Depois de exatos 546 dias, a menina Dorothy finalmente foi para casa com os pais. Desde que nasceu, prematura e com má formação no tórax, ela vivia na UTI do Hospital Santo Antônio da Criança, em Porto Alegre. O dia 14 de agosto, última segunda-feira, foi de emoção para enfermeiras, médicas e familiares.
"Para nós é muito gratificante poder ver a evolução dela, a parte do desenvolvimento motor dela, o quanto a gente conseguiu ganhar mesmo com as limitações de espaço da cama, do espaço de UTI. É maravilhoso para a gente saber que contribuiu para isso", diz a fisioterapeuta Larissa Ramos Roxo, que completa: "Agora é hora de voar sozinha".
A má formação no tórax de Dorothy impede o crescimento dos pulmões. Por isso, ela precisa de respirador durante 24 horas por dia. Desde que a UTI do hospital foi inaugurada, em 2015, nunca um paciente havia ficado tanto tempo internado.
"É um vínculo inexplicável que tu cria, mesmo querendo ou não", comenta a técnica em enfermagem Jéssica Pereira Silveira. "Eu tenho como filha (...) Tudo o que eu faço é com muito carinho, muito amor mesmo. É a nossa princesa, a filha de todas nós aqui dentro", acrescenta a colega Diane Orrigo.
Em dezembro do ano passado, a reportagem da RBS TV mostrou a luta da família de Dorothy. Os pais Rochard e Cristina entraram na Justiça para que o plano de saúde montasse uma estrutura de atendimento na casa da família. A decisão favorável demorou a sair. Eles até criaram uma vaquinha online e fizeram rifa para comprar um gerador.
"A gente criou várias expectativas, e não dava certo. Acabava frustrando", lembra a mãe de Dorothy. "Quando a gente chegou aqui e viu o respirador dela, foi como se tivesse caído a ficha. É real, agora nós vamos para casa", comemora.
Depois de tanto tempo, chegou a hora de Dorothy se despedir da nova família que ela formou no hospital. "Para nós, esse momento está sendo muito importante, porque nós sonhamos muito com a família, a gente queria muito que a Dorothy fosse para casa. Embora a gente ame ela, esse momento está sendo muito especial", diz a enfermeira Evelize Maciel de Moraes.
De acordo com a médica pediatra neonatologista Ana Beatriz Wasniewski, a menina sai em condições clínicas de crescer e se desenvolver em casa, junto da família, em Cachoeirinha, Região Metropolitana de Porto Alegre.
"É o que a gente mais quer, apesar de a gente ter virado a família dela também nesse tempo de internação. Acho que para o desenvolvimento dela vai ser primordial", destaca.
No quarto de Dorothy, já em casa, os brinquedos se misturam aos equipamentos de UTI. Em breve, ela ainda voltará ao hospital para novas cirurgias. Mas a vida, ela seguirá no seu cantinho. O pai resume o sentimento:
"O que eu senti quando minha filha estava chegando em casa foi basicamente uma sensação do nascimento dela de novo"
Fonte: G1 (notícia original publicada em 15/08/17)
(Foto: Reprodução/RBS TV)