muito mal, quase desmaiei, e o médico da UTI me disse que eu precisava cuidar de mim e me mandou ir para casa. Peguei o Davi no colo, pedi perdão, e disse: “Meu amor, você é minha vida, mamãe precisa ir embora por você, para ficar bem e poder cuidar de você direitinho”. Foi horrível, mas eu já não aguentava mais, não conseguia parar em pé. Vim com o coração na boca, tomei banho, comi e desmaiei. Coloquei o relógio para despertar às 4h da manhã, pois às 6h era hora da mamada e eu queria estar lá para amamentá-lo. E assim foram 14 dias, grama por grama. Chegava lá por volta de seis da manhã e vinha embora às 22h. Sempre com o coração na mão, pois não queria vir, mas, infelizmente, era necessário.

Até que, no dia 11 de julho, a chefe da UTI disse: “Prepare-se, pois provavelmente amanhã o Davi vai para casa”. E na sexta-feira, dia 12 de julho, finalmente pude trazer meu filho para seu lar. Foram dias horríveis. Pegá-lo para vestir a sua primeira roupinha e vir pra casa foi a melhor coisa que nos aconteceu desde seu nascimento. Frequentamos a pediatra semanalmente durante dois meses, até que ela disse: “O Davi de prematuro não tem mais nada!”. Com dois meses, o meu filho já estava na curva normal, como se tivesse nascido a termo e, com 4 meses e meio, pesa sete quilos e tem 64 cm. Agora está com quase 7 meses. O meu filho é um guerreiro vencedor, me orgulho muito do Meu Rei e o amo incondicionalmente.” 


Carolina, mãe do Davi

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