Mais do que um simples carinho, o toque humano faz diferença no desenvolvimento dos bebês. Um estudo da Universidade de Vanderbilt (EUA) concluiu que os prematuros, que perderam as experiências sensoriais da etapa final da gestação, respondem de uma forma diferente ao toque na comparação com bebês que nasceram a termo, ou seja, no tempo previsto.
Os pesquisadores analisaram 125 bebês, entre prematuros, com idade gestacional de 24 a 36 semanas e nascidos a termo, entre 38 e 42 semanas. Pouco antes de serem dispensados do hospital, os bebês eram submetidos ao contato com uma rede macia de 128 eletrodos, que registrava como seus cérebros respondiam a um sopro suave do ar na pele — e os prematuros apresentavam respostas cerebrais mais reduzidas a este estímulo.
O resultado reflete o modo como os bebês foram acostumados com o contato físico: os que nasceram a termo tiveram mais tempo com os pais e funcionários do hospital do que os prematuros, que passaram um longo período na unidade de tratamento intensivo neonatal.
— O cérebro tem um prazo para formar suas células, determinado geneticamente — explica a neuropediatra Liubiana Arantes Regazzoni, presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria. — As conexões cerebrais se formam a partir do nascimento do bebê. Esta rede neuronal vai se desenvolver de acordo com os estímulos do cérebro, como o carinho, o afeto e o toque. Então, se ele nasce e já tem o aconchego do colo e vai para a casa dos pais, terá maior possibilidade de desenvolver outras habilidades, como a memorização, a socialização e a linguagem.
PROCEDIMENTOS INVASIVOS
Os prematuros, no entanto, nascem quando o cérebro ainda está imaturo e sob o risco de perder neurônios. Desta forma, estão sujeitos a estímulos negativos e invasivos, como a entubação e o isolamento em uma incubadora.
— Os circuitos sensoriais associados ao toque têm o desenvolvimento prejudicado — conta Liubiana. — Sua percepção do ambiente e interação com outras pessoas é prejudicada.
Liubiana destaca o aumento da popularidade de um método baseado no contato pele a pele entre mãe e filho, o “cuidado canguru”, que também tem sido associado ao ganho de peso e à regulação da frequência cardíaca dos bebês.
A pediatra Patricia Tosta Hernandez, do Fleury Medicina e Saúde, concorda que, quanto menor é a quantidade de toques, maior é a probabilidade de os bebês prematuros desenvolverem suas potencialidades com atraso:
— O bebê prematuro perde o período de engorda, onde há o desenvolvimento de órgãos e sistemas. Esta imaturidade deve ser compensada pela incubadora, onde todos os processos, como os movimentos respiratórios, são mais controlados. Enquanto o bebê nascido a termo já tem a satisfação do toque constante com os pais, o outro ainda luta contra sequelas.
Um levantamento recente descobriu que mais de 25% dos bebês nascidos antes de 27 semanas de gestação desenvolvem autismo, em comparação com 1% dos bebês nascidos a termo. Por isso, a pediatra Nathalie Maitre, autora da nova pesquisa, acredita que os pais devem tomar providências para evitar o isolamento dos filhos prematuros.
— O toque realmente parece fazer diferença — ressalta Nathalie, que publicou seu estudo na revista “Current Biology”. — Isso é extremamente encorajador, porque, se você é pai de um bebê na unidade de tratamento neonatal, muitas vezes se sente fora de controle. É importante saber como está fazendo diferença a cada vez que toca em seu filho.
Fonte da notícia: Extra (notícia original publicada em 17/03/17)
(Foto: Divulgação)