06 de Junho de 2014

A intensa batalha de Gabriel e Felipe pela vida

“Olá! Gostaria de contar a história dos meus gêmeos, prematuros extremos de 26 semanas, Gabriel e Felipe. Meus filhos foram planejados. E me surpreenderam vindo ao mundo bem antes.

A minha gravidez estava correndo super normal e tranquila. Mas no dia 01 de março de 2013, quando estava com 26 semanas, comecei a sentir contrações de uma hora para outra. Chegando ao hospital, já estava com dilatação praticamente total. Os médicos tentaram segurar, mas, infelizmente, não teve como. Eu estava com uma infecção e não sabia, foi esse o motivo do parto prematuro.

Gabriel nasceu primeiro com 910 gramas, Apgar 4 e 9. Depois, Felipe veio ao mundo com 960 gramas, Apgar 2 e 9. Nenhum dos dois choraram. E desceram direto para a UTI Neo, já intubados. No mesmo dia, à noite, fui visitá-los na UTI Neo. Chegando lá, me assustei. Tão pequenos e frágeis, cheios de aparelhos... Só nesse momento em que vi eles pela primeira vez que percebi que eles teriam que lutar bravamente para sobreviverem. Fiquei bastante impressionada, mas confiei em Deus, e pedi a ele que fizesse um pequeno milagre a cada dia.

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No outro dia, quando pegamos o boletim médico pela primeira vez, nosso mundo caiu. A pediatra, nos explicou que eles estavam com infecção, que tomaram a primeira dose de surfactante, mas que a resposta não tinha sido boa. E com os dias, as notícias só pioravam. O Gabriel teve hemorragia intracraniana grau 4 e o Felipe grau 1. Eu ficava todos os dias no hospital. Havia dias que eles estavam muito graves. Os médicos falavam com a gente que era para despedir, mas eu nunca me despedi deles, pois sabia que ficaria com eles, que Deus estava olhando por eles. Havia dias intermináveis, com o Felipe saturando o dia todo 60/70%, Gabriel dando apneias.

Foram tempos difíceis. Os pediatras faziam de tudo. Eles chegavam a falar comigo que o plantão deles era inteiro com intercorrências de Felipe e Gabriel. Eles tinham plaquetas baixas, anemia grave, praticamente todos os dias eles recebiam transfusão. Felipe nasceu com o canal arterial do coração aberto, e o mesmo não fechava. E como ele estava com infecção, PCR alto, não podia fazer a cirurgia. E isso estava atrapalhando muito ele.

Eu já não sabia mais o que fazer, coloquei nas mãos de Deus. Ia para casa dormir, mas não conseguia. O cansaço às vezes me vencia e eu adormecia rezando. Deitávamos à noite, em pânico, com medo do telefone tocar. Pedia a Deus, que, independente de como eles ficassem, que eu queria eles comigo. Cada dia que passava, um susto. Lembro de uma das vezes que os médicos disseram que o Felipe não iria sobreviver, e que eu entrei para UTI para vê-lo e quando olhei na incubadora do irmão dele ao lado, Gabriel estava com a mão no peito, parecia que ele sabia que o irmão dele não estava bem.

No dia 30 de março de 2013, os médicos disseram que fariam a cirurgia do canal arterial do Felipe, pois o PCR estava controlando, e era a única chance dele. Eles marcaram a cirurgia para a próxima semana, pois já havia um mês que ele tinha nascido e o canal não havia fechado. Quando imaginávamos que já tinha acontecido de tudo, no dia 02 de abril de 2013, Gabriel teve uma parada cardiorrespiratória, às 11 horas, de 10 minutos, mas, graças a Deus, os médicos conseguiram reanimá-lo. Quando entrei na UTI para vê-lo, ele estava com o peito todo roxo devido a massagem e cheio de eletrodos. Chorei bastante naquele dia. Mas o dia, ainda me reservava mais fortes emoções.

Às 20 horas, Felipe também teve uma parada cardiorrespiratória, no mesmo dia do irmão. Felipe ficou parado por 20 minutos, e, quando os médicos o reanimaram, ele só saturava 20/30%. Os médicos me chamaram para vê-lo e, quando entrei na UTI, ele realmente estava muito grave. E, por fim, começou a abaixar a saturação novamente e parou. Os médicos conseguiram reanimá-lo rapidamente dessa vez, mas ele não conseguia ficar sequer no respirador. Os médicos ficaram ''ambuzando'' ele por cerca de 2 horas, até que, finalmente, ele conseguiu ficar no respirador novamente. Nesse dia interminável, os médicos disseram novamente que ele não resistiria as próximas horas. Mas o meu Deus tem poder de salvar, de fazer milagres, e eu... nunca duvidei disso. Fomos para casa após esse dia interminável, exaustos, tristes, com medo do telefone tocar. Mas, graças a Deus, o telefone não tocou.

No outro dia, os dois estavam mais estáveis dentro do quadro grave. Mas havia uma notícia ótima, mesmo no meio de toda aquele gravidade. No dia seguinte após a parada, fizeram um ecocardiograma, que constatou que, após a parada, ele voltou com o canal arterial fechado. Um milagre! Todos ficaram impressionados, pois haviam auscutado o canal aberto horas antes dele dar a parada.

Gabriel ficou 30 dias intubado, e Felipe não conseguia sair do tubo. Ficava com constantes muito altas de pressão (35/40) e volume de o2, sempre 100%. Transfusões de sangue, perdi a conta de quantas eles fizeram. Praticamente todos os dias o banco de sangue me ligava pedindo doadores, e muitos... Pois os meninos estavam precisando constantemente.

O destino ainda nos reservou fortes emoções. Felipe pegou pneumonia bacteriana e ficou novamente muito grave. E o tempo foi passando e eles resistindo a tudo bravamente. Cada grama que eles engordavam, eu me emocionava. Felipe, tinha o pulmão muito fraco, não estava totalmente formado, de uma hora para outra o pulmão dele ''travava'', não respondia,  e ele começava a ter parada respiratória. Foram tempos difíceis.

Os médicos diziam que eles eram os bebês mais graves da UTI. Eu ficava apavorada com isso. De 20 bebês, os meus eram os mais graves. Havia dias que bebês que estavam bem melhores que eles, e, infelizmente, não resistiam. E os meus filhos lá, lutando. Os horários de visitas sempre nos reservavam alguns sustos. Como, por exemplo, com a gente dentro da UTI e eles caindo saturação demais, os médicos corriam, enfermeiras corriam, tiravam a gente da sala... Os dias pareciam meses, e os meses... pareciam anos! Mas o tempo foi passando...

Gabriel foi se recuperando, a hemorragia absorveu, ele saiu do tubo. Mas Felipe ainda lutava para viver. Ficou intubado por 70 dias. Ele saia do tubo e voltava para o tubo. Até que um dia, ele realmente conseguiu ficar na mascára de VNI. Foi uma emoção enorme para mim. Pude pegar Felipe nos meus braços, pela primeira vez, após mais de 70 dias. Aquele filho, que disseram que não sobreviveria, estava ali no meu colo. O meu herói, que lutou contra todas bactérias, infecções, contra um pulmão que foi obrigado a funcionar, sem que estivesse na hora. Naquele momento em que peguei ele, chorei, chorei... Agradeci a ele por ter sido forte, por querer ficar com a mamãe e batalhar para isso. Todos na UTI se emocionaram nesse dia ao vê-lo sair da incubadora, vestir roupa, ir no meu colo.

Felipe e Gabriel ainda passaram por uma cirurgia de emergência nos olhos para corrigir a retinopatia da prematuridade. Após 92 dias, o meu valente Gabriel teve alta do hospital e foi para casa ficar com o meu marido e a minha mãe, pois eu ainda precisava continuar no hospital. A luta continuava: o Felipe ainda estava na UTI. O tempo foi passando e Felipe passou por mais uma cirurgia para retirada de duas hérnias inguinais. Felipe não conseguia sair do oxigênio, ele ficou com displasia pulmonar. Então, decidimos ir embora para casa de home care, para Felipe poder ficar perto do irmão e do pai. Após 172 de lutas, de batalhas, de fé, de comoção, de esperanças, Felipe teve alta, e a família ficou todo reunida. Felipe ficou mais 120 dias em home care com oxigênio.

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Hoje em dia eles estão com 1 aninho. Gabriel e Felipe estão ótimos, espertos, lindos. Eu e o pai deles, que tanto sonhamos com eles em casa, estamos super felizes! Não há como relembrar e não me emocionar. (choro). Obrigada a equipe médica do Hospital Mater Dei, de Belo Horizonte (MG), que foram fundamentais na recuperação dos meus filhos. Obrigada às mães da UTI Neo, Magna, Jéssica, Lívia, Jussara, Gabriele, Andréa, Rosemeire, Luanda, Andreia, Nívea, Viviane e tantas outras que me ajudaram com um ombro amigo e com palavras de força e fé. Obrigada ao Padre Lázaro, do Hospital Mater Dei, por todas as suas orações e dedicatórias em suas missas, pela recuperação de nossos filhos. Obrigada aos meus pais e irmãos que sofreram, lutaram e rezaram junto com nós. Obrigada meu Deus por ter feito milagres e milagres a cada dia. Por ter nos dado força, e por ter me concedido ser mãe de dois príncipes fortes e guerreiros, que desbravaram uma luta intensa pela vida e venceram. Obrigada, de coração, Meu Deus.

A atual situação dos meus pequenos grandes guerreiros é que estão saudáveis, brincando, sem oxigênio. Fazemos acompanhamento com fisio, T.O. e Fono. E os meninos cada dia nos surpreendem!”

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Barbara, mãe do Gabriel e do Felipe

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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