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07 de Março de 2014
Alice: uma pequena que faz tudo valer a pena
“Aqui no quarto do Hospital, a minha filha dorme tranquila e corada, ao meu lado, ao alcance de minhas mãos. Essa situação, embora soe corriqueira e ordinária, transborda em meu peito como uma conquista extraordinária, um marco de um novo tempo. Ninar, dar mamadeira, acudir as cólicas, trocar fraldas vão compondo uma rotina na qual repousa o meu coração de mãe, depois de tantas angústias vividas.
Nascida em 17 de agosto de 2013, já são mais de 4 meses de internação, desde o nascimento de minha filha, dos quais mais da metade se passou na UTI Neonatal. Foram mais de 60 dias intubada, entre idas e vindas, 5 infecções, sendo duas delas graves septicemias, 7 transfusões de sangue, uma cirurgia de retina, uma hemorragia pulmonar e uma parada cardiorrespiratória que durou 26 minutos. Por conta da gravidade desses fatos, nem adiciono à conta a gripe que ocasionou uma apneia obstrutiva quando tudo já parecia correr sem perigo. A vida da minha filha esteve por um fio.
Um fio que procurei sustentar de toda a maneira que me foi possível. Pelo som da minha voz, que atravessou, em canções e palavras, os vidros da incubadora nas míseras 3 horas que podíamos estar juntas. Pelo toque das minhas mãos, que, por muito tempo, foi capaz de envolver quase completamente o corpo da minha filha. Pelo leite tirado do peito gota a gota, por 3 meses, sob fortes tensão e estresse, mas também por um desejo enorme de contribuir com a saúde da minha pequena (o leite era colocado em potinhos estéreis, depois pasteurizado e passado por sonda). Pelo olhar atento e aflito a toda a aparelhagem que a envolvia, numa vigília sem descanso. Pelas ligações na madrugada para mendigar qualquer informação que pudesse valer uns minutos de sono.
Na contramão do mundo, aprendi a contar o sucesso em pequenas medidas: centímetros, gramas, mililitros. No universo das miudezas, destacou-se a grandiosa vontade de viver da minha filha. Nascida com 900 gramas, 31cm e 29 semanas, ela levou ao cabo da palavra a expressão de que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Transformou em grandes armas as únicas formas de que seus pais dispunham pra lutar com ela e por ela: a coragem, a fé, a perseverança e o amor. E assim nos sentimos humildemente poderosos.
Aprendemos que um bebê prematuro requer um amor maduro. Menos necessidade de urgência e mais certeza da permanência. E esse amor funda propósitos que transformam os pais e suas vidas de maneira definitiva. Por isso, apesar de algum tempo privadas de nossa intimidade, nosso vínculo ganhou contornos de intensidade inimaginável. Pouco a pouco, vamos resgatando o tempo que é só nosso.
O próximo passo é ir para casa com home care, pois ela ainda precisa de um pouco de oxigênio em função da displasia pulmonar, dependência que deve ser superada à medida que ela crescer. Hoje, em 03 de janeiro de 2014, com 5 kg e 54 cm, a minha filha Alice já mostrou que é capaz disso e muito mais. E também me fez capaz de muito mais como sua mãe.
Por tudo isso, sou profundamente grata pela experiência da maternidade exatamente da maneira que se apresentou a mim: um testemunho da capacidade de transformação da vida pela força do amor.”
Mariana, mãe da Alice