11 de Julho de 2013
Gabriel Luíz: nosso querido bagunceiro
“Meu nome é Jane Érica e sou mãe do pequeno Gabriel Luíz. Aos vinte anos e após cinco meses de tentativas para engravidar, descobri que estava grávida! No começo tudo parecia normal, uma gravidez como as outras. Com o tempo, percebi que não seria tão normal, pois começaram as ameaças de aborto. Tive uma com 8 semanas e outra com 17 semanas, foi quando precisei de repouso absoluto.
Seguia corretamente as recomendações e o pré-natal. Na minha última visita ao obstetra, falei que estava com umas dores embaixo da barriga, no lado direito. Ele bateu no meu ombro e disse: ‘não se preocupe, mamãe, é só o Gabriel mexendo, ele está atravessado e deve estar com o cotovelo na sua barriga’. Fui para casa com aquilo na cabeça. Meu sexto sentido dizia que não era só um cotovelo. As dores persistiram o dia todo, bem fracas, porém o suficiente para preocupar.
Com o passar do dia as dores começaram a aumentar. Às 22h30min pedi ao meu marido que me levasse ao hospital, pois não estava mais agüentando. Chegando lá, a médica me disse que meu neném nasceria a qualquer momento, eu já estava em trabalho de parto, com três centímetros de dilatação. Fiquei sem reação, pois estava com apenas 23 semanas. Permaneci internada por mais dez dias, não podendo nem mais ir ao banheiro. Meus banhos eram de dois minutos e a enfermeira ficava comigo, apurando para não demorar.
Lembro que uma médica chegou perto de mim e disse ‘essa que é a mãe que está esperando um parto prematuro, é impossível uma criança de 24 semanas sobreviver, ele não deve pesar nem meio quilo, é um feto’. Aquelas palavras seriam fatais para qualquer mortal. Entrei em estado de choque e liguei para minha mãe desesperada. Ela estava em São Paulo, pegou o primeiro vôo e no outro dia estava aqui. Me mantive confiante em Deus o tempo todo, firme e forte que aquelas palavras não eram importantes, porque Deus é bom e eu iria provar que ela estava errada. Meu filho seria um vitorioso.
Então, às 2h30min da manhã do dia 18 de setembro de 2007, o grande amor da minha vida nasceu, pesando 580 gramas e medindo 29 cm, com um chorinho lindo e fraquinho, mas que para mim era choro de um guerreiro que nascia para brilhar. Logo em seguida as enfermeiras já faziam os preparativos para levá-lo para a UTI Neonatal. A médica não conseguia entubá-lo, pois suas perninhas não paravam quietas. Tiveram que chamar a enfermeira da UTI para ajudá-la a entubar. Desde cedo mostrava que vinha ao mundo para dar trabalho.
Na UTI ele era o bebê mais bagunceiro, mesmo sedado não parava um segundo! Isso era ruim pois assim não ganhava muito peso. Gabriel se tornou a criança mais querida e comentada do hospital, pois aqui na minha região é o menor bebê a sobreviver com esse peso. Fico feliz e tenho só a agradecer às enfermeiras, técnicas e médicos que cuidaram dele pelos cem dias que permaneceu na UTI.
No dia 2 de janeiro de 2008, Gabriel recebeu alta com 1,800 kg. Foi o dia mais feliz de nossas vidas! No momento da alta, a doutora conversou conosco para que o levássemos com urgência ao oftalmologista, por causa da possibilidade de retinopatia da prematuridade, que pode levar à cegueira. Aquilo nos preocupou. Seguimos a recomendação e o oftalmo disse para não nos preocuparmos pois ele enxergava muito bem. Confiamos em seu diagnóstico e ficamos tranqüilos. Com o passar do tempo, percebemos que ele não nos olhava, não ria, não seguia. Achamos estranho, mesmo ele sendo um bebê, ele devia seguir os movimentos e sorrir aos seis meses. Resolvemos levá-lo a outro médico para um parecer final, então descobrimos que ele tinha descolado a retina, a temida retinopatia da prematuridade.
Meu mundo desabou, chorei o dia inteiro. Como eu conseguiria cuidar de uma criança assim? Na minha cabeça, naquele momento, não aceitava. Mas eu tinha que ter forças para seguir em frente, pois ele dependeria de mim para tudo dali para frente e para a vida toda. Levamos Gabriel para Goiânia e São Paulo, mas permaneci em Goiânia para o tratamento. A cirurgia teria só dois por cento de chances de sucesso e o pós-cirúrgico seria muito complicado. Preferimos não arriscar por tão baixas chances. Gabriel enxerga somente claridade. O médico não consegue entender o porquê de ele ainda enxergar claridade, já que sua retina está toda descolada. É um milagre! Foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado de Deus!
Gabriel hoje tem 5 anos, é uma criança super tranqüila, carinhosa, meiga, inteligente demais! Cativa a todos à sua volta! Às vezes nem percebem sua deficiência visual. Ele é minha vida e meu tudo. Vai para a escolinha normalmente, está aprendendo o braille, usa bengala e é um guerreiro! Esta é a história do meu pequeno guerreiro Gabriel Luíz Ottoni.”
Jane, mãe do Gabriel