03 de Setembro de 2011
Histórias Reais: eternamente Letícia
A dor da perda de um filho é irreparável. Só a fé em alguém ou algo, só o estar rodeada de amor, só a força interior que o ser humano consegue tirar lá do dedão do pé quando necessário... só isso... para tornar mais amena a dor e a saudade de um filho que se foi.
Elaine, querida mãe da Letícia: essa linda definição de FILHO, de José Saramago, reforça a certeza de que um dia todos nos reencontramos em algum lugar. Obrigada pela história, fica com Deus.
"Filho é um Ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos, para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo!!!
Ser Pai ou Mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder Como? Não é nosso, recorda-se!? Foi apenas um empréstimo!!!"
"Meu nome é Elaine Aparecida dos Santos e gostaria de contar minha história, que na verdade é um desabafo.
Como toda mulher eu sonhava em ser mãe e fiz tratamento durante 3 anos para engravidar. Fiz diversos exames e tomei vários remédios, até que um deles fez efeito e pude engravidar.
Foi um dia maravilhoso, nem acreditei cheguei a achar que o exame não era meu e fui confirmar com o teste de farmácia. Toda a minha família e a do meu marido ficaram felizes, pois mais do que ninguém sabiam do meu sofrimento para conseguir engravidar.
No primeiro morfológico o médico falou que era um menino (Hugo seria seu nome), mas no segundo foi confirmado que era uma menina. Chorei tanto pois no fundo queria mesmo uma menininha, minha Letícia.
Minha gravidez foi super tranquila, nem enjoos eu tive, mas quando completei 7 meses tive pré-eclampsia, minha pressão chegou a 21 x 12 e tive que ser internada.
No hospital tomei diversos remédios para controlar a pressão, mas não teve jeito e tive que fazer uma cesariana para tentar salvar minha filha fora da barriga, ela já estava em sofrimento fetal e estava perdendo peso.
Minha pequena nasceu com 875 gr com 32 cm. Escutei seu chorinho quando ela nasceu, fiquei muito feliz que iria conhecer minha filha e ao mesmo tempo com medo e assustada, pois a médica havia me falado que ela iria nascer muito pequena e bem abaixo do peso.
Quando vi seu rostinho tão pequeno, quase não acreditei, não imaginava que ela seria tão pequenina e tão frágil. Seu corpinho era tão pequeno mas era tão perfeito, era linda. Agradecia tanto a Deus por ter me dado ela de presente, ela era tudo que sempre sonhei, linda.
Foi então que começou minha jornada na UTI Neonatal. Não tive repouso, pois acordava e ia para a maternidade ficar com a minha princesa e saia de lá somente de noite.
Quando ela nasceu foi entubada, pois não conseguia respirar sozinha. A todo momento tiravam sangue dela para fazer exames, eu não aguentava e saía da sala, não conseguia vê-la sofrendo. Aquilo acabava comigo, chorava o tempo todo. As enfermeiras viviam brigando comigo dizendo que não estava passando para ela energias boas e que ela sentia quando eu estava triste, então procurava segurar a tristeza de ver minha filha sofrendo.
Um dia cheguei e vi uma médica e 2 enfermeiras em volta da incubadora e já fiquei desesperada achando que tinha acontecido alguma coisa grave e então pude chorar de alegria, pois estavam tirando ela do tubo, minha pequena estava respirando sozinha, que alegria.
Fiquei mais feliz quando pude pela primeira vez pegar ela no colo.... só de lembrar eu choro....
Coloquei ela por dentro da minha blusa e pude sentir seu corpinho e conversar com a minha filha, nesse dia contei pra ela que seu quartinho já estava quase pronto e logo logo ela estaria em casa, pois ela só estava ali para ganhar peso, ela já estava com 1100g, e só estava com a sondinha para tomar o leite, não corria mais riscos...
No dia seguinte fui comprar todas as coisas que estavam faltando em seu enxoval e só pude vê-la a noite. Quando cheguei tomei o maior susto... minha filha estava cheia de acessos e tomando vários medicamentos, comecei a chorar e o médico me explicou que ela estava com uma infecção, o chão se abriu e não entendi, como que de um dia para o outro ela ficou tão ruim.
No outro dia os médicos me tranquilizaram dizendo que os remédios iriam conter essa infecção, mas não foi o que aconteceu. Minha filha foi entubada novamente e a cada dia que passava ela estava com a barriguinha mais inchada, foi quando os médicos descobriram que ela estava com uma enterocolite necrosante (infecção que mata parte do intestino).
Foi quando o médico conversou comigo e explicou que a infecção era muito grave e que suas plaquetas estavam muito baixas e teria que tomar sangue.
Minha filha foi piorando cada minuto que passava e sua saturação começou a cair, não aguentei ver as enfermeiras com balão de oxigênio, tentando salvar minha filha, e eu ali olhando, chorando sem poder fazer nada... foi que nesse momento pensei que somente Deus poderia salvar a minha filha e saí correndo com meu marido, precisava de alguma forma tentar fazer alguma coisa, e foi na primeira igreja que encontrei que eu entrei.
Quando coloquei o pé dentro da igreja me derramei em lágrimas e em conversa com Deus, pedi que tirasse minha filha daquele sofrimento, e estava entregando ela em suas mãos, pois nem os médicos estavam conseguindo curá-la, que ela não merecia passar por tudo aquilo.
Fui embora e dormi com o celular no travesseiro imaginando que a qualquer momento ele poderia tocar e dar a notícia que tanto temia.
O celular não tocou e logo cedinho fui ao hospital. Quando entrei na sala onde ela ficava, fiquei aliviada de vê-la dentro da incubadora, mas ela estava com o corpinho todo roxo e quando fui fazer carinho nela como de costume, percebi que minha filha estava durinha e imóvel,
chamei a médica em desespero, foi quando ouvi com essas palavras: "Aproveita mãe os últimos minutos da sua filha"... (essas palavras não me saem da cabeça)...minha filha já estava morta lá dentro e eu cheguei no momento que iriam tirá-la. Foi o pior dia da minha vida.
Pedi que tirassem ela de lá de dentro para eu me despedir dela, ela ainda estava com o corpinho quente, devido o aquecimento da incubadora, mas aos poucos nos meus braços ela foi ficando geladinha, então pude beijá-la, abraçá-la, tudo que não pude fazer em vida, fiz o que a médica me recomendou, mas em vão, pois ela já estava com o papai do céu.
Pude conviver com a minha pequena durante 37 dias. Ela realizou o meu maior sonho, me ensinou a ser mãe, hoje sei o que é o amor incondicional. Passei o dia das mães ao seu lado. Ela foi o meu presente. Esses dias que passei ao seu lado se tornaram inesquecíveis, jamais vou me esquecer da minha Letícia. O amor que sinto por vc nem mesmo a morte apagará...te amo eternamente."
Elaine, mãe da Letícia.