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15.09.2020

A importância do acompanhamento do prematuro após a alta hospitalar

O acompanhamento do prematuro após a tão aguardada alta também é conhecido pelo termo "follow-up". Os programas de follow-up surgiram nos anos 60 nos Estados Unidos, pela necessidade de diagnóstico precoce de problemas de saúde no prematuro, e assim, garantir uma intervenção o mais cedo possível. Esse acompanhamento é uma estratégia muito eficiente para melhorar a atenção à saúde e, consequentemente, os prognósticos destes bebês.

Para a Dra. Rita C. Silveira, pediatra neonatologista, com Doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente, chefe da UTI Neo e coordenadora do ambulatório de seguimento do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e membro do Conselho Científico da ONG Prematuridade.com, “um nascimento prematuro é a interrupção de um ciclo vital, sendo mais cedo do que o esperado. O apressadinho exige que o pediatra esteja apto a entender, apoiar e acompanhar adequadamente a criança e a sua família. Há diferenças críticas em relação a cada faixa de idade gestacional em termos de problemas futuros, ou seja, quanto maior o grau de prematuridade, maior será a vulnerabilidade e, portanto, maior a necessidade de acompanhamento após a alta para prevenção de doenças e agravos”. Qualquer estratégia preventiva quanto a desfechos associados à prematuridade envolve um programa de acompanhamento após a alta estruturado e capaz de fornecer cuidado integral para a família.

O seguimento ambulatorial necessita de planejamento individualizado, cuidados nutricionais e monitoramento do crescimento, avaliação sistemática do desenvolvimento e estimulação precoce, a ainda, prevenção das principais doenças que causam retorno ao hospital, especialmente infecção respiratória, que é a causa mais frequente de hospitalização dentre os prematuros e impacta não apenas na doença pulmonar na vida adulta, mas também no atraso neurocognitivo resultante do ambiente desfavorável gerado pela hospitalização.

Este acompanhamento deve ser sistematizado, olhando todos os aspectos da criança, especialmente o crescimento e monitorização do desenvolvimento, sendo diferente da puericultura pediátrica. A Dra. Rita salienta que deve existir uma espécie de "gerenciamento das necessidades", de acordo com cada momento da avaliação. E a família tem papel fundamental junto com a equipe de saúde que cuida do prematuro: “A família faz parte do tripé fundamental para beneficiar o crescimento e desenvolvimento saudáveis, ou minimizar as sequelas que possam ocorrer. A equipe do ambulatório, a família e a própria criança, devem ser olhados como um contexto de necessidades harmoniosas e construtivas para beneficiar a criança”, explica a médica.

E, durante a pandemia de Covid-19 (coronavírus), quais são os principais desafios do follow-up? A Dra. Rita confirma que o momento pandêmico é realmente desafiador, com muito estresse entre as famílias e equipes médicas, e relembra: “O prematuro é vulnerável, e como tal tem maior risco para infecções virais, especialmente VSR. Existe a cultura de evitar vacinas por medo de pegar doença, mas isso é prejudicial ao paciente. As imunizações devem ser mantidas de forma sistemática durante a pandemia. As medidas educativas, de orientação que fazemos nas consultas, incluindo tele atendimentos é uma realidade que parece ter chegado como alternativa ao momento de isolamento social necessário. Como o prematuro é imunodeprimido, ele apresenta maior predisposição a infecções em geral, especialmente as infecções respiratórias virais, tanto que é a principal causa de retorno a serviços de emergência e de nova hospitalização de qualquer criança nascida prematuramente. Por essa razão, manter as medidas de prevenção, incluindo a imunização é tão necessária”.

Dra. Rita comenta que falta a cultura de um acompanhamento sistemático, sendo uma das dificuldades deste tipo de acompanhamento ser realizado no Brasil. “Existe uma certa confusão entre a consulta pediátrica de puericultura e o seguimento especializado. Há ainda, nos programas de seguimento estruturados públicos, vinculados a grande centros neonatais, falta de entendimento, por parte de pais e cuidadores da importância de não perder consultas agendadas; mesmo que a criança pareça bem”, reflete ela.

Ao monitorizar o crescimento, desenvolvimento e acompanhar desfechos associados com morbidades frequentes que ocorrem ainda na internação neonatal é possível antecipar estratégias preventivas e garantir qualidade de vida futura. É fundamental o diagnóstico e/ou suspeita diagnóstica precoce de qualquer dificuldade do desenvolvimento para que a estimulação adequada seja planejada. Dra. Rita completa dizendo que “uma das deficiências mais frequentes é a falta de um controle postural adequado durante as atividades motoras o que irá impactar diretamente nas habilidades cognitivas, no comportamento e nas emoções dessa criança. Por esse motivo, o acompanhamento sistemático se torna tão necessário e importante”.

Este texto é autoral e representa exclusivamente a opinião do autor. 
Apoio: Chiesi Farmacêutica

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