Gestantes com os tipos 16 e 18 do papilomavírus humano (HPV) podem ter até quatro vezes mais risco de parto prematuro, de acordo com estudo publicado nesta quarta-feira (15) pela Universidade de Montréal, Canadá. A equipe coletou dados de 899 grávidas com idades entre 19 e 47, acompanhadas durante toda a gestação por profissionais de três hospitais canadenses entre 2010 e 2016.
Os pesquisadores analisaram se as mulheres tinham HPV e qual era o tipo, e compararam as informações com as datas de parto do grupo, dando atenção especial aos prematuros, classificados como os que ocorreram entre 20 e 37 semanas após a concepção. A gravidez dura, em média, 40 semanas, cerca de nove meses.
Das participantes, 378 (42%) apresentaram HPV em amostras vaginais colhidas durante o primeiro trimestre de gestação. A maioria dessas mulheres (68%) ainda apresentava a infecção nos testes realizados no terceiro trimestre. No total, 55 mulheres deram à luz prematuramente – em média, na 36ª semana - 38 delas entraram em trabalho de parto naturalmente e 17 passaram por indução médica por causa de condições que colocavam em risco a saúde de mãe e/ou bebê.
No estudo, as mulheres infectadas pelos tipos 16 e 18 de HPV durante o primeiro trimestre tiveram 2,6 vezes mais probabilidade de dar à luz prematuramente. Aquelas que ainda apresentavam a infecção por esse tipo do vírus no terceiro trimestre tiveram 3,7 vezes mais probabilidade de dar à luz antes do tempo. Os pesquisadores não encontraram relação entre os outros tipos de HPV e o parto prematuro.
“Mesmo em uma população considerada de baixo risco com base nas características sociodemográficas e de história sexual, a infecção por HPV é frequente na gravidez, e a maioria das infecções por HPV detectadas no primeiro trimestre persiste até o terceiro trimestre”, dissera, em nota, os autores do estudo.
Os especialistas da Universidade de Montreal não identificaram a razão pela qual o HPV aumenta o risco de parto prematuro, mas sugerem que o vírus pode causar alterações no microbioma vaginal, o que pode desencadear inflamação e levar ao parto prematuro. O HPV, assim como outros vírus que se instalam nos genitais, também pode deixar as mulheres mais suscetíveis a infecções bacterianas na região, o que pode desencadear o trabalho de parto prematuro.
Estudos anteriores sobre o assunto não haviam comprovado a relação entre o vírus e o parto prematuro, mas, segundo os pesquisadores, muitos deles não levaram em consideração o tipo de HPV. “Ainda são necessárias mais pesquisas sobre o tema, mas nossas evidências mostram uma relação significativa entre os tipos 16 e 18 de HPV e partos que ocorrem antes do previsto”, afirmaram os pesquisadores.
HPV
Existem mais de 150 tipos de papilomavírus humano (HPV). Eles são altamente transmissíveis, geralmente através de contato entre regiões genitais. Infecções pelo HPV são frequentes e na maioria das vezes não causam nenhum sintoma ou prejuízo, regredindo naturalmente. Em um pequeno número de casos, porém, a infecção persiste e pode causar o aparecimento de verrugas benignas na região genital ou lesões no colo no útero, que podem evoluir para câncer. Os tipos 16 e 18 de HPV estão presentes em 70% dos casos de câncer de útero. Já os HPV 6 e 11 são responsáveis por 90% das verrugas genitais benignas, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O uso de camisinha ajuda a prevenir a infecção pelo HPV, mas como ela não cobre 100% da região genital, há o risco de contágio mesmo quando ela é utilizada. A única forma de realmente se proteger contra os tipos do vírus que causam verrugas e lesões é através da vacinação. No Brasil, a vacina quadrivalente – contra os tipos 6, 11, 16 e 18 – está disponível gratuitamente na rede pública para meninas entre 9 e 14 anos e meninos de 11 a 14. Não existe cura para HPV.
Fonte: Crescer